
s.f. Qualidade do que é garrido; apuro excessivo no vestuário.
Sinónimo de garridice: coquetismo, faceirice e louçania
Os velhos compêndios de educação ( e os guardiães dos respectivos princípios ou seja, pais e avós mais tradicionais) reprovavam veementemente a garridice. Confundida muitas vezes com vaidade feminina – ou conotada erradamente com o amor à elegância – a garridice está associada à pretensão, afectação de maneiras, brejeirice, tafularia (ou ostentação) e à coquetterie demasiado evidente.
Quem recebeu esse tipo de princípios lembrar-se-á decerto de ouvir em casa coisas como “uma rapariga não deve ser coquette” ou pior, “levantada”, que é um superlativo insultuoso de “estouvada”. Tudo falhas de carácter que têm consequências desagradáveis, logo convém a pais e educadores limar desde cedo…
A garridice é um pouco disso tudo, e tem uma particularidade:
Nunca um defeito esteve tanto na moda e ao mesmo tempo, tão fora de moda.
É que a garridice está por todo o lado, mas ninguém fala nela. Ou pelo menos, ninguém a trata pelo nome. O termo caiu em desuso, mas poucas vezes terá sido tão necessário empregá-lo.
Nos nossos dias a garridice será mais brutalmente classificada como “attention whoring” e é um mal que afecta tanto pré adolescentes como mulheres feitas. O extremo da garridice actual manifesta-se no exagero de selfies e trajes demasiado reveladores ou poses pouco dignas, em conversas namoradeiras ou provocantes em público (chega a ser chocante ver como algumas meninas que mal saíram da infância falam sem que ninguém as corrija) ou na ostentação do “vejam o que comprei”.
Porém, não é preciso fazer coisas tão óbvias e de gosto duvidoso para “escorregar” da elegância para a garridice: é fácil a qualquer mulher que se orgulhe da sua aparência e faça por andar bem e à moda, mesmo moderadamente, cair na tentação de “dar nas vistas” ou de “ofuscar” fulana e sicrana por algum motivo. Mais subtil ainda, não basta preferir roupas discretas e de bom gosto para evitar a garridice, porque ela também se manifesta nas palavras, actos e pensamentos…e pode surgir por capricho, insegurança ou distracção. Como sem elegância interior não pode haver elegância alguma, a vigilância deve ser constante.
Então como se foge a tal armadilha na época do “eu, eu, eu”, das mulheres super poderosas e super confiantes? Como sempre, procurando o equilíbrio, chamando a si mesma toneladas de bom senso e fazendo diariamente um exame de consciência e de aparência. O maior erro é apontar os defeitos nas outras sem olhar seriamente para si e pensar que se sabe tudo.
Na aparência: tão ou mais importante do que ter um personal stylist, boas fontes de inspiração (de revistas e sites fiáveis) e/ou muito sentido de estilo, é ouvir a nossa consciência, mas jamais achar que só a nossa opinião vale. Se uma toilette nos desperta dúvidas – por ser reveladora, ostensiva ou literalmente garrida demais –
por algum motivo é. Em vez de despir a roupa em público (o que muita gente faz, salvo seja) uma mulher deve despir-se do conceito demasiado alto de si mesma.
Não custa nada descer do pedestal e pedir a opinião a pais e avós (ou outras pessoas sensatas) e ao pai/cara metade/irmão, pondo de parte a ideia de que tal parecer será automaticamente “careta” e “antiquado”.
Pessoas mais
velhas possuem geralmente uma noção melhor da
elegância clássica e os homens têm uma visão concreta do certo e do errado onde as mulheres podem errar por ingenuidade.
Escusado será dizer ainda que a fórmula mais segura será procurar a correcção e harmonia no vestuário, privilegiando a qualidade em detrimento da vontade de ser notada. Abandone-se o instinto de competição, que é o pior inimigo das mulheres. É certo que situações de tensão acontecem e usar algo que
transmita confiança é um grande remédio, mas há formas razoáveis de o fazer sem cair no ridículo. O que é digno de nota destaca-se sem esforço e pelos melhores motivos…
Há que encontrar fórmulas de styling, cabelo e maquilhagem que resultem para que estar apresentável surja facilmente e não seja uma fonte de obsessão constante.