Depois da prova de fogo que foi deixar, pela primeira vez, a filha de 3 anos no jardim de infância (a chorar), Catarina Silva decidiu espreitar a ementa da semana. Qual não foi o seu espanto quando leu ‘delícias do mar, salsichas, tesourinhos, pudim e gelado’, tudo na mesma semana. Então tanta conversa sobre obesidade e refeições equilibradas e arrancam assim o ano letivo? Vale a pena chamar a atenção da escola?
Jorge Ascenção, presidente da Confap (Confederação Nacional das Associações de Pais) é a favor do diálogo. Para que tudo funcione bem é essencial que os intervenientes: associações de pais, escolas, autarquias e as empresas de catering por elas contratadas se entendam e acertem agulhas. “E deve haver essa comunicação porque não estamos inundados em reclamações. Há conversas que correm melhor que outras, é certo, mas tem-se conseguido ultrapassar os problemas. Não se pode é esperar que a qualidade das refeições seja igual àquilo que a mãe faz em casa. Pelo que sei, aquilo que mais se queixam – pais e alunos – é da temperatura da refeição, sobretudo para os alunos que têm de fazer turnos nas cantinas que não têm lugar para todos. Estes também reclamam que, por vezes, porque ficam para o fim, a comida é em pouca quantidade e que à sobremesa servem metade da fruta em vez da peça inteira. Há ainda quem aponte o dedo ao facto das ementas serem muito repetitivas mas o que pedimos é que os coordenadores das escolas se mantenham a par do que está a correr mal, elaborem relatórios e comuniquem com as autarquias, as responsáveis pela contratação das empresas de catering que fornecem as escolas.”
PALAVRA DE MÃE
Sónia Oliveira é professora numa escola em Aveiro (onde também tem o filho a estudar) e tem por hábito almoçar uma vez por mês no refeitório. “A comida é um pouco sensaborona e nada parecida com os pratos lindíssimos que vemos no Masterchef [risos]. As coisas melhoraram muito mas os olhos também comem. Ultimamente, com a crise, nota-se é que há cada vez mais miúdos a deixar os pratos completamente vazios. Para muitos aquela deve ser a refeição completa do dia.”
Mais a sul, David, 7 anos, filho de Teresa Tavares, como é bom garfo, não se importa nada de almoçar na cantina da sua escola no Barreiro. Come de tudo, “sobretudo se for esparguete à bolonhesa. As refeições têm alguma qualidade, são confecionadas na cozinha da escola e apesar de achar que as salsichas aparecem na ementa com demasiada regularidade, nunca reclamei.”
Já Carla Santos, de Vila Franca de Xira, tem em casa dois críticos gastronómicos com opiniões divergentes. “O Gonçalo, 13 anos, não gosta nada das refeições e queixa-se que a comida vem fria. Já a Matilde, 7 anos, gosta de tudo, e chega a repetir até a sopa. Sei que houve queixas da qualidade da comida na escola do Gonçalo mas ainda não vi qualquer resultado”.
AVALIAÇÃO (DES)CONTÍNUA
Apesar de não haver nenhuma investigação nacional recente sobre a qualidade das ementas escolares, a revista Teste Saúde, da Deco, publicou, em 2011, um estudo (no qual foram analisadas as ementas de 245 estabelecimentos escolares de Portugal Continental) e, de um modo geral, a avaliação foi positiva. Dulce Ricardo, engenheira responsável pelo estudo, lembra que no entanto já passaram dois anos. “Em 2011, pedimos às escolas as ementas do mês para termos uma ideia do equilíbrio das refeições e verificou-se uma grande evolução em relação ao último estudo que se tinha feito. Neste estudo verificámos que a percentagem de fritos diminuiu a favor de assados no forno, grelhados e estufados, que são mais saudáveis. Outra evolução foi não só a introdução de leguminosas nos menus como uma menor predominância da carne vermelha. Outra boa notícia é que todas as escolas tinham sopa de legumes no seu menu praticamente todos os dias.” Pela pequena amostra que a ACTIVA reuniu, as reclamações dos alunos, em 2011 e 2013, são as mesmas: a temperatura do prato; carne com veios e peixe com muitas espinhas. Houve no entanto uma crítica curiosa, Dulce Ricardo relembra: “o ambiente da cantina pouco acolhedor foi referido por vários alunos. Eles passam os dias inteiros na escola, e aquele espaço deveria ser de lazer. Queixavam-se das paredes cinzentas e frias do refeitório, pouco acolhedor. Muitos deles diziam que o ambiente deveria ser mais apelativo e se o fosse iriam mais vezes à cantina da escola.”
