A terapeuta de casal Margarida Vieitez, autora do livro ‘Verdades, mentiras e porquês’, identifica as principais queixas amorosas das mulheres e deixa conselhos úteis.
Não consigo encontrar um namorado
“Há várias razões: para começar, há poucos homens interessantes, é o que me dizem as mulheres. Mas também pode ter a ver com a ansiedade feminina. As mulheres estão muito ansiosas para encontrar parceiro e isso assusta os homens. Eles ainda gostam de conquistar. Comece por saber quais as características que procura e não inicie uma relação com alguém de quem não gosta só porque está sozinha. Cuidado com o ‘não há príncipes encantados e se fores muito exigente vais continuar sozinha’. Não há homens perfeitos, mas devemos persistir em encontrar alguém que nos ame de verdade. É legítimo ser exigente. Se passar por uma fase a solo, aprenda e divirta-se com os amigos. Hoje já ninguém precisa de um homem para ser feliz. Importante – avalie bem a situação antes de namorar um homem em fase de divórcio: não estão preparados e a relação pode não ter futuro.”
Ele não me ouve…
“Pode ser falta de tolerância, de compreensão, de generosidade, e sobretudo de empatia. Se é intrínseco à pessoa, ela não vai mudar. Se é uma fase, é possível ‘treinar’. Aliás, é das primeiras coisas que se aprende em terapia: escutarem-se olhando nos olhos um do outro. Ouvirem-se significa respeitarem-se. Geralmente, os homens têm medo de ouvir e as mulheres têm medo de falar. Recebo mulheres fantásticas com um medo horrível de dizer o que sentem. Elas têm muita dependência emocional, e os homens jogam muito com o medo que elas têm de ficar sozinhas. Não se calem. Quem não ouve, não ama.”
Não responde às mensagens que eu envio
“É interpretado pelas mulheres como rejeição. Pode simplesmente não lhe apetecer responder, pode estar num momento mau, pode precisar de sossego, e as mulheres não sabem lidar com isto. No início da relação, ele pode estar a pensar se quer ou não quer comprometer-se (o compromisso é cada vez mais difícil, o saltar de relação em relação é publicitado em toda a comunicação social). Ou tem mesmo outra relação e está a pensar com quem quer ficar. Isto acontece. Às vezes há mesmo razão para as mulheres se preocuparem. Mas não pressionem! Tentem perceber o que está a acontecer, não se deixem arrastar nessas situações de equívoco que geram uma ansiedade brutal, e confrontem-no. Mais vale esclarecer a situação.”
Estamos sempre a discutir
“É mais fácil discutir que conversar. A maioria dos casais deixa de saber conversar e cai logo na ‘guerra’: é o registo da culpa, da generalização, da vitimização e da ameaça. Sentimo-nos muito inseguros do amor dos outros. E como não conversamos, vamos acumulando ressentimentos, mágoas do passado não resolvidas, e defesas que construimos quando nos sentimos ameaçados. Há que demolir esses muros e conversar sem magoar o outro. Isto dá trabalho, mas ter uma relação dá trabalho.”
Ele não diz ‘amo-te’
“Mais uma vez, tem a ver com o medo do compromisso: há pessoas que tiveram uma relação primária sem vínculo seguro, sem afetos, e não conseguem amar os outros. É muito difícil amar uma pessoa que não se ama a si própria. Portanto, este ‘amo-te’ nunca vai acontecer. Se isto for muito importante para si, deve procurar outro companheiro. Depois, há os que saltam de relação em relação, fugindo da intimidade, porque têm medo de sofrer. As mulheres acham que a culpa é delas quando tem a ver apenas e só com os homens. Há muitos que começam a ‘inventar’ discussões para que a culpa pareça delas e a relação acabe. É muito importante que as mulheres percebam estes sinais e se afastem. Porque não vão ter uma família nem um projeto comum com estes homens que não conseguem manter uma relação. Por outro lado, há várias maneiras de dizer amo-te. Pode não ser dito mas ser posto em prática, por exemplo.”
É muito inseguro
“Muitos homens perguntam-se ‘porque é que ela precisa de mim?’. Eles têm muito receio de serem postos de lado. É muito cultural: hoje, as mulheres já não precisam de homens que lhes resolvam os problemas, precisam de partilha emocional e amor. Querem sentir-se uma prioridade na vida de alguém. E muitos homens dizem ‘eu não consigo estar à altura’. As mulheres esforçam-se muito para ‘puxarem’ sozinhas uma relação, mas uma relação depende de duas pessoas. Elas querem homens à altura delas ao nível dos afetos, e muitos homens ainda acham que têm de ter carros e dinheiro.”
Ele traiu-me…
“Há muitas pessoas que não conseguem manter vínculos sólidos e de fidelidade. E outras precisam de adrenalina extra, de situações de risco. Ou então trata-se de um caso pontual, em que a pessoa foi à procura de valorização fora do casamento. Se um casamento pode sobreviver a uma traição? Pode. Sem dúvida. Cada vez mais acredito que é possível reconstruir a confiança, mas a relação será uma nova relação. Muitas vezes melhor.”
AGUENTO OU BATO COM A PORTA?
“Todas as relações passam por momentos difíceis. Um casamento não é estanque: há influências do trabalho, do mundo, da família. Mas amar não significa ‘aguentar’. Não tenho de me calar, de fazer o que ele quer, de suportar críticas, pelos filhos, ou porque ganho menos, ou porque tenho medo de ficar sozinha. Ensine aos outros como quer ser tratada: uma pessoa que não lhe permite expressar as suas emoções é uma pessoa que não a ama. Portanto, aguentar ou bater com a porta é uma decisão pessoal: mas tente perceber quais são as razões para uma ou para outra.”