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O princípio do ano pode ser uma boa altura para incentivar a solidariedade, e isso começa em casa. Ensinar a empatia passo a passo não só é possível como dá menos trabalho do que se pensa.

As crianças têm um coração de ouro? Pois têm: mas são crianças, é suposto estarem concentradas nas suas necessidades. As crianças são egoístas porque precisam de sobreviver; mas também são solidárias porque o género humano está vocacionado para funcionar em tribo e a solidariedade é uma ferramenta de sobrevivência coletiva. Gostam de ajudar a mãe na cozinha porque é divertido, mas é difícil conseguir que percebam as dificuldades de um amigo. Em que é que ficamos? A empatia é uma espécie de músculo: também se treina. E há muito que eles podem fazer desde… que nascem. O princípio: se quer um filho solidário, tem de começar por estar atenta às suas próprias necessidades. Ninguém dá o que não tem.


Recém-nascido

Converse come ele. Um bebé só está preocupado em comer, dormir e basicamente sobreviver? Surpresa! Até mesmo um bebé começa a esforçar-se por captar a atenção do adulto e olhar nos olhos. São os básicos da empatia. O que pode fazer? Conversar muito com ele.

6-8 semanas a 10 meses
Sorria! Ele sorri para que o adulto sorria para ele, e sorri de volta para mostrar que ‘percebeu’ e que retribui. Também são capazes de perceber quando uma pessoa está triste, e ficam tristes também. Faça uma expressão preocupada e observe como a expressão dele muda.

18 meses
‘Provoque’ ajuda. Há estudos que mostram que se deixar um lápis afastado e fingir que o tenta agarrar, um bebé de 18 meses já agarra no lápis e lho dá (se estiver lá perto) sem que lho peçam. Pode começar já a agradecer-lhe quando a ajuda, e a ajudá-lo a ele quando ele precisa. Diga mesmo: ‘Não consegues subir esse degrau? A mãe ajuda’. Ou faça a seguinte experiência: peça a um bebé de 14 meses que lhe traga qualquer coisa boa para comer. Ele vai trazer um alimento de que ele próprio goste. Quatro meses depois, se lhe fizer o mesmo pedido, pode ser que ele lhe traga um alimento que já a viu comer antes, mesmo que ele não goste. Claro que nem todos os bebés são assim observadores, mas alguns já fazem esta distinção entre o que eles preferem e o que os pais preferem.

2 anos
Ajude-o a proteger as suas coisas. A maioria dos pais fica muito preocupada porque eles não querem emprestar os brinquedos: nesta idade, esqueça lá o emprestar, pelo menos da maneira clássica, porque eles ainda não estão preparados para isso e nem sequer brincam muito bem a dois. Pode no entanto ir falando da importância de partilhar. Quando vierem amiguinhos brincar com ele, pode ajudá-lo a esconder os seus brinquedos preferidos, estabelecendo que os comunitários (legos, carrinhos, triciclos) sejam para todos.

3 anos

Ensine os três básicos: obrigado, desculpe, por favor.
Ok: isto vai dar trabalho. Então mas não dissemos que ah e tal, não ia dar tanto trabalho assim? E é verdade: a partir dos 8 anos. Aos 3 anos, vai dar trabalho. “É mesmo cansativo porque temos de estar constantemente a lembrá-los, mas se for começado nesta idade, depois fica para a vida”, explica a terapeuta de família Helena Gonçalves Rocha. Mas o mais importante tem mesmo a ver com. o exemplo, pois. “Se o adulto agradecer e cumprimentar, mais facilmente eles copiam. Se vejo o meu pai ajudar alguém, fixo essa atitude como um padrão.”

4 anos
Explique-lhe que tem que dar a vez no baloiço. Comece a ensinar-lhes que não vivemos sozinhos no mundo, mas prepare-se que nesta idade ainda não vai ter grandes abnegações. Por isso dê um empurrãozinho. “É importante perceber que a empatia começa com eles: elogie-os quando, por exemplo, dão a vez num baloiço para outro menino andar”, lembra Helena Gonçalves Rocha. “Claro que para ele é muito difícil, mas por isso mesmo elogie. ‘Viste como o menino ficou contente?’ Se ele recusar, não insista, porque a empatia não se ensina à força. A regra do bom-senso é a mais importante. Mas legende o comportamento dele e dos outros.”

5 anos
Incentive-o a ajudar um amigo. Não é fácil incentivá-los a pôr-se no lugar dos outros porque eles francamente não se podiam preocupar menos com os outros. Mas habitue. “Oriente o foco através de perguntas simples”, sugere Helena Gonçalves Rocha. “O teu amigo ficou triste porque perdeu o casaco? Porque é que achas que isso aconteceu? Como é que podíamos ajudá-lo?’ O problema é que nós, pais, cada vez valorizamos menos a empatia. O que interessa é ser melhor, passar à frente, e a competição não se coaduna com a solidariedade.”

