Sente-se contrangida nas relações sexuais? Não consegue fazer amor de luz acessa, nem andar nua à frente do seu marido? Estas situações são mais comuns do que se pensa. O importante é saber identificar o problema e tentar arranjar soluções. Sobretudo, não se sinta ainda mais constrangida pela sua timidez. Analise a sua história de vida e a sua relação e aprenda a soltar-se.Algo se passa de errado?
Catarina Costa, 30 anos, casou virgem aos 28. “Tive vários namorados, mas nunca deixei que as coisas avançassem para o plano sexual. Não porque eles não fossem atraentes, simplesmente sempre tive o desejo de casar virgem e se as relações não eram suficientemente sólidas, para quê avançar?”
Muitas vezes a timidez sexual manifesta-se mesmo antes de alguma coisa acontecer. “A pessoa inicia uma relação, que dura pouco, porque quando se começa a perceber que vai haver um avanço no plano sexual a pessoa não aguenta e sai da relação. Por isso, ter muitos namoros pode não ser sinónimo de uma grande abertura sexual”, diz Sónia Parreira, psicóloga.
Mas o fenómeno pode ser ainda mais precoce. “Pode começar por uma inibição em manter relacionamentos. Muitas vezes as pessoas até têm alguém interessado nelas, e também se interessam, mas depois não avançam, há um bloqueio”, conclui a psicóloga.
Vergonha inicial
“Não posso dizer que não estava ansiosa na primeira vez. Mas já tinha bastante à-vontade com o meu marido, não foi em vão que namorámos três anos antes de decidirmos casar. Estava um pouco constrangida, mas acho que é natural”, conta Catarina Costa. Porém, à medida que o tempo foi passando, os constrangimentos iniciais foram desaparecendo. “Já estou casada há dois anos. Tenho bastante confiança com o meu marido e a sexualidade é um aspecto natural e bastante importante do nosso casamento. Aliás, são momentos em que demonstramos o que sentimos um pelo outro: uma grande cumplicidade e carinho.” Aliás, “é natural que assim aconteça, as pessoas vão-se soltando à medida que o tempo passa”, revela a psicóloga.
Mesmo assim, das primeiras vezes que fez amor Catarina sentia-se quase como alguém que vai entrando na água gelada, a encolher a barriga. “Não posso negar que, das primeiras vezes, me sentia um bocado envergonhada… Não gostava de fazer amor com a luz acessa, por exemplo, sentia-me muito exposta.”
A pressão da sociedade
Mas se a própria personalidade pode estar na origem destes constrangimentos, a educação e a sociedade em que estamos inseridas pode, igualmente, condicionar o nosso comportamento na cama. “Se observarmos a sexualidade de outros povos deparamo-nos com atitudes diferentes e mais abertas. Isso leva-nos a constatar que o facto de termos uma religião católica dominante, onde a sexualidade é vivida com o objectivo da procriação e o prazer não é o mais importante, pode dificultar a libertação, sobretudo da mulher, nos relacionamentos”, observa Sónia Parreira.
No caso de Catarina, não será, também, alheia a esta atitude a educação que recebeu. “Fui educada segundo certos valores, que respeito bastante. Sou uma pessoa religiosa, católica praticante, que desde miúda frequentei a igreja e grupos de jovens católicos. Nunca ninguém me disse para não ter sexo, simplesmente encaro a sexualidade como uma coisa séria e que deve estar incluída num projecto de vida. Portanto, a opção de só o fazer depois do casamento foi uma atitude consciente”, afirma.
Associada a isto está uma cultura em que o papel do homem, em termos sexuais, é dominante. É suposto ser ele a tomar a iniciativa, a estar sempre pronto para ter relações. Já ás mulheres é tido como natural que sintam menos desejo. “Por isso, apesar desta situação ser mais comum nas mulheres elas procuram menos ajuda. Já quando isto acontece com um homem, como foge do padrão comum, ele sente-se pior consigo próprio e é mais natural que procure apoio”, conta a psicóloga.
