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É talvez dos momentos mais importantes de uma pessoa: estou a acabar a minha escolaridade obrigatória, o que é que vou fazer para o resto da vida? Claro que um curso ou uma universidade nem sempre define isso, mas é um rumo inicial. Partimos do ponto de vista prático e fomos analisar as propostas mais interessantes em termos de mercado.

Todos os anos o portal Infocursos (gerido pela Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência com o apoio da Direção-Geral do Ensino Superior) publica dados referentes aos cursos superiores em Portugal. Em 2020, os 3 cursos com taxas de desemprego mais baixas foram ciências biomédicas, enfermagem e engenharia informática.
O curso de licenciatura em Ciências Biomédicas Laboratoriais no Instituto Politécnico de Lisboa lidera o ranking dos cursos com mais ‘saída’ em 2020 (claro que a estatística tem apenas em conta a empregabilidade e não a segurança do vínculo ou o salário). Diversos cursos de licenciatura em enfermagem, quer do ensino superior público quer do privado, estão igualmente no ranking dos cursos com menos desemprego (liderados pela Escola Superior de Enfermagem de Lisboa, o Instituto Politécnico de Santarém, a Universidade de Aveiro ou a Universidade Católica) tal como engenharia informática. Os lugares seguintes no ranking do emprego são ocupados pela economia, bioquímica e engenharia eletrotécnica. Por outro lado, há outros cursos que aparecem bem cotados no mercado: fisiologia clínica, ortóptica, ciências farmacêuticas, ciências forenses, educação básica, desporto, pilotagem ou ciências do meio aquático. Ou seja: ainda há muito por onde escolher.
Peguei nos dados e estatísticas e fui procurar quem trabalha todos os dias com o mercado de trabalho. Erica Alves Pereira é Associate Director da Randstad Portugal, uma empresa de assessoria de Recursos Humanos que ajuda tanto candidatos à procura de emprego como empresas à procura de candidatos. Cada vez mais as universidades apostam nesta proximidade com as empresas, e cada vez mais contactam empresas como a Randstad para fazer essa ponte com os estudantes. Segundo o estudo ‘Randstad Employer Brand Research 2021’, sobre emprego, empresas e mercado de trabalho, as áreas mais atrativas para trabalhar em Portugal são as informáticas e telecomunicações, a consultoria, a saúde e o turismo. “Todas essas áreas se vão manter como muito atrativas para encontrar emprego”, confirma Erica Alvez Pereira.
Vamos então a uma simulação. Imagine que eu tenho 18 anos e tenho de escolher um curso. Isto vai depender de muitas variantes, as minhas aptidões, capacidades, gostos. E depreende-se que já tenha pensado no assunto e não chegue aos 18 sem uma ideia. Mas de uma maneira fria, o que é que uma especialista em mercado de trabalho aconselha? “Não pode atirar-se de cabeça para um curso pensando apenas no salário quando daqui a um ano ou dois tem imensas probabilidades de estar desmotivada”, explica Erica Alves Pereira. “Em vez de pensar ‘o que é que me poderá trazer mais sucesso’, devo pensar ‘onde é que eu poderei ter mais sucesso’. E tentar juntar estas vertentes.”

Cursos com maior empregabilidade

A experiência de Erica reforça a informação do Infocursos, colocando apenas as engenharias em primeiro lugar. “Portugal é o segundo país da União Europeia que forma mais engenheiros (a seguir à Alemanha). Dentro das engenharias, as mais atrativas são a engenharia informática, engenharia de computadores, a engenharia física, a engenharia de telecomunicações (cada vez mais procurada, até pela questão do 5G), e as engenharias eletromecânicas (um curso cada vez com mais interesse para os empregadores e que dá aos alunos possibilidades em variadíssimas áreas).”
Escolhido o curso, onde posso estudar: nesta área, como em todas as outras, muitas vezes tudo depende do perfil do aluno e do que pretende do curso, e há muitíssimas alternativas em vários pontos do país. Mas em termos de empregabilidade, Erica Alves Pereira defende: “O Instituto Superior Técnico é sempre uma garantia e está sempre no topo. A Universidade do Porto continua tradicionalmente bem vista e forte. Mas o mercado tem mostrado abertura a outros locais, como a Universidade Nova, que já forma muito bons engenheiros, e a Universidade de Aveiro, que começa a ter grande reconhecimento.”
Top 2 da empregabilidade: toda a área da saúde, principalmente a medicina e a enfermagem, juntamente com as ciências biomédicas e laboratoriais, com vários locais onde estudar. Outra área com boas hipóteses continua a ser a da economia, gestão e finanças, que continuam a ser cursos com muitas saídas, principalmente para consultoria. “Atualmente, um ‘business analyst’, por exemplo, é requisitado em todas as áreas”, nota Erica Alves Pereira. “A área de contabilidade continua muito procurada pelos empregadores, e aqui há lugar para pessoas com cursos de economia ou gestão por uma questão simples: por causa dos idiomas.” Desculpe? Os idiomas? “É difícil encontrar um contabilista que fale bem inglês. Os nossos gabinetes trabalham cada vez mais com empresas internacionais, que precisam de ter contabilidade organizada em Portugal. Curiosamente, continuamos a ter uma camada jovem que não domina o inglês, mas quem tiver alguma ambição de carreira deve fazê-lo porque vai dar-lhe muito jeito. Aliás, cada vez mais, quem tiver mais valências melhor se vai orientar.”
E há muito onde estudar finanças. Algumas ideias são: “A Católica, a Nova, o ISCTE, têm tradição, têm bons planos de curso, têm bons docentes.” Mas mais uma vez, há muitos outros bons cursos onde estudar.

