Nuno Carvalho, proprietário, viu pela primeira vez o apartamento numa sexta-feira de Dezembro, à noite, com a ajuda de uma lanterna que lhe foi desvendando umas águas-furtadas ‘esquartejadas’ em mil e uma divisões. Os espaços eram pequenos, cada qual exibia uma cor forte, a cozinha era praticamente inexistente (contava cerca de 3 metros quadrados), mas estes argumentos não o demoveram de adquirir a casa, que considerava ter grande potencial, logo após a primeira visita. Decidiu pôr mãos à obra, adjudicando o projecto ao arquitecto Eduardo Quintela.
O princípio base da remodelação assentou em manter a traça antiga do apartamento, actualizando os espaços às necessidades do novo habitante, num traço contemporâneo realçado pela claridade do branco. A sala estava retalhada em três compartimentos, pelo que, para ganhar amplitude, se anularam paredes divisórias, mantendo parte da gaiola pombalina à vista.
Uma outra divisão interior e um corredor deixaram também de existir para que o quarto, antes com menos de 10 metros quadrados, o WC e a cozinha ficassem com áreas mais confortáveis. A casa de banho foi reformada em linhas sóbrias, enfatizadas pelo pavimento e revestimento a pastilha preta, material utilizado na estrutura onde assenta o lavatório. Uma das paredes exibe um grande espelho, contíguo ao lavatório e à banheira, que, para além da utilidade óbvia, tem a função estética de conferir profundidade ao WC. Na cozinha imperam o branco dos móveis (com puxadores metálicos) e os cinzas do chão e bancada, sobre a qual, na zona de lavagens, corre uma calha em inox para acessórios utilitários, como o escorredor de loiça. Outro registo conhece-se no quarto, onde a madeira é quem mais ordena, uma vez que a atenção se concentra na estrutura da gaiola pombalina, a marcar a separação entre as zonas de dormir e de vestir.
Na sala, a intervenção resultou em 40 metros quadrados unificados, com duas áreas principais distintas, a de estar e a de refeições, e um pequeno recanto luminoso organizado sob uma janela de tecto. As partes esconsas foram aproveitadas para arrumação, daí o jogo de prateleiras brancas a todo o comprimento de uma das paredes. Aqui, alinham-se livros e revistas, alguns acessórios decorativos, fotografias de amigos e familiares e ainda uma espécie de bar improvisado. Nuno privilegiou o espaço em detrimento da profusão de peças. Aquando da mudança, trouxe apenas a televisão e a cama, e a partir daí foi progressivamente decorando a casa, "ao ritmo de homem solteiro", palavras do próprio. A dicotomia branco/preto ditou a decoração, servindo-lhe de base, à qual se juntaram apontamentos de vermelho, azul e laranja nos acessórios decorativos e utilitários. Neste apartamento, de três assoalhadas, há lugar para o contemporâneo da estrutura e de grande parte do mobiliário e para épocas distantes a dos azulejos de rodapé e a do próprio pavimento em tábua corrida. Nuno não só atraiu os opostos, como, sobretudo, os colocou em diálogo.
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