A primeira coisa que salta à vista quando se entra no Boa Ventura Montessori School, em São João do Estoril, é o ambiente multicultural. A língua franca é o inglês e há crianças entre os três e os cinco anos de todas as partes do globo.
Uma escola para estrangeiros? Nem pensar, assegura a directora Adélia Lopes. "Está provado que a melhor altura para a aprendizagem de línguas novas é por volta dos três anos e o facto é que elas aprendem num instante, sem qualquer esforço especial, apenas pelo convívio com as educadoras e as outras crianças. É se é certo que o inglês incentiva a vinda de crianças de todas as nacionalidades, também há portugueses que optam por colocar os seus filhos nesta escola, uma das poucas a praticar o método Montessori em estado puro.
Criado pela psicóloga italiana Maria Montessori no século XIX, a principal característica deste método é a utilização de material específico para desenvolver as capacidades das crianças de forma lúdica e a utilização de mobiliário e utensílios em miniatura, proporcionais ao tamanho dos mais pequenos .
O mundo na palma da mão
O ambiente caseiro e acolhedor é outro ponto de honra. A ideia é a criança sentir-se num espaço seguro, o mais parecido possível com a sua própria casa. Os sapatos ficam à entrada, sendo apenas usados no exterior. Assim que chegam, pelas nove horas, as crianças vão para uma das salas consoante a idade. "Ao todo há neste momento 22 crianças, sendo que cada educadora tem no máximo seis ou sete a seu cargo". Há currículos específicos que têm a ver com a aquisição de determinadas capacidades, no entanto cada criança aprende ao seu ritmo. A aprendizagem faz-se através dos materiais didácticos inventados por Maria Montessori. Há ‘brinquedos’ para estimular os sentidos, para estimular a concentração e para facilitar a aprendizagem dos gestos da vida prática como apertar os sapatos ou deitar água num copo. Por vezes, são objectos muito simples, como um jarro em miniatura ou uma placa com orifícios que lhes permite exercitar a motricidade fina como se estivessem a atar um sapato. Outras vezes são materiais complexos destinados a desenvolver capacidades de cálculo. A base é sempre sensorial, já que a criança aprende fazendo e sentindo. Por exemplo, numa caixa com cubos de vários tamanhos para encaixar, todos têm uma película rugosa, sendo que quanto maiores são os cubos mais rugosa é a película. A ideia é ela desenvolver os sentidos de forma lúdica ao mesmo tempo que apreende conceitos como a soma e a subtracção. Embora as aulas sejam em grupo a utilização de cada material é individual. Ao professor cabe estimular a criança que é livre de escolhe os materiais que quer usar. Adélia Lopes garante que este método suave é altamente eficaz e que as crianças crescem equilibradas, sensíveis e integradas.
Todos diferentes, todos iguais
Está quase na hora do recreio, às 11h30. Durante meia hora, os materiais ficam de lado e com bom tempo é possível ir para o jardim. Ao meio-dia será o almoço. A comida está a cargo dos pais que a trazem em termos ou lancheiras. Apenas por uma questão prática: "Tendo em conta a diversidade cultural das nossas crianças era impossível fazer uma alimentação adaptada aos hábitos de cada uma. È que tanto pode haver meninos japoneses a comer sushi como indianos a almoçar caril. Sempre em espírito de harmonia. "As crianças são naturalmente curiosas e perceberem que há mundos diferentes dos delas estimula o espírito de tolerância. Além disso é enriquecedor. Elas são autênticas esponjas, para ter ideia, o ano passado tínhamos uns meninos japoneses que brincavam muito com um americano. Nas brincadeiras eles falavam na sua língua, mas ao fim de um semestre, numa festa com os pais, observámos com pasmo o menino português a comunicar perfeitamente com a mãe dos japoneses. Tinha aprendido japonês."
Contactos
– Boaventura Montessori School, São Pedro do Estoril. Tel.: 93 631 91 60. www.boaventuramontessori.com.
– Jardim-de-infância O Beiral. [é em Lisboa, Lisboa?] Tel.: 21 778 33 37.
O método Montessori é aplicado no ensino público holandês.