Aprendemos na infância que devemos voltar ao lugares onde fomos felizes. E é precisamente a um lugar feliz que (re)visitar o Convento do Espinheiro, Historic Hotel & Spa, nos arredores de Évora, me transporta.
Eu devia ter uns 11 ou 12 anos quando estive neste hotel pela primeira vez, como acompanhante da minha mãe num congresso. Dessa estadia lembro-me de ter ficado deslumbrada com este mosteiro do século XV transformado em unidade hoteleira; deslumbramento esse que rapidamente deu lugar a um fascínio pela piscina. Tempos felizes que tive a oportunidade de reviver como adulta, agora com uma apreciação bem maior pelo cenário idílico e com um enorme valor histórico, cujo ambiente é ideal para descansar.
Chegar a Évora, por si só, foi uma aventura. Isto por culpa minha, claro, que tive a capacidade de me enganar no caminho e complicar uma viagem que, em circunstâncias normais, duraria apenas uma hora. Contudo, não dei hipóteses ao stress – recusei-me a deixar que essa palavra entrasse no meu fim de semana – e, uma vez na rota certa, não demorei a avistar o imponente cinco estrelas envolto pela planície alentejana.
Nesta referência no alojamento de luxo na região, a estadia é o que decidimos fazer dela: pode ser estritamente para descansar ou até mesmo educativa, sendo que não faltam atividades planeadas que convidam quem lá passa a mergulhar na cultura local.
O Convento do Espinheiro é membro da Small Portuguese Hotels, que pretende apoiar a economia nacional através da criação de uma marca de representação para hotéis independentes portugueses. O projeto passa ainda pela criação de uma nova plataforma de distribuição de reservas diretas, impulsionando as vendas e aumentando o negócio das unidades parceiras.
Recantos únicos
Depois de um período em que esteve de portas fechadas, devido à pandemia, o espaço reabriu mesmo a tempo de celebrar não só o marco dos 15 anos de existência, como também uma história que começou a ser escrita há cinco séculos. Reza a lenda que Nossa Senhora terá aparecido sobre um espinheiro em chamas a um pastor e, por conseguinte, ali mandaram edificar uma ermida em sua honra.
Dada a crescente importância do local como ponto de peregrinação, seguiu-se a construção da igreja e do mosteiro, que era habitado por monges da Ordem de São Jerónimo. Este é o primeiro de muitos segredos contados aos hóspedes durante as visitas guiadas oferecidas pelo hotel, que decorrem todos os dias da semana, pelas 17 horas.
Um dos pontos altos desta atividade, sempre orientada por um concierge, é precisamente a passagem pela restaurada Igreja de Nossa Senhora do Espinheiro, muito procurada por casais portugueses e estrangeiros para a realização de casamentos (mesmo num ano atípico, como é o caso de 2020).
Lá dentro, o relógio parece reduzir a velocidade dos ponteiros e sinto-me envolvida por uma paz silenciosa. O meu olhar foge imediatamente para o trabalho em mármore, os tons de cor-de-rosa e verde e a azulejaria original, que retrata cenas religiosas. Cada detalhe exala História. O altar barroco em ouro também impressiona, tal como o órgão, pela sua beleza e dimensão.
A “tour” termina na adega com uma degustação de vinhos regionais, na qual um sommelier assume o comando. A ação ajuda a dinamizar a economia local, uma vez que é possível comprar qualquer uma das sugestões incluídas no programa, assim como inúmeros rótulos (alentejanos e não só) à disposição para todos os gostos e carteiras. Os preços variam entre os 15 e os 400 euros.
Alentejo autêntico
Feito o ‘reconhecimento da área’, a tarde acaba da melhor forma: a apreciar o pôr-do-sol na varanda do meu quarto, na nova ala design do hotel, com vista privilegiada para os espaços verdes que formam os jardins espalhados por oito hectares de terreno. Esta sensação de calma só é interrompida pelo som da minha barriga ‘a dar horas’.
Na primeira noite, decidida a aproveitar ao máximo aquilo que Évora tem para oferecer em apenas dois dias, jantei fora do hotel. Por sugestão da equipa da receção, que também teve a gentileza de tratar da reserva de mesa, fui conhecer o Piparoza Boutique Bar. Localizado no coração da cidade, destaca-se pelo ambiente acolhedor e descontraído, e pela simpatia no atendimento. Escolhi uma série de petiscos, a maioria tipicamente alentejanos, mas todos com um toque de modernidade, acompanhados por um vinho branco bem fresco. Para terminar, o melhor gelado artesanal que comi nos últimos tempos; verdadeiramente saboroso, como tudo o que passou pela mesa.
Fechei o dia com um passeio pelas ruas estreitas, travessas, pátios e largos do centro histórico, que me levaram até ao Templo de Diana, um dos mais grandiosos e bem preservados templos romanos da Península Ibérica. De olhos postos no passado, dei por mim com o pensamento no futuro próximo e entusiasmada com o que ainda havia por fazer nas 24 horas seguintes.
Ouro sobre a pele
Segundo e último dia. Depois de tomar o pequeno-almoço num salão caracterizado pelos longos arcos ogivais brancos, onde antigamente funcionava a adega do convento, dirijo-me ao Spa para fazer um dos tratamentos de assinatura do Convento do Espinheiro. Uma proposta que alia as propriedades hidratantes, emolientes e antioxidantes do azeite exclusivo do hotel a uma massagem corporal profundamente relaxante.
Aplicar azeite na pele não é algo novo. Na verdade, é uma prática milenar. Muito antes de nós, os egípcios, gregos, fenícios e romanos já eram fãs do óleo de azeitona e utilizavam-no como hidratante e agente de limpeza. Hoje sabemos que o alto teor de omegas, vitamina A e E, realmente, fazem dele um excelente aliado para a este tipo de cuidados.
Passados 60 minutos, confirma-se: apesar de alguma reticência inicial, por ter pele mista, a verdade é que há muito que não a sentia tão suave. A experiência chega ao fim com a oferta de um chá numa sala privada com vista para os espaços verdes da propriedade. Tranquilidade interior é muito isto.
À noite, o salão de pequenos-almoço do Espinheiro transforma-se no requintado restaurante Divinus, com luzes indiretas que inspiram romance. As propostas na carta capturam a magia da gastronomia alentejana em receitas tradicionais criadas a partir de ingredientes simples e altamente saborosos.
Gaspacho com cavala em tempura e queijo fresco; cação de coentrada e camarão; lombinhos de porco preto com migas de coentros e laranja são apenas alguns dos pratos impecáveis, no sabor e na apresentação, que saem da cozinha comandada pelo chef Jorge Peças. Cada um deles é harmonizado com referências vínicas, mais uma vez escolhidas a dedo por um sommelier. Quanto às sobremesas, é um pecado não experimentar o souflé de chocolate e caramelo com sorbet de maracujá, cujo tempo de preparação ronda os 25 minutos e, por isso, tem de ser pedido com alguma antecedência. A despedida não poderia ter sido mais doce.
Regressei a Lisboa de coração cheio. O Convento do Espinheiro convida à “clausura” com todos os luxos do turismo de experiências. Num equilíbrio perfeito entre passado e presente, encontrei um lugar que respira História, tranquilidade e bem-estar, do qual eu já tinha boas memórias… e criei muitas mais.
A experiência retratada neste artigo aconteceu a convite da marca e o texto reflete a opinião pessoal dos autores.