CSI: Comida sob investigação
Sentença: “As sopas passaram no teste, são boas e variadas, desde que não sejam utilizados caldo de concentrado que são ricos em gordura de má qualidade. Alguns pratos têm de ser um pouco reajustados, mas tão importante como a composição são as quantidades e distribuição no próprio prato e isso não dá para ver. Os pratos devem ser divididos em 3 partes: metade deve ser de vegetais – crus ou cozinhados;1/4 deve ser proteína (carne, peixe, ovo) e o restante ¼ hidratos de carbono (arroz, massa ou batata). Se tivermos uma rodela de tomate, meio prato cheio de arroz e um bife gigantesco, temos um prato desequilibrado apesar dos componentes estarem certos. Quanto a sobremesas: fruta é o ideal ou iogurte de aromas, se tiver de haver um doce que seja a gelatina, tem algum açúcar mas acaba por ser menos prejudical para a saúde.”
VIAGEM NO TEMPO
Até aos anos 70, as cantinas escolares no nosso país eram praticamente inexistentes e a carência alimentar generalizada. Houve, no entanto, tentativas de dar resposta às dificuldades.
1956: Distribuição diária de óleo de fígado de bacalhau nas escolas a alunos mais carenciados.
1977: Programa de Leite Escolar. A partir de 1981 passou a ser distribuído com palhinha e chocolate (este deixou de ser adicionado em 1984, por razões financeiras).
2009: Programa da Fruta Escolar. Durante o ano letivo, e duas vezes por semana, é distribuída uma peça de fruta na sala de aulas às crianças do 1.º ciclo.
2012: Face à grave crise económica foi necessário criar o Programa Escolar de Reforço Alimentar (PERA) – para combater as novas situações de carência alimentar que afectam a população escolar através do fornecimento de pequenos-almoços na escola.
Atenção Pais!
Para que não se descure a qualidade das refeições escolares, Dulce Ricardo, da revista Proteste Saúde, deixa alguns conselhos importantes:
• Informem os vossos filhos que uma refeição só é equilibrada se eles comerem todos os componentes do prato: sopa, legumes, proteína e fruta… mesmo que não achem muita graça.
• Verifiquem que os fritos não aparecem no menu mais do que uma vez por semana.
• Se virem que a qualidade dos menus está a diminuir podem e devem reclamar junto da associação de pais. Os pais devem ter um papel mais proactivo.
• Se o seu filho leva marmita de casa, certifique-se que é uma refeição equilibrada, o mais parecida possível com a da escola (atenção às proporções). Não ceda a pedidos pouco saudáveis de piza e salgados.
Uma das dores de cabeça dos pais é arranjar soluções saudáveis e portáteis para os intervalos da manhã e da tarde. A nutricionista Lillian Barros sugere:
SNACKS SAUDÁVEIS
… para o meio da manhã
• 1 peça de fruta da época
• Bolacha Maria ou Torrada
• Pacotinhos de leite (simples)
• 1 iogurte
• Fruta líquida (100% de fruta)
… para o lanche
• Misture um iogurte e uma gelatina para fazer um ‘pudim’. Acrescente uma peça de fruta aos pedacinhos. “É saudável e as crianças ficam com a ideia que estão a comer uma sobremesa. Se não houver problema de peso, pode deitar bolacha tipo Maria triturada por cima”.
• Leite simples e 1 pão de mistura ou centeio (evitar os brancos, com maior índice glicémico) com uma fatia de fiambre de peru, ou de queijo ou compota, caseira, de preferência.
• Iogurte com cereais de pequeno-almoço (integrais e com pouco açúcar) ou então 3 col. (sopa) de aveia. Ou então papa de aveia com água e casca de limão e canela por cima.
• Cenoura crua
• Queijinhos portáteis, “são ótimos e não têm excesso de gordura”.
Importante: “Antes do exercício físico deve comer hidratos de carbono como aveia, pão e sumo de uma fruta (energia rápida) e não proteína láctea que tem uma digestão mais lenta.”
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