
A endometriose é uma doença do foro íntimo da mulher, mas isso não quer dizer que seja um problema que só a noz diz respeito.
É uma doença limitativa que, devido às dores intensas, impossibilita a normal rotina da mulher durante a menstruação, e, em casos mais graves, pode provocar infertilidade. E, contrariamente ao que se diz, se dói, não é normal. Porque a menstruação gera desconforto, mas não é suposto gerar dor.
Enquanto médica ginecologista, conheço de perto a realidade de muitas mulheres que, entre os primeiros sintomas na adolescência, totalmente desvalorizados, até ao diagnóstico certeiro demoraram cerca de 9 anos, quando, mês após mês, a doença já dominava. Mas porquê tanto tempo?
Porque antes, as dores menstruais eram encaradas como “normais”. E como não é uma doença visível, é desvalorizada por quem não as sente.
Hoje, com a informação existente e com os temas a deixarem de ser tabu, a endometriose passou a ser uma doença conhecida e as suas limitações reconhecidas.
Um exemplo desse reconhecimento foi a recente aprovação no Parlamento do regime de faltas justificadas ao trabalho e às aulas para mulheres com endometriose. Uma vitória que comprova que as limitações não são psicológicas e que o impacto desta doença no dia-a-dia é real.
Mas é preciso mais! É necessário colocar o tema na ordem do dia e exigir medidas de diagnóstico e tratamento acessíveis a todas as mulheres, para que todas elas tenham direito a um tratamento adequado e eficaz, que ajude a cumprir o prazo de validade para aquelas que sonham um dia ser mães.
Mas, afinal, o que é a endometriose?
É uma doença inflamatória crónica, que se caracteriza por um crescimento anormal do tecido endometrial fora do útero. É uma doença benigna, crónica, que não tem cura mas tem tratamento.
Dados apontam também para que afete 10% das mulheres em idade reprodutiva e dessa percentagem estima-se que 30 a 50% venha a sofrer algum tipo de infertilidade.
Apesar da consciencialização sobre a doença ter aumentado nos últimos anos, muitas mulheres ainda enfrentam dificuldades e atrasos no diagnóstico (a espera no Serviço Nacional de Saúde é longa), o que atrasa o início do tratamento e compromete a possibilidade de uma gravidez.
Numa altura em que a taxa de natalidade continua a descer e as mulheres têm o primeiro filho cada vez mais tarde, há quem queira ter e não consiga. E é aqui que as possíveis consequências desta doença, e as coisas de mulher, voltam a ser um problema de todos!