Imagine que o seu filho lhe entrava em casa e anunciava: ‘Mãe, acabo de chumbar a… felicidade!’ Pois é o que pode acontecer em breve nas escolas inglesas. O projecto-piloto foi iniciativa de uma escola privada, o Wellington College, que começou a ministrar aos alunos noções de meditação, a ensiná-los a lidar com emoções negativas e até a como dar ‘tampa’ a um namorado sem o deixar de rastos. Mas todas as escolas inglesas estão a ser encorajadas a ensinar literacia emocional: ou seja, habituar crianças e jovens a falar sobre as suas emoções e a saber o que fazer com elas. O próprio governo explica que o pouco tempo que as famílias passam hoje em dia com os filhos leva a que eles já não recebam esses ensinamentos em casa. Resultado: cabe à escola, além da literacia ‘clássica’, passar-lhes também literacia emocional. Não faltaram vozes do contra afirmando que ler Shakespeare fazia mais pela inteligência emocional dos jovens do que as ‘filosofias’ que se pretende implantar. E o debate começou.
Literacia… da emoção
Mas, afinal, podemos ensinar alguém a ser feliz? ‘Acho que sim’, afirma a psicóloga Rita Xarepe. ‘Agora, depende como, porque a ideia pode ser óptima e, depois, ser mal executada. Mas parece-me um projecto interessantíssimo.’ Mas a função da escola não é ensinar Matemática e Línguas? ‘A função da escola é, ou devia ser, ensinar-nos a conhecer-nos melhor e sermos mais felizes’, defende Rita. ‘Muitas vezes sobrevalorizamos as matérias intelectuais sem nos lembrarmos que, sem estar de bem consigo, ninguém aprende nada.’ E a base da questão revelou-se precisamente essa: o lado afectivo e emocional afecta mais do que se pensa o aproveitamento escolar. ‘Se os jovens tiverem a cabeça bem arrumada, mais facilmente adquirem outros conhecimentos.Enquanto não se aprendem a eles próprios não conseguem aprender nada, e muitas vezes por isso é que temos tanto insucesso escolar! Ora a escola só tem a ganhar se os ajudar a trabalhar estes ‘nós’ de cabeça.’
O problema é que os adultos não estão a ensinar os filhos a lidar com as suas emoções. ‘Esta é uma porta que muitas vezes não se abre porque os adultos não sabem acolher as suas fragilidades!’ Qual é o pai capaz de chegar a casa e mostrar que está triste, que não teve um dia bom? ‘Os adultos não são felizes e refugiam-se perguntando pelos trabalhos de casa… Não calcula a angústia em que os pais ficam à noite quando a criança não tem trabalhos de casa, porque já não sabem falar com eles de outras coisas que não a escola… Ora há tanto para conversar! Um pai não é um professor. Aceitem-se, aceitem os filhos como são e aprendam a divertir-se!’