
Przemyslaw Koch
*artigo publicado originalmente em maio de 2017
“A mais importante decisão de carreira que uma mulher pode tomar é casar-se com a pessoa certa”, afirmou a empresária Sheryl Sandberg em 2011, no livro ‘Lean In – Faça Acontecer’.
Número dois do Facebook e uma das mulheres mais poderosas dos Estados Unidos, criou uma organização para incentivar as mulheres mais jovens a serem mais ambiciosas e conseguirem objetivos mais arriscados nas suas carreiras. Mas para isso, afirmou, iam precisar de um marido. E não era um marido qualquer. “Encontrar um marido que verdadeiramente vos apoie terá uma importância decisiva no vosso sucesso.” Também insistia que as mulheres tinham de parar de ser ‘as guardiãs do templo da maternidade’, insistindo para que os maridos participassem nas tarefas domésticas e na criação dos filhos – e que parassem de controlar a forma como eles o faziam.
Ela própria tinha um marido assim. David Goldberg era também um super-líder, um executivo da área tecnológica. Mas foi ele quem apoiou a mulher depois de uma gravidez difícil, foi ele quem insistiu para que ela concorresse a um lugar mais alto, foi ele quem a encorajou a pedir um salário mais elevado, o salário que um homem pediria. “E foi ele quem me ensinou a mudar uma fralda quando o nosso filho tinha oito meses”, afirmou Sheryl.
Mas equilibrar dois super-empresários, respetivas agendas caóticas e dois filhos pequenos, na prática não seria fácil: quem cedeu? Foi ele. Quando decidiram ter filhos, David foi à procura de um emprego que não o obrigasse a continuar a deslocar-se de São Francisco para Los Angeles (foi aí que assumiu a liderança da SurveyMonkey, uma empresa que desenvolve software para inquéritos online).
Perigo de contágio
Claro que isto é um conto de fadas à americana. A maioria das mulheres não tem companheiros tão abnegados nem um cargo tão exigente. De qualquer maneira, todas gostávamos de ter o parceiro que merecíamos. Afinal, toda a vida das mulheres foi historicamente passada a ouvir doutrinas sobre ‘ser a esposa perfeita’. Mas como ter o ‘esposo perfeito’, quem nos ensina?
“Isto só me lembra a canção do Miguel Araújo, ‘Os maridos das outras’”, diz, a rir, Tiago Lopes Lino, psicólogo e sexólogo, que todos os dias recebe no gabinete casais que estão longe de serem companheiros perfeitos um para o outro.
Sim: ‘os maridos das outras são/o arquétipo da criação/o pináculo da perfeição’, e os nossos são sempre uns brutos. Mas aqui, explica Tiago, a coisa dá para os dois lados. Ou seja: não há um encorajador e um encorajado, ambos devem ser uma inspiração mútua.
Enfim, se puderem. Porque nós temos um enorme poder hipnotizador sobre os outros: e esse poder começa em casa. “Se as pessoas conseguirem gerir as suas preocupações, sem colocar tanto peso na relação, esta fica mais leve, mais fácil. Uma pessoa tendencialmente optimista, simpática, cuidadosa, contagia o outro”, nota Tiago. “E o contrário também é verdade. A pior coisa que pode acontecer é chegar a casa e encontrar uma cara zangada. Claro que acontece uma ou outra vez. Mas se é constante, ninguém aguenta. Começamos a ficar pessimistas e antipáticos. Isso vê-se ao andar de metro: quase não se encontra pessoas de cara feliz.”
O que quer o outro?
Ora então já tenho o primeiro mandamento para maridos e mulheres ‘apoiantes’: receber, e ser recebido com cara alegre. Mas além de tentar ser mais otimista, como podemos ajudar os nossos parceiros a ser melhores pessoas e a atingir os seus objetivos de vida? “Nós desejamos imenso ser compreendidos, mas depois estamos demasiado focados em nós para compreender os outros”, lembra Tiago Lopes Lino. “O problema é que temos dificuldade em compreender o outro enquanto outro, e não do nosso ponto de vista. Ou seja, o que é que ele quer para ele próprio?” De repente lembro-me de uma altura em que a minha tia Joana tentava convencer o meu tio a deixar de fumar. Claro que ao fim de uns dias de amarga luta, o desgraçado desistiu. Porquê? Porque a luta não era dele. Ou seja: antes de se meter numa batalha, perceba se aquela batalha é mesmo dele. E vice-versa: se a incitam à batalha, perceba se a guerra é sua ou se lhe está a ser imposta.