6 anos
Ensine a responder delicadamente. À medida que crescem, o cérebro amadurece, são mais capazes de se pôr no lugar dos outros. “Há coisas tão básicas e tão importantes como por exemplo ser gentil e ser grato, as bases da empatia”, explica Helena Gonçalves Rocha. “Os portugueses são muito sisudos, ainda temos permissão para sermos socialmente antipáticos, e é importante mudar isso: ‘faz o dia do outro um bocadinho melhor’, tem sido o meu desafio, porque a força de um sorriso é muito maior do que pensamos.”

7 a 9 anos

Dirija-o para situações concretas. “Pergunte: ‘Como correu hoje a escola, brincaste com quem, toda a gente tinha com quem brincar?’. Em vez de ‘o que é que comeste?’, em vez de ‘e que nota é que o Tomás teve’?, pergunte ‘então o teste, correu bem a todos? Por que é que correu mal ao Tomás?'” Claro: prepare-se para a resposta classicamente bruta do ‘porque é burro’. É aí que temos de atacar com subtileza. “Claro que eles têm sempre explicações básicas: teve má nota porque não presta atenção, ou porque se porta mal, e quanto mais pequenos são, mais isto reflete a atitude dominante, isto é, a atitude do professor”, nota Helena Gonçalves Rocha. Pode ser difícil lutar contra isto, mas pouco a pouco tente mudar a forma como ele vê os outros.

10 anos
Oriente-o para uma causa. Se ele já recebe mesada, ponha um jarro na entrada e incentive-o a contribuir com alguma coisa todos os meses, por pouco que seja. Ao fim do ano, escolham a quem oferecer esse dinheiro: a uma organização, a alguém que precise, para alguma causa? Enfim, isto também pressupõe que não se seja demasiado forreta na mesada.

11 anos
Incentive-o a fazer qualquer coisa de bom por alguém. Ajudar a levar as compras, elogiar a irmã, tomar conta de um animal doente, estar mais atento a um amigo que está triste ou a passar por uma situação difícil. Mas desative a ‘homilia’: não quer um ser humano a papaguear que o que interessa é sermos todos muito bonzinhos. Incentive os atos, o ir lá a casa dar uma ajuda nos TPCs, oferecer um ombro, ser carinhoso com os outros, ser atento, ser observador para perceber o que pode fazer. Claro que ‘incentivar’ não é ‘Ó Bernardo Maria, és tão preguiçoso, em vez de ficares aí especado a olhar, bem me podias ajudar com estes sacos, não?’. Assim não se consegue nada.

12 anos
Insista para ligarem aos avós, para lhes agradecerem o que fazem por eles, para não tomarem tudo como garantido. Parece pouco significativo, mas quantos adolescentes o fazem? “A maioria deles não o fará por eles próprios, por isso é dever dos pais insistir nesta atenção aos mais velhos”, lembra Helena. Não se esqueça de que está a treinar a forma como você vai ser tratada daqui a uns anos.

13 anos
Prepare-se para discutir filosofia. O que está certo e errado? Porquê? A adolescência é como voltar a ter 2 anos outra vez: eu sou eu, e os outros não interessam nada. Bem-vinda ao reino das discussões, das discordâncias. “Os adolescentes têm ideias muito preconcebidas e muito fortes, muitas vezes para provocar”, confirma Helena Gonçalves Rocha. “É nosso papel desconstruir, voltar a mudar o foco para os outros, chamar a atenção de que não se faz algo pelo outro por alguma recompensa mas pela alegria que isso nos dá.” Desafio: treinar isto sem passar sermão.

A partir de 14
Façam ações de voluntariado. “O mais difícil é isto: fazê-los ver que a recompensa é o ato em si. Nós temos recompensa monetária pelo que fazemos, eles não têm essa experiência, é normal que a queiram ter.”

E para acabar…
Afinal, as crianças são egoístas ou não? No natal de 2015, uma experiência em Atlanta, nos EUA, reuniu algumas crianças entre os 6 e os 11 anos de bairros desfavorecidos, fez-lhes algumas perguntas, e depois deu-lhes esta escolha: ‘têm à vossa frente o vosso brinquedo de sonho e um presente que vocês sabem que os vossos pais iam adorar. Só podem ficar com um. O que escolhem?’ Todas as crianças escolheram o presente para os pais. Que, escusado será dizer, acabaram em lágrimas.

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