A área-surpresa

Tem um filho bom com números? Segundo Erica Alves Pereira, pode sugerir-lhe… o curso de matemática. “A área da matemática e estatística não é muito falada porque o número de vagas é pequeno mas tem muitíssimas valências.” E os licenciados são muito requisitados. “Mas isso também tem a ver com a forma como a matemática é trabalhada ao longo do percurso escolar. Se eu no secundário não for desperta para a matemática, eu não vou seguir matemática. Mas se investigar as ‘saídas’ para os cursos, é das áreas com mais aplicações, e não apenas em banca ou finanças. Por exemplo, a área dos seguros é vista como desinteressante, mas é atualmente das melhores áreas para se trabalhar.”
De qualquer forma, um curso superior não é obrigatório para arranjar emprego no futuro. “Se o meu filho for um bom técnico, terá muito boas possibilidades de ganhar bem a vida”, nota Erica. “E se depois quiser estudar mais, pode partir para uma licenciatura.”
Portanto, quando se está à procura de um curso, um estudante deve pensar em primeiro lugar ‘onde é que isto me vai levar’, e pesquisar as alternativas. E um curso não é tudo. “É quando começar a trabalhar que vou provar o meu valor”, explica Erica Alves Pereira. “Uma pessoa pode ter saído do Técnico com 16 mas depois não saber trabalhar em equipa, por exemplo. Tanto as empresas como os estudantes têm de começar a perceber que cada vez mais são precisas competências comportamentais.”
Uma pessoa com hipóteses de ter sucesso em qualquer carreira: “Alguém com inteligência interpessoal, capaz de criar bom ambiente, com boas capacidades de comunicação, que consiga sair dos bits e dos bytes e explicar o que é que faz a quem não percebe nada da área, e isto não se ensina no curso, é um trabalho de vida e dos pais.”

Não gosto de números

Regresso ao passado: então e se eu não der mesmo para números, não puder ver sangue, não tiver qualquer interesse em empresas nem em computadores, e se quiser seguir qualquer coisa que não tenha grande ‘empregabilidade’, seja isso o que for, faço o quê? “Se fosse minha filha, eu iria orientá-la sempre para um equilíbrio entre o que gosta e aquilo que o mercado tem para lhe oferecer”, reforça Erica Alves Pereira. “Imagine que quer seguir jornalismo: eu pergunto-lhe: ‘Mas de que é que gostas exatamente? De escrever, de estar em frente de uma câmara, de comunicar?’ As suas capacidades e gostos podem aplicar-se a muitas outras áreas. Muitas vezes, os miúdos têm pouco mundo, criam sonhos limitados, e sofrem muitos embates com a realidade, que poderiam ter sido poupados apenas com um pouco de planeamento prévio, investigação e bom senso. Há tanto para fazer! Claro que, enquanto mãe, eu não vou obrigar a nada, até porque não quero tê-la à minha frente daqui a dez anos a dizer ‘Tirei o curso que tu querias e agora sou uma infeliz’. Mas posso ajudá-la na busca, conhecê-la bem, saber os seus pontos fortes e fracos. Isso previne muitos caminhos errados.”

Outro lugar-comum que ainda tolhe muitas vidas é o preconceito de ainda se acreditar que há cursos ‘mais masculinos’ e ‘mais femininos’. As raparigas são orientadas para saúde e educação, os rapazes para tecnologias e matemáticas. Saber que todos podem estudar o que quiserem pode abrir mais horizontes, mesmo que uma rapariga não tenha nenhuma tia formada em engenharia mecânica e um rapaz não tenha um pai bailarino ou educador.

Estudar lá fora

Quem quiser estudar no estrangeiro tem de começar a planear tudo com seis meses de antecedência, para conseguir reunir os documentos necessários (como exames de inglês ou vistos). Cada país e universidade tem o seu sistema (saiba mais em www.universia.net.com). Segundo o ranking anual e mundial organizado pelo Times, o top 200 é ocupado por muitas universidades britânicas e americanas, mas há diferenças entre os dois sistemas. Com o Brexit, os alunos europeus já deixaram de beneficiar dos mesmos direitos dos alunos britânicos, e cada universidade passou a definir as suas propinas (saiba mais em study-uk.britishcouncil.org/moving-uk/eu-students). Mas tenha atenção às deadlines: há universidades que terminam a primeira fase de candidaturas em janeiro, por exemplo. Outras têm o último deadline em junho.

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