Marta Fontes é mulher de vários interesses e ofícios. A profissão principal fá-la viajar, o que facilita a aquisição de diversas matérias-primas para as suas ‘joias’, que até podem ter a opulência visual que essa denominação implica apesar de o seu valor real não depender de metais preciosos, mas da cotação dada à imaginação e perícia de Marta. A não utilização de materiais nobres é um pressuposto das suas criações enobrecendo, ainda assim, cada pedacinho de renda ou tecido, de bordado ou lantejoula, de pérolas de fantasia ou fio de nylon com delicadeza e aprumo. A mãe muito contribuiu para este seu gosto de “brincar com as coisas”, passando-lhe o conhecimento dos tecidos, o prazer de os costurar e conciliar, incentivando-lhe a verve criativa e uma saudável extravagância. O jeito e diferenciação de Marta viriam a ser notados por ateliês de moda, como o Storytailors, do qual se tornou colaboradora. A decoração de interiores também consta do seu currículo, não só na formação académica como também pela participação em eventos como a Casa Decor (veja mais em martafontes.blogspot.com). Diz ter “uma verdadeira paixão por casas” e por tudo o que lhes vai dentro. Por isso mesmo, vibra com cada casa que habita. Esta fica perto de uma das ruas mais bonitas de Lisboa, a Rua da Academia das Ciências, num bairro onde Marta já vive há 13 anos, dos quais os últimos meses nesta casa, uma mudança determinada pelo nascimento do filho Martim, atualmente com nove meses. Com 120m², tem espaço suficiente para incorporar o ateliê onde executa bijutarias e acessórios e serve de gabinete de prova para potenciais compradoras. Aqui, a ambiência é de boudoir chique e feminino, com toques can-can. Há espartilhos, plumas, gargantilhas, máscaras venezianas, malas e muitos colares espalhados pelas paredes. O próprio guarda-fatos, herdado da avó Zé, lembra a época de Marie Antoinette, acentuado o caráter feminino e coquete do espaço. Marta gosta de criar ambientes temáticos e de materializar uma certa frivolidade feminina, que lhe dá muito gozo encenar. Chega a convidar amigas e fãs para lanches ou jantares com temas associados às suas coleções, com mesa posta em consonância. Na realidade, a área de exposição extravasa os limites do ateliê, disseminando-se um pouco por toda a casa. Há colares expostos em espaldares de canapés e cadeiras, em molduras e cabides. Coexistem com peças de família e telas, assinadas pelo marido e artista plástico António Sampa, entre muitas outras obras de arte. Há mobiliário recuperado, outro de antiquário e também adquirido em lojas comuns. Tudo se mistura sem preconceitos e Marta orgulha-se da história e do rasto que carregam. Uma vez, reparou numa tela de Fátima Caiado numa revista de decoração. À noite, sonhou com as sensações provocadas pelo quadro. No dia seguinte, por casualidade, passa numa montra onde a tela está exposta. Sem hesitações, comprou, apesar de dispendiosa para as suas disponibilidades financeiras no momento. No final do mês, recebeu um extra no ordenado correspondente ao valor do quadro… “Há coisas que têm de acontecer”, diz, assumindo a sua faceta mística. Fala com carinho especial dos pratos Fornasetti, herdados da tia Titi, em tempos proprietária de um antiquário. “Sou fã de Piero Fornasetti, homem muito arrojado, que gosta de brincar com objetos do quotidiano.” Na mesma medida, elogia Bordallo Pinheiro e as suas faianças, das quais guarda alguns exemplares. Marta encarrega-se de personalizar os lustres, outra das vertentes do seu trabalho, referindo sempre a mãe, Maria da Conceição Fontes, como mentora, a quem deve a admiração pelo feminino.
Uma jóia de casa
Também na casa é preciso descruzar a perna do comodismo e arriscar novos formatos. Veja os originais acessórios criados por Marta Fontes