*artigo publicado na revista ACTIVA de setembro de 2017
Quem É
Gracinha Viterbo é a filha mais nova de Graça Viterbo, conhecida decoradora e fundadora da empresa com o seu nome, e do médico cardiologista Pedro Abreu Loureiro. Nasceu há 40 anos em Lisboa mas sempre viveu no Estoril, embora grande parte da sua juventude tenha sido passada na capital pois frequentou o Liceu Francês dos 3 aos 17 anos. De 1995 a 2000 reside em Londres e forma-se em Arquitetura de Interiores e Artes Decorativas. Depois de trabalhar com a artista Kelly Hoppen, regressa para a empresa da mãe e em 2008 torna-se diretora criativa da Viterbo Interior Design
Fomos ter com Gracinha Viterbo à sua nova concept store, no Estoril, um espaço, logo à primeira vista, inovador, ‘fora da caixa’: em vez de um tradicional ambiente amplo e frio, sem personalidade, assim que entramos a sensação é de estarmos num lugar encantado. Subimos as escadas e à nossa frente uma dezena de divisões convidam-nos a explorar todos os recantos, plenos de objetos decorativos que apetece tocar, ou melhor, levar para casa, desde flores a gravuras de inspiração oriental, a cadeirões, sofás, biombos, candeeiros, tecidos e papéis de parede, tão apelativos e de bom gosto que nos sentimos como uma criança numa loja de doces… quero, quero, quero! Gracinha chamou-lhe Cabinet of Curiosities e foi a concretização de um sonho da decoradora depois de três anos a viver em Singapura, ela, o marido, o empresário Miguel Vieira da Rocha, que com Gracinha gere a Viterbo Interior Design, e os seus 4 filhos, Santiago, com 12 anos, Guilherme, 10, Benjamim, 9, e Alice, 6.
Uma aventura no oriente
Nómada é uma das palavras que Gracinha Viterbo diz que melhor a define. Uma cidadã do mundo que adora viajar e conhecer sítios diferentes, que tragam ideias, conceitos e objetos novos à sua arte: arquitetura e design de interiores. Há 3 anos, em plena crise económica, Gracinha foi mais uma portuguesa que decidiu olhar para fora de Portugal à procura de oportunidades. Singapura, uma cidade-estado a mais de 12 mil quilómetros de distância, situada entre a ilha de Sumatra, Indonésia, e Vietname e Tailândia, foi o local escolhido. Não foi numa aventura às cegas. Primeiro, porque o seu marido já tinha vivido naquela zona do globo e conhecia bem a região. Depois, a sua melhor amiga em Londres era originária daquele país e Gracinha já lá tinha ido em viagem várias vezes. Quando, em 2009, uma cliente sua se mudou para Singapura e a desafiou a fazer a sua casa, o destino já estava traçado. Depois daquele projeto vários se seguiram e o casal decidiu abrir lá um escritório. Nos primeiros anos, as idas e vindas eram tão frequentes que tomaram a decisão de emigrar. Só que não iriam sozinhos, os 4 filhos do casal juntaram-se nesta aventura no Oriente. A princípio, Gracinha estava com receio de que os filhos tivessem dificuldades em adaptar-se ao sistema educativo porque não falavam inglês, mas a verdade é que em três tempos esses receios dissiparam-se, “os professores estão muito habituados a uma grande rotatividade de alunos de todos os cantos do mundo e têm muitas técnicas que vão adaptando a cada um deles”.
Herança com bom gosto
Gracinha tinha 10 anos quando decidiu que queria ter a mesma profissão da mãe, a decoradora Graça Viterbo, mas ninguém lhe deu ouvidos. Só mais tarde, aos 14-15 anos, quando os seus verões eram passados na loja da mãe no Chiado, “a ajudar no que fosse preciso e a atender telefonemas, em vez de estar com os meus amigos na praia, é que me levaram a sério. Gostava de me sentir produtiva e era ali que me sentia bem”. Algumas das suas memórias mais antigas estão ligadas ao universo da decoração. Lembra-se de ter 3-4 anos e ir com a mãe às pedreiras, de estar no meio dos mármores a brincar com a sua amiga imaginária. Lembra-se também de estar no gabinete dos desenhadores, do cheiro do amoníaco e das máquinas e de grandes desenhos que a mãe corrigia e desenvolvia, de pintar plantas, brincar com os tecidos no escritório da Lapa, em Lisboa, e de já dar a sua opinião nos projetos que lhe mostravam. Com toda esta vivência, não é de estranhar que este mundo de criatividade a tenha seduzido, e não medicina, a área do pai.
