Teresa L., Andreia T. e Rita S. têm 29 anos e são amigas desde os tempos do liceu. Sempre que a vida profissional lhes permite não desgrudam umas das outras: vão ao cinema, ao ginásio, e de férias juntas… tudo menos fazer compras. Aí a Rita prefere ir sozinha porque não gosta dos olhares reprovadores das amigas:"eu sei que não consigo controlar-me e que estou sempre a arranjar desculpas para comprar roupa ou coisas para a casa: ou é porque estou triste ou porque estou feliz… vou gastando até o banco me telefonar a avisar que estou a atingir o limite do cartão de crédito. A Teresa e a Andreia estão sempre a dar-me na cabeça mas eu ADORO fazer compras, adoro… sinto-me bem cada vez que tenho uma coisa nova".
Mas o ímpeto consumista não ataca forçosamente todas as pessoas, nem se manifesta sempre da mesma maneira, mas, apesar da crise, muitos são os que sentem ser cada vez mais difícil escapar-lhe.
Preciso de ter… já!
Sim, as compras podem ser um prazer saudável e controlado, mas não é desses que queremos falar. Queremos falar da compulsão para ter sempre o último grito seja do trapo, do gadget ou do cd. Se muitos são os que não podem ver lojas à frente por alturas do Natal, para os compradores compulsivos, esta pode ser uma das alturas mais críticas.
No extremo isto corresponde a pessoas patologicamente doentes, mas em certa medida todos podemos sofrer de dificuldades em controlar aquilo a que os especialistas chamam ‘satisfação diferida’ e que é basicamente a capacidade de esperar para obter algo que se quer. Os compradores impulsivos quando querem algo têm de tê-lo imediatamente. A sensação é-lhe familiar?
E você é consumista?
Se adora fazer compras e acha que o controlo lhe está a fugir por entre os dedos verifique o número de itens que marca nestas questões:
– Costuma fazer compras não planeadas?
– Tem dificuldade em controlar-se quando está nas lojas trazendo mais peças do que contava?
– Deixa-se facilmente contagiar pela febre do último grito da moda?
– Sente-se perdida sem cartões de crédito?
– Costuma ir às compras para aliviar uma neura ou depressão?
– Compra coisas com cartão de crédito que nunca compraria se tivesse de pagar a pronto?
– Tem mais roupa e sapatos do que poderia usar?
– Dá por si a ocultar as compras que fez dos seus familiares?
Assinalou pelo menos cinco respostas? Então o melhor talvez seja melhor fazer marcha-atrás porque – não há como dizê-lo com palavras bonitas -, você é provavelmente uma consumista inveterada e deve procurar ajuda especializada antes que as despesas a façam entrar num buraco sem fundo.
Que tipo de compradora é você?
Compradora compulsiva – compra por impulso e depois arrepende-se
Compradora de pechinchas – Não resiste a pechinchas e perde-se nos saldos
Compradora bulímica – Tem surtos de compras incontroláveis e depois devolve metade.
"Gosto de compras, e então?"
Se tem dinheiro para gastar e é feliz assim, nada a dizer. O problema é que a maioria dos compradores por impulso acaba a gastar mais do que ganha. Dívidas acumuladas juntamente com artigos raramente usados são receita certa para conflitos familiares e depressões. Tanto que muitos médicos consideram esta dependência tão perniciosa como o alcoolismo ou o jogo, podendo mesmo justificar-se o tratamento psicológico.
O que nos faz comprar em excesso?
O estudo da universidade de Stanford, nos Estados Unidos, responde:
– Necessidade de preencher um sentimento de vazio interior
– Incapacidade para tolerar sentimentos negativos
– Procura de excitação
– Procura de aprovação exterior
– Perfeccionismo
A tristeza faz-nos gastar mais
A maior parte das pessoas a quem pedimos depoimentos até admitiu facilmente ter tendência para compensar sentimentos de neura com as compras. Mas se já tínhamos ideia que isto era assim, o que talvez não soubéssemos é que a tristeza, mesmo momentânea, pode levar-nos a avaliar o valor dos objectos de forma distorcida. Investigadores norte-americanos concluíram, num estudo publicado no Psychological Science Journal, que quando estamos em baixo podemos não só pagar mais pelas coisas do que elas valem como muito mais do que estaríamos dispostas a gastar se estivéssemos num estado neutro. Isto acontece porque a tristeza se liga facilmente à desvalorização pessoal que depois se tenta compensar com aquisições exteriores.
Os homens também sofrem…
…de consumismo. Se é inegável que numa observação empírica o sexo feminino parece ser mais atreito a esta forma de escape (pelo menos no que toca a roupa e sapatos) ninguém duvida que eles se percam com outros gadgets, sejam telemóveis, relógios, LCDs ou Playstations. Se eles negarem podemos responder-lhes que, de acordo com um estudo da Universidade de Stanford de 2006, ambos os sexos sofrem desta perturbação – compras compulsivas- em igual medida.
Controle o monstro
– Compreenda a origem emocional do seu impulso.
– Não gaste dinheiro que não tem.
– Crie o hábito de fazer orçamentos mensais.
– Elimine o hábito de usar o cartão de crédito de forma recorrente e não tenha mais do que um.
Não procure aprovação exterior
Há outra face escura nestes ímpetos que pode não ser fácil de aceitar. É a ligação do consumismo à falta de auto-estima. A psicóloga Isabel Silva explica o mecanismo: "Perante um sentimento de vazio emocional ou de falta de valor próprio, as pessoas procuram conforto e aprovação exterior". Incapazes de lidar com estas questões dolorosas, os objectos exteriores reluzem como a solução salvadora que vai trazer a paz e a felicidade. "Claro que invariavelmente isto dura pouco tempo mas quando passa há sempre outro objecto que surge e é imperativo ter".