
Em www.psychologytoday, no artigo ‘Effort and value’ (Esforço e valor) o psicólogo americano Joachim Krueger desconstrói a palavra esforço: afinal, o objetivo de todos nós humanos (e não humanos) não é fazer o mínimo de esforço possível? Sim e não. O problema é a palavra. Todos nós mamíferos gostamos de passear e brincar. O drama começa quando isso exige suor, ou seja, pede que nos cansemos.
E dizem vocês: geralmente esforçamo-nos por causa de alguma recompensa. Um salário ao fim do mês, a aprovação dos nossos pais, uma boa nota. Mas as coisas também não são asism tão simples.
Segundo um estudo que ele próprio conduziu, a conclusão era: é fantástico ter resultados muito bons, mas é preferível ter resultados menos bons se não tivermos de nos esforçar tanto.
Mais uma vez, as coisas voltam a não ser assim tão simples. Segundo um estudo clássico, podemos esforçar-nos por outras razões que não apenas recompensa. E esforçamo-nos por reflexo, paixão ou hábito.
Esforçamo-nos ainda, por exemplo, quando o esforço é tanto que nem pensamos na razão por que nos esforçamos: quando corremos uma maratona, por exemplo. Também nos esforçamos por esperança e frustração: sabemos que aquele esforço nunca vai dar resultado, mas esforçamo-nos na mesma na esperança que um dia funcione. Claro que nem toda a gente faz este tipo de esforço: se continua a esforçar-se na esperança de receber um ordenado e ele não chega, nem sempre o patrão tem a sorte de manter os seus trabalhadores na linha de montagem…
Mas vamos a uma queixa recorrente de pais e professores: que os miúdos hoje ‘não se esforçam’. O que é natural: estamos num mundo onde basta fazer ‘scroll’ num ecran e tudo lhes aparece feito, e a IA ainda veio complicar /simplificar mais a coisa. Mas também é verdade que nós adultos deixámos de os incentivar e de saber mostrar que o esforço vale a pena. Aquela ideia cheia de boas intenções ‘o que importa é o esforço e não o resultado’ também não incita ninguém a esforçar-se. Para quê esforçar-nos se depois o resultado não interessa nada? Para quê esforçar-nos, de facto?
Segundo o psicólogo Jeffrey Bernstein, em ‘Why ‘Do Your Best’ Isn’t Always Best for Your Kids’ (Porque ‘faz o teu melhor’ nem sempre é o melhor conselho’) deviamos começar já a mudar este, em bom português, mindset.
Porquê: porque pode fazer ricochete. Afinal, ninguém é capaz de fazer o seu melhor constantemente. Em vez de pregar lições de moral quer para os obrigar a fazer melhor quer para os desculpabilizar e desresponsabilizar quando não fizeram, porque não ser simplesmente prática? Encoraje o esforço mas não culpe se as notas não foram fantásticas. Pergunte de que tipo de ajuda precisam: uma explicação, uma ajuda pontual? Saiba o que aquela criança pode dar: se 80% é o melhor, então é o melhor. E dizer: ‘Vês como quando te esforças consegues?’
Puxe pelos seus pontos fortes. Em Portugal temos muito a mania de dizer ‘Ai se não tens mesmo jeito para matemática é aí que vais focar a tua existência’. Porquê? Se calhar ele será muito mais feliz se tirar uma nota média a matemática e dedicar mais tempo a outras disciplinas de que gosta verdadeiramente…
Também é importante a responsabilização. Não se esforçou? Então deixe-o ter uma má nota. Às vezes também não os deixamos aprender com as consequências.
Ou seja, é importante recomeçar a valorizar e dirigir o esforço. Não conseguimos nada se não nos esforçamos mas também é importante saber porque o fazemos. E se não o fizermos por paixão, temos de começar a fazê-lo por hábito…