Vergonha do corpo = baixa auto-estima
A insatisfação com o próprio corpo pode também ser um entrave, na hora H. A publicidade e a moda ditam padrões de beleza ideais. Mulheres magras, em biquini, são uma constante, para vender o mais variado tipo de produtos. As modelos, apesar de já não terem um estilo heroin chic continuam altas e esguias. Quando o nosso corpo não é bem assim das duas uma: ou temos uma boa relação connosco próprias e passamos ao lado disso, ou podemos sentir-nos constrangidas com pequenas coisas, como umas gordurinhas a mais. “Essas vergonhas são normais na adolescência, mas com a entrada na idade adulta, quando a nossa identidade assume uma construção definitiva, já não o são”, assegura Sónia Parreira.
“É inevitável que existam coisas no nosso corpo que gostaríamos de mudar, mas aprendemos a viver com elas. Se a pessoa não consegue aceitar o corpo que tem, se calhar não assume que as suas qualidades internas compensam ou minimizam essas aspectos físicos menos positivos e, nesses casos, podem surgir estes tipos de bloqueios. Se a vergonha do corpo não consegue ser ultrapassada é porque há uma falha na auto-estima que tem de ser tratada”, afirma a psicóloga.
“Realmente, a questão não era só a vergonha das primeiras vezes. Havia posições que me eram mesmo incómodas. Por exemplo, odiava ficar por cima e ter de o encarar. Além disso pensava sempre na minha barriga. Mas já esqueci isso. Afinal, toda a gente tem barriga”, diz Catarina Costa.
Lição a retirar: o mais importante não é o nosso aspecto físico, mas sim o partido que tiramos do nosso corpo e as nossas qualidades humanas. Um companheiro que nos valorize é, também, meio caminho andado para uma sexualidade feliz. “A vergonha do corpo tem a ver com a própria pessoa, mas pode ser mais ou menos alimentada pelo parceiro. A mulher sentir-se-á mais bonita e atraente quanto mais sentir que o companheiro a olha assim”, defende Sónia Parreira. Por isso, se o seu parceiro é daqueles que passa a vida a lembrar-lhe que tem barriguinha, repense a situação e não se deixe levar por isso. Afinal, ele também não é perfeito.
Liberte-se!
Geralmente, a timidez costuma ser apenas inicial, por isso não entre em pânico se namora ou está casada há pouco tempo, e ainda não se sente suficientemente à vontade com o seu parceiro. “Se calhar toda a gente é um bocadinho tímida quando ainda não conhece suficientemente o companheiro. Se uma mulher adulta iniciou um relacionamento há um mês ou dois, é natural que ainda não hajam certezas sobre o envolvimento sexual. Como a relação ainda está muito no início, é natural que ainda não estejam muito à vontade”, defende Sónia Parreira.
O passar do tempo dirá se há, ou não, um problema de timidez sexual. “Se, passado, digamos, um ano, a situação está pouco melhor que ao princípio, isso significa que há um problema. Perante isto a mulher deve perceber se isto só lhe acontece com este parceiro ou se já lhe acontecia antes. Se só não se consegue desinibir com o parceiro actual, deve fazer uma avaliação da relação. Deve tentar mudar a relação, de forma a obter satisfação, ou pôr-lhe fim, em último caso. Se não consegue fazer nada disto, o melhor é procurar a ajuda de um técnico”, aconselha a psicóloga
Por outro lado, “se a timidez sempre existiu com todos os parceiros e a situação não consegue ser ultrapassada, isso terá mais a ver com a própria pessoa e com a sua história de vida, do que com a relação.” Se não está a conseguir, por si própria, desinibir-se e disfrutar de uma sexualidade sem timidez “a melhor estratégia é ir ter com um terapeuta, porque não há soluções mágicas. Cada pessoa tem uma história própria e é com essa história que encontramos soluções”, conclui a Sónia Parreira.