Terceiro mandamento: não exagere na preocupação. “Preocupação a mais gera dependência”, explica Tiago. “Há pessoas a quem chamamos os ‘parceiros-enfermeiros’. Ele tem um problema e ela diz logo, ‘deixa que eu resolvo’, e isto também não é saudável. O ideal é preocuparmo-nos e ajudar no que podemos, mas também acreditar que o outro vai ser capaz de resolver os seus problemas.”
Apoiar em tempos difíceis
Quarto mandamento: esqueça a crítica. “Valorize o parceiro, não tome as suas qualidades como garantidas. Porque depois o que é que acontece: não somos honestos porque sabemos que vamos ser criticados.” A crítica levanta a questão do poder numa relação. “Em qualquer casal, há sempre um que tem um pouco mais de poder, e às vezes o poderoso adopta uma postura mais arrogante. Portanto, em vez de ajudar, humilhamos e criticamos o outro.” Solução: tenha um discurso e um pensamento positivo, seja honesto, e não complique.
Continuamos para bingo: quinto mandamento para ter – e ser – um super-companheiro: tratar o outro como eu gostaria de ser tratado. “Se queremos ser incentivados e compreendidos, precisamos de compreender o outro. Para isso, eu preciso de ouvir o que o outro tem a dizer. E não é ouvir a olhar para a televisão. É escutar, que é diferente. Claro que há ocasiões tão duras, tão complicadas, que temos de aceitar a nossa impotência. Mas podemos ouvir, incentivar, dar carinho, abraçar.”
Sexto mandamento: tomar decisões em conjunto. “Imagine uma decisão profissional, que envolva viagens e ausências, por exemplo. Se o marido vai passar a trabalhar aos fins de semana, a mulher vai sentir-se prejudicada e vai ser difícil apoiá-lo. Ou vice-versa, claro.”
Como é que se apoia alguém nestas ocasiões? “Pode ser difícil. Por isso tem de perceber o motivo que o levou a aceitar a situação. Foi uma fuga, egoísmo, uma aposta na carreira? Às vezes, partimos do princípio de que temos de aceitar tudo, mas não. Devemos é começar por compreender as razões do outro.”
Sétimo mandamento: oferecer ajuda antes que nos peçam. “Não é saudável um dos elementos do casal precisar de pedir ajuda. Se uma pessoa chega cansada ou chateada, o outro devia dizer ‘deixa estar que eu hoje dou banho aos miúdos’, ou ‘deixa, eu faço o jantar’. Mas o que eu ouço é: ‘ela (ou ele) chegou maldisposta e irritada’, e depois ainda atacam mais. Na cabeça das pessoas, o outro quando entra em casa tem de desligar totalmente do trabalho, quando isso nem sempre é possível.”
Chefes vs líderes
O problema é que é fácil dar apoio quando a vida corre bem, mas quando as nuvens são negras, esse apoio começa a fraquejar. Portanto, oitavo mandamento: esteja presente principalmente nas dificuldades. “Todo o sucesso tem obstáculos, e é na forma como temos apoio para os ultrapassar que se vê como funciona a relação”, explica Tiago Lopes Lino. “Os líderes querem este tipo de mulheres e homens, que os apoiem no sucesso mas também nas dificuldades, e os verdadeiros líderes farão a mesma coisa pelos companheiros.”
É possível, portanto, que os dois sejam ‘líderes’ em casa? “Claro. A diferença entre um chefe e um líder é que um líder está focado nas pessoas, um chefe, nos objetivos.” Portanto, se nós como casal também estamos focados na outra pessoa, teremos muito mais probabilidades de ter sucesso na relação e na vida. “É como uma flor: vamos regando e ela dá frutos, mas pode demorar. Um chefe adoece as pessoas com objetivos inatingíveis. No casamento é a mesma coisa.”
Mas se demorar a encontrar ‘o tal’, não stresse
Para voltar ao conto de fadas e ao marido perfeito de Sheryl Sandberg, lembra-se? Agora que já leu o conto de fadas, fique com o seu trágico final: David Goldberg morreu em 2015, com apenas 47 anos, de uma queda no ginásio durante umas férias de família no México. Ao fim de 2 anos de uma viuvez sofrida, Sheryl contou como tinha sobrevivido sem o seu ‘braço direito’. E afirmou: se não puderem ter um marido que vos apoie, habituem-se a contar com a ajuda de outras mulheres. E a serem uma força umas para as outras.