
BernardaSv
O cancro do pâncreas, assim como os cancros do estômago, fígado, pulmão e cérebro, faz parte de um grupo de doenças neoplásicas bastante frequentes e muito graves. Pelo seu diagnóstico ser quase sempre tardio, aliado ao facto de ainda não existir uma terapêutica eficiente, a sociedade acaba por, naturalmente, tornar esta doença uma das “bestas negras” do universo da oncologia nos nossos dias (como se lê no Manual Informativo sobre o Cancro do Pâncreas disponibilizado pela Europacolon Portugal).
Apesar de o número de novos casos anuais ser inferior a outros tipos de cancro, se nada for feito, será a quarta causa de morte por cancro no mundo em 2020.No nosso país afecta, por ano, cerca de 1300 pessoas e tem a taxa de mortalidade mais elevada.
Por isso, o fundalmental é recolher o máximo de informação correta para que se perceba o que é de facto este cancro. Daí ser importante a disseminação dessa informação pelo maior número de pessoas. Mas a verdade é que, para evitarmos que o cancro “vença”, é preciso apostar cada vez mais na prevenção e no diagnóstico.
A ACTIVA falou com Dr. Carlos Sottomayor, Oncologista Médico, Diretor do Serviço de Oncologia do Hospital Pedro Hispano e Membro da Direção da Europacolon Portugal..
Quais são os primeiros sinais de alerta para este cancro?
Não há, em geral, queixas que sejam específicas nem sintomas de alerta. Podem existir dores abdominais, dores dorsais ou dores lombares, mas que podem aparecer noutras múltiplas situações. Se forem persistentes e resistentes à analgesia normal devem ser investigadas. A dor mais comumente associada ao pâncreas é a dor em barra mesogástrica que alivia com a posição de prece maometana. Pode também haver associadamente falta de apetite, emagrecimento e aparecimento de diabetes de novo com glicemias elevadas no sangue e na urina. A icterícia (tonalidade amarela das escleróticas dos olhos e da pele associada a fezes claras e urina cor do vinho do porto) sem cólicas associadas costuma ser já muito tardia mas já é mais específica e deve levar o doente imediatamente ao médico.
Existem neste momento formas de prevenir este cancro?
Não há ainda uma definição de fatores de risco e carcinogéneos específicos mas em geral os carcinogénicos já definidos e relevantes para esta doença são: o consumo de álcool, de tabaco e de gorduras animais. Portanto a evicção do álcool e do tabaco, a alimentação saudável e rica em fibras e pobre em gorduras animais, são formas de prevenir este e outros cancros do tubo digestivo e anexos.
Quais são as formas de diagnóstico especificamente do cancro do pâncreas?
Começam por ser exames imagiológicos – a ecografia, o TAC abdominal e a ressonância magnética, em caso de dúvidas, a colangioressonância pode ajudar a definir melhor a situação e a Colangiopancreatografia Retrógada Endoscópica (CPRE) (uma endoscopia digestiva alta que chega ao duodeno e entra através da papila de Vater) pode dar o diagnóstico histológico. Muitas vezes para se confirmar malignidade é necessária uma biópsia realizada através de uma endoscopia digestiva associada a ecografia – ecoendo.
Diagnosticado o cancro, quais são os passos a seguir?
Depois de conhecida a histologia e o estadio da doença, o doente deve ser avaliado em consulta de grupo multidisciplinar de patologia hepatobiliopancreático para se tomar uma decisão terapêutica, que pode ser a cirurgia de ressecção com intenção curativa se isso for possível (Duodenopancreatectomia radical), ou uma cirurgia de derivação biliodigestiva se houver compressão biliar com icterícia e compressão digestiva com vómitos e se não for possível fazer a cirurgia radical. Em alguns casos pode fazer-se a colocação de uma prótese biliar por via endoscópica se houver só compressão biliar e não digestiva. É ainda possível fazer-se quimioterapia pré operatória com o objetivo de reduzir o tumor e torná-lo operável, a quimioterapia pode também ter o objetivo de atrasar a evolução de uma doença não operável ou metastizada., A radioterapia pode também ser uma opção para controle local da doença ou para controlar melhor as dores associadas à invasão local da doença.
Qual é a esperança média de vida para o doente?
Depende do estadio inicial e da hipótese de ser ou não operado, em média a sobrevida aos 5 anos é inferior a 10%; a sobrevida média dos doentes não operáveis ou metastizados é inferior a um ano o que significa que alguns poderão sobreviver mais, outros menos. Este mau panorama é para os adenocarcinomas que são a esmagadora maioria das situações. Existem também os carcinomas neuro endócrinos que são tumores em geral muito menos agressivos, com evoluções muito mais indolentes e que podem sobreviver muitos anos mesmo com a doença não tratada como foi o caso do Steve Jobs, fundador da Apple.
Existe alguma forma de contrariar a tendência do aumento do número de casos?
A forma que existe é reduzir o consumo de álcool, de tabaco e de gorduras animais em excesso na população em geral. O diagnóstico precoce não vai reduzir o aparecimento de novos casos mas pode melhorar a mortalidade da doença.
O combate ao cancro do pâncreas é uma prioridade para as autoridades nacionais?
É uma das muitas prioridades, dentro do combate ao cancro, pela sua frequência absoluta – taxa de incidência – não é prioritário pois é um tumor relativamente raro comparado com o colo rectal, com o da mama ou com o da próstata. É assim prioritário na medida em que, ao ser muito letal, origina uma percentagem de mortalidade já perto destes tumores menos raros mas mais curáveis.