"Achei-a super atraente!"
"Conheci a Mariana durante quase toda a minha vida, pois era amiga da minha irmã mais velha. Quando cheguei à adolescência, achava-a simplesmente linda, mas nem sequer pensava na hipótese dela olhar para mim: era mais uma paixão platónica. Entretanto, deixou de ir lá a casa, mas fui sabendo pela minha irmã que a Mariana casara, que tinha um filho e, por fim, que se estava a divorciar."
Até que, na festa do trigésimo terceiro aniversário da irmã (que tinha a mesma idade que Mariana), António a reencontrou. "Tinha 20 anos na altura e lembro-me que ela se dirigiu a mim como se ainda fosse um rapazinho de 15! Senti-me mesmo ofendido, principalmente porque a sempre a tinha achado uma mulher muito atraente, daquelas que nos dão um friozinho no estômago." E, por isso mesmo, António fechou o cerco: "de início ela achava que eu estava a brincar com as minhas tentativas de sedução e chamava-me Don Juan, mas, no final da noite, consegui que aceitasse jantar comigo e senti isso como uma gloriosa vitória!"
"Só podia estar louca por me apaixonar por ele"
Se para António foi uma vitória, para Mariana estava a ser uma luta interna: "depois de ter aceite o convite – porque realmente aquele miúdo com borbulhas que eu conhecera há muitos anos se tornara um homem atraente, com um toque de James Dean – fui para casa e só pensava ‘ele tem 20 anos, estás louca, como é que podes estar atraída por um homem treze anos mais novo do que tu e que conheces desde que tinha 10 anos?’ Achava mesmo que era uma irresponsabilidade, ainda por cima com uma filha de cinco anos (estávamos em 1987!). Acabei por concluir que aquilo não tinha futuro nenhum e decidi que não fazia mal nenhum em divertir-me um pouco."
A ideia inicial de Mariana era que tudo se resumiria a uma aventura sem consequências, de preferência mantida no anonimato. Só que o divertimento deu lugar à paixão, vivida de forma tão intensa que ambos chegaram à conclusão que não conseguiam passar um sem o outro. "Enquanto da parte do António não havia qualquer preconceito e até parecia um pouco inconsciente da situação, como se fosse a coisa mais natural do mundo estar com uma mulher mais velha, eu vivi uns meses muito conturbados, dividida entre o que sentia e aquilo que a sociedade esperava de mim", revela Mariana.
"Os meus pais disseram que não tinha juízo nenhum!"
Não foi fácil a aceitação das famílias, ainda por cima há vinte anos atrás, quando o país começava a sair do provincianismo ditado pelo Estado Novo. Mariana foi quem sentiu mais na pele a descriminação: "olhavam-nos na rua quando estávamos de mão dada, comentavam no restaurante ou nos bares e os meus pais disseram que eu só podia estar doida (ainda por cima divorciada e com um filho pequeno!) e que, por isso, nem pensar em levá-lo lá a casa." Foram necessários cinco anos para que, finalmente, os pais admitissem a situação e António passasse a ser aceite em pé de igualdade. Já da parte da família dele, e até porque todos conheciam Mariana, a situação foi mais fácil: "só me lembro da minha mãe ter tido uma conversa séria comigo e de me dizer que não devia nunca brincar com os sentimentos de uma mulher, principalmente de uma mulher que já era mãe; quando lhe assegurei que estava mesmo apaixonado pela Mariana, deu-me um beijo na testa e nunca mais falou do assunto."
"Achavam-me uma ‘velha maluca’"
O início da relação não foi fácil, mas, duas décadas transpostas, Mariana e António, brincam com o assunto: "além de ser considerada uma ‘velha maluca’, era óbvio que os nossos timings não eram os mesmos; eu tinha uma profissão (sou arquitecta) uma casa, independência económica, enquanto o António ainda estava na universidade! Tive de esperar que o António terminasse o curso de Economia e começasse a trabalhar para vivermos juntos, apesar dele já passar longos períodos lá em casa." (risos). Os anos passaram e, quando António tinha 28 e Mariana 41, tiveram a Sara, hoje com 12 anos. "Aí teve mesmo de ser uma decisão pensada porque eu não estava a ficar mais nova; mas o António sempre quis ser pai e as coisas acabaram por acontecer na altura certa. Tive sorte e engravidei sem problemas."
