
Audrey Hepburn em “Boneca de Luxo” (Breakfast at Tiffany’s)
Provar que são inteligentes, fortes, desinibidas, competentes. Mas por muito que tudo isso tenha a sua razão de ser, na época que atravessamos, com tantas conquistas feitas, penso que é tempo de reclamarmos a nossa feminilidade e pôr de parte alguns extremismos de carteirinha. Em verdade vos digo que nenhuma mulher que se maquilhe e use push-ups pode arvorar máximas das senhoras que queimavam soutiens sem cometer perjúrio. E convenhamos, há muita sabedoria nos ensinamentos das nossas bisavós: a modéstia, o recato, a coquetterie, saber ouvir (e dizer o que agradava ao ouvido) o uso sagaz da beleza (se bem que está provado que a beleza nem sempre é um bónus, principalmente no que aos relacionamentos diz respeito) e da expressividade, a graciosidade e as graças do espírito, eram formas inteligentes de usar a natureza a nosso favor, mesmo que isso significasse fingir-se menos inteligente do que se era na realidade. E nota bene que esses “truques” não estavam reservados a actrizes e cortesãs: meninas e senhoras de comportamento irrepreensível eram hábeis na arte de os manusear para levar o seu barco a bom porto. A promessa (ou ilusão) de um possível flirt, desde que não passe disso mesmo, é bem aceite em toda a parte. Porque a inteligência, como a beleza, intimida. Por vezes, é mais astuto não demonstrar tudo o que se sabe. Diziam os antigos que Deus nos deu dois ouvidos e dois olhos, mas só uma boca – para observar e ouvir duas vezes, mas falar só uma. E no caso das mulheres (que os homens tanto adoram tachar de tagarelas) isso é duplamente verdade. Sempre ouvi dizer que é preferível passar por circunspecta do que por tola. A mulher misteriosa e feminina tem sempre poder, porque está mais próxima da sua essência. A serenidade pode passar por inocência, sedução, pudor, altivez. Tem todas as promessas. Gera curiosidade. E salva-nos de falar demais. Se a graça feminina desarma, o silêncio permite filtrar a informação útil, escutar e estudar o adversário, descobrir muito revelando pouco e ainda parecer interessada no interlocutor. As nossas avós sabiam que bem aplicado, parecer bonita e não falar muito não tinha nada a ver com um papel decorativo (then again, convém que uma mulher esteja decentemente vestida quando usar essa estratégia, senão não tenho argumentos para a defender). Por isso, meninas do século XXI, reflictam: nos negócios, na carreira, no amor e no resto, há muito poder escondido nisso dosit there and look pretty. Da próxima vez que tentarem inventar algo de inteligente ou sedutor para dizer, pensem de novo. O silêncio pode ser o toque final.