O período de quarentena pode ser um grande desafio, sobretudo para os casais. Quer já atravessassem uma fase de problemas antes, quer não haja grandes desentendimentos, a verdade é que passar dias inteiros na companhia um do outro pode trazer resultados negativos. Veja-se o caso da China, onde o número de divórcios aumentou bastante desde o aparecimento do coronavírus.
Mas há solução. De acordo com a terapeuta de casais e família, e terapeuta sexual clínica certificada, Lisa Thomas, “é normal sentir-se sobrecarregada, ao não ter os limites de privacidade normais” – e é importante aceitar este facto. Posto isto, a comunicação entre o casal, acerca o tempo e espaço individual de que cada um precisa, diariamente, é essencial.
“Por exemplo, diga ao seu parceiro ‘preciso de uma hora, das 7 às 8 da manhã para dar uma volta antes de começar a trabalhar’“, sugere Thomas, acrescentando que a outra pessoa terá de ter os mesmos “direitos”. Porém, tudo se pode complicar quando há crianças envolvidas. Nesse caso, a terapeuta tem algumas dicas para facilitar a convivência em família.
Crianças
“Os casais têm de se sentar, de se reunir e decidir como vão lidar com as crianças“, de modo a criar uma rotina e mantê-las calmas, diz. Lisa sugere também que, se necessário, os pais decidam um horário para “trocar” a responsabilidade de supervisionar as crianças, para que o outro membro do casal consiga descansar ou realizar outras tarefas importantes.
No caso de haver filhos mais velhos, também importa que lhes seja passada alguma responsabilidade de cuidar dos mais novos. “Olhem para isto como ‘modo de sobrevivência’, no qual manter todos saudáveis é a principal prioridade“, afirma, apelando ao bom senso, já que estar em isolamento é algo necessário.
Vida sexual
“Tenho aconselhado casais a falar acerca das expectativas que têm em relação ao sexo, sobretudo se não estiverem de acordo”, afirma a terapeuta, dando, em seguida, um exemplo prático:
“Esta semana, fiz terapia com um casal e o homem estava tão feliz por não ter de viajar, e esperava que ele e a mulher pudessem desfrutar de rapidinhas durante o dia e fazer sexo todas as noites. A mulher sentia-se muito sobrecarregada com a responsabilidade de ter de tomar conta de três crianças que não estão a ir à escola, preparar as refeições para a família e estar disponível fisicamente para o marido, dia e noite. Ela estava exausta“.
Conclusão? Durante a consulta, ficou decidido que teriam sexo três noites por semana e o marido teria de respeitar os limites da companheira. Além disto, esta pediu para que este participasse mais no que toca a cuidar dos filhos e a preparar as refeições – e este ficou feliz por fazê-lo. Dias depois, revelaram à terapeuta ter notado uma grande diminuição na tensão existente no relacionamento.
Resumindo, falar abertamente com o outro sobre as expectativas que têm, partilhar sentimentos e chegar a acordos é, muito provavelmente, o modo mais eficaz de conseguir uma tranquila convivência durante a quarentena.
Estávamos à beira do divórcio. E agora?
Tendo em conta o modo drástico como tudo mudou, a terapeuta aconselha a que, para já, os processos legais fiquem em “pausa” e que o casal fale para que cada um consiga respeitar o espaço do outro, por exemplo, através da permanência em zonas diferentes da casa.
“Discutir pode escalar para a violência, portanto esta não é solução. Conversem calmamente e, se não resultar, experimentem enviar mensagens ou e-mails um ao outro, de modo a não terem a necessidade de falar cara a cara“, sugere.
Caso nenhuma destas seja a solução ideal, Lisa aconselha a que procurem um terapeuta disponível para realizar consultas virtuais – a grande maioria tem aderido a este modo, dadas as circunstâncias -, para que consigam obter conselhos direcionados à respetiva relação.