"Para mim é a mais bonita das mulheres"
E as raparigas mais novas? Num mundo em que a juventude parece o critério supremo de beleza, como é que uma mulher que vive com um homem mais novo lida com a concorrência? Mariana ri-se: "nos primeiros anos, muito mal – bastava uma rapariga aproximar-se do António para ter uma crise de nervos; com os anos e com as provas de confiança que ele me foi dando, aprendi a conviver com isso e a controlar a insegurança." Aqui, António intervém: "deu-me algum trabalho a convencê-la que, para mim, é e continuará a ser a mais bonita das mulheres; o que me interessa uma Cláudia Schiffer se sei que, com ela, não tenho a cumplicidade, o companheirismo e a intimidade que partilho com a Mariana? Isso tudo faz o desejo e este não tem nada a ver com a idade. Daqui a dez anos, vou continuar a achá-la lindíssima."
"O factor idade fazia parte do meu imaginário"
Mário e Joana ainda não têm a história de vida de Mariana e António: estão juntos há três anos e confessam-se felizes. Porém, Mário tem 23 anos e Joana 33. "Para mim, a Joana era inatingível", confessa Mário. "Ela era a prima mais velha de uns amigos meus e isso já lhe dava, mesmo à distância, um estatuto diferenciado. Quando a conheci, causou logo uma forte impressão, mas achei que estava fora do meu alcance. A questão da idade fazia parte do meu imaginário, mas foi a primeira vez que me senti atraído por mulheres mais velhas; além disso, a Joana parecia tão jovem de espírito!"
Quanto a Joana, professora, não acreditava que houvesse futuro quando se envolveu com Mário: "tinha saído de uma relação há pouco tempo e estava mais disponível do que o normal; aceitei sair com os meus primos mais novos, conheci o Mário e pensei ‘porque não?’ Mas quando as coisas se tornaram mais consistentes, assustei-me e pensei ‘mas ele é mais novo’! Decidi encarar de frente esse desafio, pois colocavam-se questões que não existiriam caso fosse uma pessoa dentro do meu nível etário: bastava o simples facto de eu ter uma vida organizada e ele não (o Mário não fazia nada na altura) para me fazer confusão."
"Diziam-me para arranjar uma relação mais séria"
Joana revela que, acima de tudo, teve dificuldade em lidar com as expectativas que os outros tinham em relação a ela, ao que era suposto esperar-se de uma mulher de 30 anos. "Até que cheguei à conclusão que o melhor era deixar-me ir e não me deixar controlar por estes modelos pré-históricos." Os seus pais não foram tão radicais como os de Mariana: "encararam isso como um devaneio, estilo ‘tens de arranjar uma relação mais séria’; depois, acabaram por aceitar; quanto aos meus amigos, são fantásticos e aceitaram-no muito bem, apesar de serem mais velhos."
Já os pais de Mário estranharam a situação: "a minha mãe fez-me um interrogatório sobre a Joana e, apesar de não me dizer nada sobre a idade, soube que ficou surpreendida, mas nunca houve hostilidade. Inconscientemente, discutiam comigo outros aspectos da minha vida, mas a questão subjacente era a Joana. E, quando sai de casa, o facto causou-lhes uma enorme confusão porque associaram logo à relação." Já sobre a estranheza das irmãs de Mário, de 32 e 34 anos, Joana tem uma teoria: "teve a ver com o facto de eu ter a mesma idade e elas não se verem a andar com um rapaz mais novo; mas acabaram por conhecer-me melhor e hoje aceitam-me como eu sou."
"Fiz mudanças mais depressa na minha vida"
Quando um homem e uma mulher se encontram em fases tão distintas, ajustamentos são necessários e Mário confessa terem passado por uma fase de consolidação, em que foi necessário muito diálogo: "a minha ideia era que a Joana devia querer casar e ter um filho – afinal, era o modelo das minhas irmãs mais velhas." Mas quando descobriu que isso não estava nos planos imediatos da Joana, foi um alívio". Joana acrescenta: "se ele quisesse ser logo ser pai, talvez considerasse essa hipótese, mas não era o caso."
Para Mário, que dá os primeiros passos na área da realização, a relação acabou por ser o catalisador de mudanças profundas: "o meu timing seria diferente, não teria acabado o curso, saído de casa nem começado a trabalhar tão depressa se não a tivesse conhecido."
Para Mário e Joana, o segredo da sua relação é não pensar muito no futuro nem na questão da idade. "Falamos disso de vez em quando, mas mais no registo do cómico, pois a verdade é que nunca pensamos a sério nisso", confessa Joana. "Vinte anos é tempo demais para projectar no futuro", acrescenta Mário. Os dois riem-se, cúmplices. "Se calhar as nossas vidas vão dar tantas voltas ainda!", diz Joana. A questão dos filhos, essa, está mais ou menos resolvida: "acho que eventualmente vamos querer tê-los, por isso colocamos a hipótese de ter ou adoptar, mas não temos prazos estabelecidos."