Foto Pexels/Alexander Grey

“Já escrevi muitos ensaios sobre a nossa perceção das coisas e dentro da gramática visual a cor é o mais impactante. Mas percebi que os meus alunos chegavam muito mal preparados, porque apesar de a cor ser um universo fascinante, é também complexo e contraditório. A Hannah e o António Damásio já mostraram que não há razão sem emoção, e a cor desencadeia muitas emoções.

A pergunta ‘Porque é que as coisas são desta cor e não doutra?’ deu origem a este livro. E para que servem as cores? Ajudam-nos a sobreviver. Conseguimos vê-las com profundidade e contornos porque nos protegem. Pela cor, sabemos por exemplo se uma alface está fresca ou não. O vermelho pode indicar que uma baga é periosa ou que uma mulher é sedutora (curiosamente, na espécie humana é a fêmea e não o macho que ‘muda de cor’ para acasalar).

O uso da cor é cultural: as cores de África por exemplo, são diferentes das nossas. Em Portugal, mantemos muito o hábito de nos vestirmos de preto. Sempre fomos um país de gente introvertida e discreta – e económica. Se as mulheres se vestissem sempre de preto, ninguém ia perceber que elas estavam sempre com a mesma roupa. Depois, quando as mulheres entraram no mercado de trabalho, passaram a imitar os homens: o preto era a cor com que se ia trabalhar. Agora passou-se um pouco para o azul-escuro, que é um sub-preto. São cores que se transformam facilmente com um acessório, o que não acontece com um estampado.

Eu antes de deixar de fumar e engordar, não tinha nada preto. E percetualmente, é mesmo verdade que o preto emagrece. Mas mesmo que esteja de preto por fora, uso lingerie de cor. O Oriente já nos ensinou a influência da cor. Porque a cor sente-se. Por exemplo, há uns anos fez-se esta experiência: depois de uma corrida puseram-se alguns cavalos numa box laranja e outros numa azul. Os cavalos da box laranja ficaram muito mais enervados. Pela mesma razão, não devemos dormir num quarto laranja.

Em termos de física de luz, a cor não existe. O que existem são comprimentos de onda. Temos na retina células nervosas sensíveis preferencialmente a 3 comprimentos de onda – azul, amarelo e vermelho – que são as cores mais claramente diferentes entre si (o verde é quase igualmente distinto porque é uma junção do amarelo e do azul, que estão muito longe uma da outra). As marcas jogam muito com as cores primárias nos seus logotipos. Os móbiles que se põem por cima dos bebés também são feitos de cores primárias, mais puras, para que lhes deem mais atenção.

Destas 3 cores, o vermelho é a mais impactante, e foi sempre considerada pecaminosa, porque desencadeira desejo e desconfiança. Mas a cor da prostituição, dos ladrões ou dos proscritos era o amarelo (a estrela dos judeus, por exemplo). Dos poucos aspetos positivos do amarelo é a Camisola Amarela do ciclismo. Mas até as cores têm tendências: neste ano que passou, notou-se muito a conjugação de amarelo e azul, as cores da Ucrânia.

O dia é quando as cores existem. De noite na verdade todos os gatos são pardos, porque sem luz as células dos nossos olhos não são muito sensíveis à cor. Mas a nossa perceção é muito contextual e convencional. Por exemplo, antes dos primeiros mapas, achava-se que o mar era verde. Só quando foi preciso distinguir o mar da terra é que se passou a ‘colori-lo’ de azul, e agora na nossa cabeça o oceano é azul, que é a cor das águas profundas.

Há cores que nos parecem pesar mais: uma mala preta parece-nos mais pesada que uma branca. Num quadro do Rotkko, achamos estranho que cores escuras ou saturadas estejam em cima e cores claras em baixo. Não estamos à espera que um iogurte natural tenha uma embalagem preta. Numa prova cega com refrigerantes de laranja e limão, se as garrafas forem da mesma cor, as pessoas têm dificuldade em distinguir os sabores. Porque a cor também nos poupa tempo no dia a dia. Imagine que entrava num supermercado e as embalagens de iogurte eram todas da mesma cor: ia perder ali horas a perceber onde estavam os de morango, os de limão, etc. A cor pode indicar uma marca e dentro da marca, um sabor.

A cor é a linguagem do olho, porque embora haja coisas que tenham de ser aprendidas (não nascemos a perceber que aquelas bagas vermelhas nos matam), a intuição guia-nos e a cor ajuda muito: e marca-nos pessoalmente. Eu por exemplo, cresci num quarto escuríssimo verde-garrafa. E nunca suportei roupa verde, sem saber porquê. Só há pouco tempo, quando entrei no meu antigo quarto, é que reparei na sua cor.

Portanto, a cor pode marcar muitíssimo a nossa vida. Mas sabia que as mulheres raramente são daltónicas? Isso tem a ver com uma anomalia de cromossomas mas pessoalmente acho que também é um bocado falta de uso. As mulheres sempre foram mais sensíveis à cor por causa da roupa. Quantos homens conhece que estejam numa loja a dizer ‘Não sei se isto é verde-água ou azul-piscina…’ (risos)”

Foto Bárbara Soares

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