É uma dúvida de muitos e com alguns mitos associados. A hipnoterapeuta Felicidade Alegria, pós-graduada em Psicologia, Neuropsicologia e membro efetivo da Ordem dos Psicólogos Portugueses, fala à ACTIVA sobre a sua história e como foi a sua evolução até aos dias atuais.
A história da hipnose é tão fascinante quanto antiga. As civilizações antigas (egípcios, gregos, hindus) já utilizavam estados de transe em rituais de cura e práticas espirituais. No Egito utilizavam “templos do sono”, onde os doentes eram levados a estados de transe para curas espirituais. Na Grécia Antiga, o Deus Hipnos personificava o sono – daí a origem da palavra “hipnose”. Os gregos acreditavam que o sono e os sonhos tinham poderes curativos e frequentemente associavam práticas de relaxamento profundo a tratamentos de saúde.
No século XVIII, Franz Mesmer defendia que existia um fluido invisível que ligava todos os seres vivos. Acreditava que o desequilíbrio desse fluido causava doenças, e que podia ser corrigido através de passes magnéticos, uma teoria que acabou por ser desacreditada, mas que abriu caminho ao estudo científico da hipnose.
No século XIX, James Braid, médico escocês, deu um passo crucial ao introduzir o termo “hipnose” (derivado do Deus grego do sono, Hipnos) e começou a estudá-la sob uma perspetiva científica. Posteriormente, figuras como Jean-Martin Charcot e Sigmund Freud exploraram a hipnose na prática clínica, particularmente no tratamento de distúrbios psicológicos. Com o tempo, a hipnose foi evoluindo e ganhando reconhecimento. No século XX, nomes como Milton Erickson revolucionaram a prática, com métodos mais naturais e indiretos, focados na colaboração entre terapeuta e paciente. Nos dias de hoje, a hipnose é amplamente estudada, reconhecida pela comunidade científica e aplicada em áreas tão diversas como a gestão da dor, o tratamento de ansiedades, traumas e dependências.
De um passado envolto em mistério, e olhada com desconfiança pela comunidade médica, precisamente por falta de estudos científicos robustos, a hipnose emergiu como uma poderosa ferramenta terapêutica e um campo de investigação em contínua expansão, sendo reconhecida atualmente por instituições como a Organização Mundial de Saúde, a American Psychological Association, American Medical Association, a Ordem dos Psicólogos Portugueses ou a Ordem dos Médicos Portugueses.
A hipnose é (e não é)
É um fenómeno natural. Estados de transe hipnótico acontecem naturalmente no dia a dia, como quando nos distraímos ao conduzir e chegamos a casa sem nos lembrarmos do percurso. A hipnose clínica aproveita este fenómeno natural de forma intencional e terapêutica. É ainda um estado ampliado de consciência, em que a pessoa está consciente, com concentração focada e relaxamento profundo, ficando a mente mais recetiva a sugestões positivas, o que facilita os processos de autoconhecimento e de cura.
Ao contrário do que muitos pensam, não se perde o controlo nem se fica inconsciente. O paciente está consciente durante todo o processo, simplesmente com a atenção dirigida para o seu interior. Importa distinguir entre hipnose clínica – usada como técnica terapêutica por profissionais de saúde – e hipnose de palco, que tem como objetivo o entretenimento. No contexto terapêutico, a hipnose pode ser um complemento valioso a tratamentos convencionais, promovendo mudanças de comportamento e alívio de sintomas.
Como funciona?
Uma sessão de hipnoterapia deverá acontecer num ambiente tranquilo e confortável em que o hipnoterapeuta guia a pessoa até um estado de relaxamento profundo, ajudando a atingir um estado de transe semelhante ao que sentimos quando estamos prestes a adormecer ou imersos num bom livro. Nesse estado, a mente consciente “abranda”, permitindo o acesso a pensamentos e emoções que, em estado normal, poderiam estar bloqueados. Nesse estado ampliado de consciência é possível trabalhar questões específicas, como mudanças de comportamento, redução da ansiedade, lidar com traumas ou simplesmente reforçar hábitos mais saudáveis. Trata-se de um processo personalizado e bastante seguro, sempre com foco no bem-estar
Aplicações práticas
Cada vez mais estudos comprovam a eficácia da hipnose em várias áreas como a gestão da ansiedade e do stress, insónias e distúrbios do sono, controlo da dor crónica, superação de fobias, cessação tabágica e controlo do peso ou traumas. Muitos pacientes relatam melhorias significativas após algumas sessões – não por magia, mas pela força da sugestão bem orientada.
A hipnose deve ser uma prática exclusiva de profissionais de saúde qualificados, pois envolve técnicas que podem impactar a mente e o bem-estar do paciente. Quando realizada por profissionais capacitados, a hipnose é segura, eficaz e ética, garantido que os benefícios sejam alcançados de forma adequada e sem riscos. Por isso mesmo, deve procurar sempre um especialista qualificado.
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