Um dia na sua vida
Quando lhe perguntamos como são os seus dias, a resposta não se faz esperar: “Não há dias iguais…”, acrescentando que um dia de trabalho pode ser passado em Lisboa numa obra, no escritório, na loja Cabinet of Curiosities no Estoril, ou a falar com os seus clientes em qualquer parte do país. Por vezes tem de se ausentar de Portugal mas quando cá está o seu dia começa invariavelmente às 4h30 da manhã, “acordo sempre a essa hora e é nessa altura, sem filhos, que consigo organizar o meu dia, semana, mês ou trimestre, porque há sempre objetivos a cumprir com vários prazos. Chego a pedir aos meus colaboradores para desligarem o Whatsapp à noite, porque mando-lhes mensagens para os pôr a par do que temos pela frente mas não quero acordá-los. Só depois disso, às 6h da manhã, é que acordo os meus filhos e tomamos o pequeno almoço nas calmas porque é a minha refeição favorita. Depois deixo-os na escola por volta das 8h e sigo para o trabalho no escritório, na loja, dependendo da fase de acompanhamento dos projetos. Não há rotina”. Apesar de muitos dias de trabalho não acabarem cedo, a decoradora faz questão de estar em casa à hora de jantar para estarem todos juntos.
24h por dia, 7 dias por semana
Às vezes é difícil despir a pele de decoradora, mesmo quando está em casa de amigos a sua cabeça não pára e, ainda que seja inconscientemente, põe-se logo a imaginar como aquela parede ficava melhor na cor X ou como um espelho assentava na perfeição. Mas nunca faz comentários, a não ser que peçam a sua opinião e aí diz o que pensa. Também já lhe aconteceu, “estar em casas projetadas por mim e, sem que ninguém veja, rearranjar os objetos numa divisão e pô-los no sítio onde ficam melhor, outras vezes não mexo, deixo que as pessoas adaptem o espaço às suas vivências”.
Mãe vs profissional
Durante anos, o sentimento de culpa que assalta as mães que trabalham perseguia-a, ‘será que estou a perder etapas importantes?’, ‘será que lhe dou atenção suficiente?’. Mas desde que veio de Singapura isso já não acontece, “percebi que os meus filhos têm imenso orgulho naquilo que faço, de ter uma mãe que trabalha, e cheguei a levar um raspanete deles porque deixei de fazer um projeto para estarmos mais tempo juntos. Percebi que as mães que trabalham estão a conquistar terreno, para elas e para os filhos também, porque servimos de exemplo. Desde que deixei de sofrer do sentimento de culpa sou mais feliz, e eles também”. Por enquanto ainda não tem quem lhe siga os passos. Gracinha faz questão de que os filhos sigam os seus gostos próprios, mas já dão a sua opinião e mostram como estão atentos ao mundo da decoração, certamente um herdará o talento da mãe.
Curiosidades
Coleciono: catos, espelhos, cartas, desenhos, guardanapos, pratos, caixinhas
Acessório de moda que não dispenso: turbante
Jamais usaria: franjas
A rede social que prefiro: Instagram, @gracinhaviterbo
Projeto que mais me desafiou: uma casa que fiz na Tailândia. A cliente pediu-me que quando quisesse voltar para trás não viesse pelo mesmo caminho
Gosto de trabalhar com: música, sempre
Palavra favorita: vazio, é o princípio de tudo
Objeto obrigatório: biombo
Prato a que não resisto: queijos e pão português
O meu estilo: camaleónico
Um gadget de que não prescindo: telemóvel
Ícones de estilo: Iris Apfel, Peggy Guggenheim, Diana Vreeland
Gosto de ver: documentários e a série ‘Planet of the Apps’, no iPad