As manhãs e noites mais frescas denunciam a chegada do outono mas não chegam para neutralizar o sabor a verão que ainda se sente a sul. É com alegria que ouço falar outras línguas que não o português: alemão, holandês e sueco são alguns dos idiomas que ressoam pelo Pine Cliffs Hotel, inserido no Pine Cliffs Resort, em Albufeira. Tirando as máscaras, que nos fazem lembrar de que não é um final de setembro como outro qualquer, a sensação é quase de normalidade entre os hóspedes que se espraiam pelo espaçoso complexo, ao todo 68 hectares, entre hotel, suites e villas. Não há ‘congestionamentos’ a pôr em causa a sensação de segurança que nos acompanha ao longo do fim de semana. Nem mesmo nas piscinas, rodeadas por um extenso relvado com espreguiçadeiras a uma distância que vai muito além dos dois metros recomendados, ou no elevador que dá acesso à praia, onde apenas é permitida uma pessoa ou família de cada vez.
Com a covid 19 a ameaçar novamente a nossa liberdade, a escapadinha ao Algarve tem um sabor especial e a paisagem envolvente de pinheiros e falésia de um avermelhado caloroso ajuda a tranquilizar a mente, uma amálgama de estatísticas, entre novos casos, surtos e pessoas recuperadas. Sabor especial tem também a reconfortante sopa do mar servida logo à chegada no restaurante ‘O Pescador’, que nos faz desde o primeiro momento mergulhar no espírito de fim de semana, sentimento reforçado pelos Arroz à Pescador e Polvo estufado com Batata Doce que se seguem. Na esplanada, mais uma vez com bastante espaço entre mesas, a noite amena típica do algarve é forjada pelas chamas dos aquecedores de exterior que inflamam ainda mais o ambiente, já animado pelo burburinho poliglota.
Horas mais tarde, bem dormidos, regressamos ao Jardim Colonial para tomar o pequeno almoço, onde o tradicional buffet em regime self-service está agora protegido por um muro em acrílico atrás do qual o staff acede aos pedidos matinais dos hóspedes. Paragem obrigatória na estação dos ovos e da ‘padaria’, onde nos rendemos a um magnífico pão de abóbora e sementes que repetimos em todas as refeições. A manhã fresca rapidamente cede ao clima de verão que se continua a impor no Algarve. Quando chegamos ao areal, entre as praias da Falésia e do Barranco, o sol já obriga a um mergulho no mar – apenas a temperatura da água nos faz lembrar de que estamos quase em outubro. As espreguiçadeiras estão dispostas segundo as novas regras de distanciamento social, gestão que cabe ao staff, que nesta dança das cadeiras tem ainda a missão de as desinfetar entre cada utilização. De máscara, sob o sol escaldante, não pode ser fácil!
Pensamos que poderá ser o último fim de semana de praia, o que nos faz apreciar ainda mais o momento e não deixamos de nos questionar se, na próxima época balnear, já estaremos livres da maldita pandemia. Aproveitamos o dia ao máximo, só nos levantando da espreguiçadeira para mergulhar, dar um passeio à beira-mar e para nos rendermos às iguarias trazidas pelo Maré à hora do almoço, já sentados na esplanada do restaurante de praia: Amêijoas à Bulhão Pato e um fresquíssimo Linguado no carvão, tudo regado por uma Sangria de Espumante tão fresca quanto equilibrada.
Amêijoas à Bulhão Pato, Restaurante Maré Peixe fresquíssmo, Restaurante Maré
O dia prossegue na monotonia prevista e desejada, nesta que pode ser a nossa despedida estival. E termina com outra experiência gastronómica, bastante diferente, já que no Corda Café trocamos o peixe pela carne, optando por partilhar um hambúrguer e uns tacos, depois de analisar demoradamente a vasta lista. As opções são tantas, entre saladas, fajitas e pizzas, que escolher se revela uma missão quase impossível. Tanto que, quando no domingo nos convidam a experimentar o serviço Pine Cliffs Eats, que permite encomendar online dos vários restaurantes disponíveis e comer no conforto do quarto, voltamos ao Corda Café (melhor, é o Corda Café que vem até nós) pelo Poké Bowl e Prego no Bolo do Caco.
As porções generosas dão-nos a energia necessária para ganhar coragem. Chegou o momento de abandonar o paraíso. Já no carro, a caminho de Lisboa, sentimo-nos agora mais fortes para enfrentar o que nos espera na capital, um corropio entre o nosso trabalho, a escola e as atividades dos miúdos, este ano sem a preciosa ajuda dos avós. Ah e não esquecer o ginásio, para queimar o tal pão de abóbora que se aloja agora no conforto das boas recordações… e não só.