E hoje eu – que ainda estou para descobrir porque continuo a seguir certos sites; se é porque no meio da tralha têm artigos de moda interessantes ou por curiosidade mórbida – fiquei apatetada ao ver este artigo a louvar a façanha de uma adolescente que “respondeu a um acto de bullying com graça e sentido de humor”.
Vamos lá ver se eu consigo explicar a história, porque vinha tão mal contada que não estou certa se percebi bem…
Carleigh O´Connel, estudante de 14 anos que vive em New Jersey, ficou muito aborrecida (será que ficou mesmo?) porque viu na praia – suponho que seja a praia que costuma frequentar – um grafittizito a dizer “Carleigh´s ass”. Sim, o derrièrre da Carleigh. Sem mais nada- nem um comentário a dizer se o referido é bonito ou feio, grande ou pequeno, se se sentou em algum sítio menos apropriado ou se o comentário era mesmo com ela ou com outra Carleigh qualquer.
Mas a jovem sentiu-se muito ofendida e dada a “forma única como o seu nome se escreve” (não creio que seja tão única como isso, mas que sei eu?) achou que era com ela. E vai daí foi, com o beneplácito e publicidade da mãezinha, tirar uma selfie a dar literalmente as costas à brincadeira, selfie essa que publicou logo no Instagram e que a mãe, igualmente desmiolada, postou no Facebook para o mundo ver.
Pimba, fama instantânea e viral nas redes sociais, e eis que temos uma nova heroína da imagem corporal, paladina das meninas que são gozadas pelos coleguinhas.
Enfim, isto é o mesmo que cada Carlota, Priscila, Caetana, Josefina ou Miquelina que viva numa cidade -não -tão -pequena- como -issoofender-se porque alguém escreveu numa parede “o traseiro da Carlota/ Priscila/ Caetana,/Josefina/ Miquelina”…só porque o nome não é o mais corriqueiro de todos.
Se escrevessem numa parede “o derrièrre de *vosso nome* ” será que não pensariam “há muitas Marias na Terra”?
Enfim, a Carleigh lá sabe a exposição que dará ao dito cujo, até porque ela não é nenhuma Kim Kardashian, não tem uns glúteos que se destaquem por bons ou maus motivos. Se acha que a sua “cauda” é famosa que chegue para ser mencionada num grafitti, (a pontos de não lhe passar pela cabeça que um banhista qualquer com uma namorada do mesmo nome, entusiasmado com a figura da mais que tudo, possa ser o autor da frase…) alguma razão ou piada privada haverá.
O que me choca não é a silhueta normalíssima da Carleigh. O que me choca não é *só* o facto de a Carleigh ter 14 anos e ser exposta desta maneira por attention whoring puro e simples.
O que me indispõe é, primeiro, a atitude da mãe para quem se virou em busca de orientação: há muitas formas positivas e bem humoradas de lidar com o bullying e sim, com o body shaming ou o que lhe queiram chamar. Qualquer mãe sensata (noutros tempos, pelo menos) dissuadiria a filha de dar ainda mais protagonismo à situação. Diria que não, filha, lamento desiludir a menina mas nem o mundo gira à sua volta nem o seu rabiosque dá assim tanto nas vistas.
Diria vá, que não havia provas. Ia comprar tinta para tapar o disparate. No limite, chamava a polícia porque há leis para estas coisas.
Mas não: a mãe disse “vamos lá, filha, vira o dito cujo para a câmara, coisa mai´linda!”. E publicou a imagem, porque toda a gente vai achar comovente e que não tem mal nenhum e porque não há tarados neste mundo nem nada.
Procurar fama à custa de uma brincadeira parva com uma resposta ainda mais parva, objectificar a menina, é bem um exemplo da falta de decoro e valores invertidos a que se tem assistido.
E segundo, perturba-me o elogio bacoco nas redes sociais…
Crónica: Momento “ai se fosse minha filha” do dia
Os média (principalmente os americanos) andam maluquinhos com as ideias de body shaming. Ai de quem comente a circunferência dos glúteos alheios ou diga algo do género do que o Bruno Nogueira disse e muito bem: cai o Carmo e a Trindade, com uma data de feministas a berrar que o que é bonito é para se ver (nem que não seja lá muito bonito) e aqui D´El Rei que é bullying, porque a exposição de pele a mais só as incomoda quando lhes convém.