*artigo publicado originalmente em janeiro de 2016
Na vida de um casal tudo é partilhado, as conquistas, os medos ou até a conta do banco. E em relação às passwords do email, redes sociais e telemóvel? Os novos iPhone conseguem reconhecer até cinco impressões digitais, será que uma delas deve pertencer ao nosso marido ou namorado? Dar o código do telemóvel e a palavra passe das redes sociais tornou-se num novo marco na relação e porta aberta para todas as nossas informações, desde mensagens a fotografias e contactos. Para alguns significa até um símbolo de transparência, prova de que não há segredos entre o casal. Mas se há tanta confiança, por que razão sentem necessidade de partilhar toda a informação, até aquela que é da esfera privada? Segundo um estudo do Centro de Pesquisa Pew, nos EUA, 67% dos casais partilham as senhas de todas as contas. Se é verdade que as redes sociais facilitam a infidelidade, o acesso livre a elas também não é garantia de nada, pode até dar uma falsa segurança. Recolhemos o testemunho de várias mulheres, com opiniões divergentes sobre o assunto.
“ESTOU CASADA HÁ 4 ANOS E NÃO PARTILHO AS PASSWORDS DE NADA – Facebook, email, cartões multibanco. A vida enquanto casal é uma coisa, mas devemos preservar a nossa privacidade. Cada um tem o seu espaço e acho melhor não misturar o que só a mim diz respeito. Não seria normal chegar a casa e o meu marido estar no meu email, ou eu no dele. Isso não faz sentido. Nunca dei os meus acessos a ninguém, tanto é que mantenho a minha password há anos.
A única coisa que sei dele é o código de bloqueio do telemóvel, isto porque posso precisar de ligar para alguém. Claro que já fui cuscar o telemóvel, só para ver se estava tudo bem. Mas acho que faço isso cada vez menos, a idade traz-nos mais confiança. Essa coisa de ir ver o telemóvel acaba por ficar um pouco para trás.”
Marta Sousa, 29 anos
“NAMORO HÁ UM ANO E NÃO DOU AS MINHAS PASSWORDS, ATÉ PORQUE JÁ TIVE UMA MÁ EXPERIÊNCIA. O meu ex-namorado, com quem estive durante quatro anos, obrigava-me a dar-lhe as minhas passwords. Se não dava, dizia-me que tinha algo a esconder e assim começavam as discussões. Como não tinha mesmo nada a esconder, acabei por dar. Não sei com que frequência ele ia às minhas redes sociais, mas existia sempre uma espécie de controlo, não só para saber se eu estava a traí-lo mas para saber tudo: com quem é que eu conversava ou com quem é que combinava coisas. Nem podia falar à vontade com as minhas amigas, mesmo de coisas normais, porque sabia que ele ia ler. Muitas vezes, quando estávamos chateados e eu desabafava com as minhas amigas no chat do Facebook, ele acabava por saber a conversa toda. A certa altura, mudei a minha password, claro que ele disse que eu tinha mudado só para ele não poder controlar, e foi mais uma discussão. Eu também tinha a password dele, porque foi o próprio que a deu como forma de me pressionar a dar a minha, quase como uma troca. Entrei na conta dele, porque se ele achava que tinha o direito de ver a minha vida, eu fazia o mesmo com ele, só que com menos regularidade.
Na minha relação atual não tenho a password dele, nem ele a minha. Aliás, apesar de vivermos na mesma casa, ele fecha sempre a sessão no Facebook e eu passei a fazer o mesmo, o que não quer dizer que não confie nele.”
Sónia Santos, 21 anos
“NUNCA DEI A MINHA PASSWORD A NENHUM NAMORADO, NEM NUNCA QUIS TER A DELES. Por um mero acaso, o meu ex- -namorado, com quem estava há cerca de 3 anos, disse-me qual era a pass do Facebook dele. Como não era nada de complicado, decorei. Confesso que nunca tentei entrar na sua conta… até ao dia em que desconfiei dele. Contaram-me que ele me tinha traído, disseram-me o nome da pessoa em questão e até o dia em que tudo teria acontecido. Não queria acreditar que aquilo era possível, apesar de todas as evidências. Quando entrei no Facebook, lá estava tudo, as conversas, os detalhes, e tudo o que precisava (e não precisava) de saber sobre a traição.
Agora não era capaz de partilhar as minhas passwords e também prefiro não saber as dos outros. Apesar de ter sido por saber a palavra passe dele que consegui confirmar toda a história, acho que é melhor cada um manter a sua privacidade.”
Carlota Costa, 23 anos
“NÃO TENHO PROBLEMA NENHUM EM DAR AS MINHAS PASSWORDS, aliás, dou e tenho a palavra-passe do meu namorado, com quem já estou há um ano. Não tenho o hábito de ir ver nada sem que ele esteja presente. O que acontece é que muitas vezes peço para ele ver algo no meu telemóvel ou estamos no sofá juntos e peço o telefone dele porque o meu está a carregar. Entro no Facebook dele e acabo por ver tudo ali, até porque temos muitos amigos em comum. A minha relação é aberta e assim como dou o meu código pin do multibanco para ele fazer um pagamento, também dou os acessos às minhas redes sociais. Sei que ele não vai aceder sem a minha autorização. Quando as pessoas querem fazer alguma coisa às escondidas, arranjam sempre forma de o conseguir. Estamos sempre ligados à internet e assim que entra uma mensagem recebemos a notificação; quando alguém tem algo a esconder não abre logo ou algo do género. Existem muitos sinais e a idade e maturidade vai-nos ensinando muita coisa.
Fui casada durante nove anos e nunca dei as passwords, simplesmente porque a pessoa com quem estava não ligava muito a redes socais. Às vezes também depende das circunstâncias.” Andreia Mafra, 38 anos
““ENTAR NO FACEBOOK DO MEU NAMORADO ACABOU POR ME MOSTRAR MUITA COISA. Namorava há quinze anos e vivia numa relação de desconfiança. Ele não me deu acesso a nada mas acabei por obter a password e assim validar as minhas desconfianças. Ao entrar na conta constatei que existia uma relação paralela com uma pessoa há distância e que era tudo alimentado pelo Facebook. Ele nunca teve a minha password e estava mesmo bloqueado no meu Facebook, apesar de vivermos juntos. Era uma pessoa tão ciumenta que chamava à atenção qualquer amigo que fizesse um like ou um comentário numa foto minha. Não é preciso uma palavra passe para descobrir algumas coisas, há comportamentos no Facebook que nos dão muitos sinais. Se o nosso namorado diz que vai para a cama e às 3 da manhã ainda está online, ficamos logo a pensar com quem é que ele está a falar a essa hora, ou basta até fazer uma pesquisa e perceber quais as pessoas que fazem sempre likes nas fotos. Neste momento não dou, nem quero ter as passwords da pessoa com quem estou. Até posso ter o meu telemóvel acessível e isso é uma prova de confiança, mas dar as passwords não faz sentido.” Mónica Garcia, 34 anos