
É, provavelmente, uma das alturas mais bonitas da vida da mulher, mas nem sempre de rosa se pinta a ocasião e cada uma vive a sua própria experiência, seja física ou emocional. Quer na gravidez, como no pós-parto, as transformações no corpo são inevitáveis, contudo não têm de ser dolorosas nem para sempre.
Depressão pós-parto, cansaço extremo, irritabilidade, dores lombares, alterações nos genitais, gretas no peito são algumas condições comuns, que, apesar de nem sempre serem bem percecionadas ou compreendidas por quem as rodeia, (que creem que estas estão a viver um sonho) nós, profissionais, sabemos que a recém-mamã enfrenta desafios invisíveis aos olhos de todos os outros.
As alterações do corpo e mente, tantas vezes silenciadas ou desvalorizadas, são uma realidade que afeta milhões de mulheres em todo o mundo, e podem variar entre: alterações de pele, com 50 a 90% das mulheres a ficarem com estrias e cerca de 50% com melasma, distensão dos músculos abdominais, com aproximadamente 60% a desenvolverem diástase, alterações genitais e no pavimento pélvico, com 50% a registarem sintomas de incontinência urinária, e praticamente 100% com alterações no peito e contorno corporal.
Alterações que vão muito além da recuperação imediata do parto e que, devido ao impacto significativo e duradouro que têm na qualidade de vida e no bem-estar das mulheres, já foram amplamente exploradas no livro “Post-Maternity Body Changes”, publicado em outubro de 2023 pela Springer.
Apesar de nem todas as sequelas terem o mesmo nível de gravidade, todas são válidas, merecem atenção e um tratamento informado e personalizado. Estudos demonstram que existem tratamentos e procedimentos que unem a obstetrícia e a cirurgia plástica, que podem ajudar as mulheres a recuperarem o seu bem-estar físico e emocional.
Perante as evidências científicas, é apropriado afirmar que os danos deixados no corpo da mulher, uns mais visíveis que outros, não podem ser encarados apenas como estéticos, mas sim como lesões, que têm consequências reais, que provocam dor lombar, dor crónica, debilidade muscular e complicações posturais, disfunções, cicatrizes e marcas (nomeadamente da cesariana ou episiotomia), dispareunia (dores durante as relações sexuais) ou problemas estéticos, como alterações mamárias, mudanças no peso e na distribuição da gordura, e que, tal como outras doenças, têm tratamento. E ninguém é julgado por as querer tratar ou corrigir.
A par das lesões físicas, as sequelas da gravidez e pós-parto interferem também com a autoconfiança da mulher, que associados à privação do sono, às dores, aos desafios da amamentação, entre tantos outros obstáculos que têm de ser diariamente superados, que podem tornar a experiência mais dolorosa que prazerosa.
Enquanto sociedade, devemos deixar de lado as ideias retrogradas e perceber que a gravidez não é doença, mas as sequelas são.

A ACTIVA de maio já está nas bancas. Poderá ainda obter esta e outras edições em formato digital na loja online da Trust in News.