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Uma dessas ideias, que me custou em bocadinho a absorver e que só percebi quando vi caso atrás de caso com os meus olhos, é araridade da amizade – verdadeira, fraternal e desinteressada – entre homem e mulher. Ou como “eles” dizem por aí nos facebooks da vida, “amizade entre homem e mulher só existe se ela for feia ou ele for gay”.
Atenção, eu não concordo na totalidade com a afirmação atrás; camaradagem pode existir entre colegas ou pessoas do sexo oposto, mas é de facto rara. Como mencionei
aqui, cuidado com isso!
Pessoalmente nunca gostei de cavalheiros que se gabam de ter muitas “amigas” – se as ditas tiverem um ar duvidoso, pior um pouco – nem aconselharia para um rapaz da minha família uma mulher que fizesse questão de manter muitos “amigos” .
Primeiro, porque é um sinal de complexo de
Manuel (ou Maria) dos Plásticos; segundo porque lá dizia Séneca, “quanto mais numerosas as pessoas com quem convivemos, maior é o perigo”. Ou citando o
Cardeal Mazarin, é pelas companhias (e pelo seu número) que se conhecem as pessoas.
Por cada amizade sincera e fraternal, há não sei quantas pessoas que fariam o que fosse preciso para transformar a amizade noutra coisa, ou que a confundem com um
convite para a intimidade:Nietzsche afirmava que para a amizade entre os sexos durar é preciso que haja uma aversão física. Porém, essa falta de atracção é quase sempre unilateral – mesmo o amigo desengonçado ou a amiga insignificante podem encher-se de ilusões e fazer de
ombro interesseiro, o que causa muitos problemas.
Há imensas mulheres da luta sem auto estima (admiradoras disfarçadas de amigas, ex namoradas, etc) que
se contentam com o papel de “compincha”
“ tentando que isso leve a algo mais num momento de fraqueza do rapaz em causa.
Porém, no caso dos “amigos” homens relativamente às mulheres esse fenómeno é mais acentuado ainda.
Custa admitir isto e dar razão a irmãos super protectores, pais rígidos e parceiros possessivos que acham que uma rapariga “saber muito bem conduzir-se e falar com qualquer pessoa à vontade” não basta, mas a verdade é que nós, mulheres, às vezes somos ingénuas ou distraídas.
Não falo das que gostam de se envaidecer com elogios baratos, mas das que não vêem maldade em nada e alimentam, sem querer, amizades ou conhecimentos cordiais com “cavalheiros” que nunca pretenderam só amizade. Uns porque se deixam entusiasmar pelo convívio ou tomam simpatia por flirt, outros
por falta de noção, ou ainda porque, lá no fundo, vêem as mulheres como objectos – desde que as achem bonitas, claro.
Poucas coisas são tão
desapontantes – ou uma traição tão feia – como uma mulher descobrir que fez confidências a um homem que julgava seu amigo, que lhe mostrou o seu lado mais vulnerável, apenas para descobrir que ele a olhava maliciosamente o tempo todo, com segundas intenções. Para não falar que quando isso acontece, muitas vezes o “amigo”, sentindo-se rejeitado, vinga-se.
Tolkien disse, a respeito desse tema, que a amizade entre homem e mulher é praticamente impossível (…) a não ser entre santos ou pessoas mais velhas, e que não convém contar com ela; quase sempre uma das partes falha, desapontando a outra ao “apaixonar-se” . Segundo o autor, em geral nenhum homem quer amizade, mesmo que diga o contrário.
Também James Joyce e Oscar Wilde descriam de tais amizades: Joyce achava que a atracção complicava sempre tudo, Wilde declarava-as impossíveis: paixão ou inimizade de morte sim, até idolatria, mas amizade não.
Visto isto recomendam-se algumas cautelas – principalmente a quem tem um compromisso ou simplesmente, zela pela sua honestidade e quer cercar-se apenas de pessoas sinceras.