Os Pássaros Também Cantam no Inferno, publicado pela Editorial Presença, foi o livro que li nestes últimos dias. Um livro que relata acontecimentos verídicos de um soldado britânico que passou quatro anos em campos de prisioneiros do regime nazi durante a II Guerra Mundial. Quando comecei a ler, não esperava que os relatos de Horace Greasley fossem tão fortes e impressionantes.
O livro é escrito por Ken Scott, que garante ter-se limitado a reproduzir o que Horace Greasley lhe contou quando já tinha 89 anos. Este veterano confiou ao escritor a sua história, na esperança de que ela chegasse ao máximo de pessoas possível e fizesse com que os acontecimentos que presenciou não fossem esquecidos. Assim como as pessoas que teve ao seu lado. Principalmente as pessoas.
Logo ao início percebemos que Horace Greasley foi um jovem com sede de vivere que viu a sua vida interrompida por uma guerra. Ele torna-se voz de todos os soldados que combateram na linha da frente, que sofreram às mãos dos inimigos, que perderam a vida. Apesr de nem sempre concordarmos com algumas opções que toma, é impossível não sentir empatia por este jovem.
As situações descritas são, muitas vezes, atrozes. As condições vividas nos campos de prisioneiros provocam arrepios. Os trabalhos a que são obrigados fazem-nos questionar os limites da humanidade. Os abusos de poder causam revolta. O espírito de sobrevivência e de luta emociona. E saber que, no meio deste inferno, o amor pode surgir e servir como meio de salvação quase parece uma fantasia. Mas foi o que aconteceu com Horace Greasley quando conheceu Rosa, filha de um dos seus captores.
Através da personagem de Rosa, o leitor recorda que uma guerra não é feita apenas por dois lados que se defrontam. Afinal, há pessoas que são apanhadas no meio do conflito e obrigadas a alinharem por uma parte para sobreviverem, mesmo quando preferiam afastar-se, mesmo que não acreditem na facção que estão a alimentar. Rosa acabou por ser fundamental, não só para Horace, mas para todos os seus companheiros. Um símbolo de que pequenos atos de rebeldia podem, afinal, ser gigantescos e provocar mudanças profundas.
A união criada entre os prisioneiros e os mecanismos encontrados para continuarem a ter esperança são, sem dúvida, inspiradores. É uma grande tristeza saber que estes relatos aconteceram. Que ainda podem acontecer. Custa aceitar que existem pessoas capazes de submeter outras a tamanho tormento, dor e morte. E é por isso mesmo que estes relatos verdadeiros são tão importantes: não esquecer para que não volte a acontecer.
Horace Greasley chama ainda a atenção para o perigo da vingança. Um relato que achei muito pertinente. Através de um jovem russo que conheceu, Ivan, faz-nos pensar que pagar na mesma moeda faz de nós aquilo que mais odiamos. Como isso perpetua o ciclo de ódio. Como lutar contra isso pode ser uma das piores lutas internas que poderemos travar.
Este foi um livro que surgiu como paga de uma promessa e que merece ser lido. Os Pássaros Também Cantam no Inferno faz recordar do pior do que somos capazes, mas também da força que não imaginamos ter para ultrapassar circunstâncias inenarráveis. E quase como prova de que nada disto foi fruto da imaginação, a obra revela ainda um conjunto de fotografias que ilustram algumas situações vividas por Horace Greasley e os seus companheiros nos campos de prisioneiros. Foi real e temos o dever de evitar que volte a acontecer.
Sinopse:
Mesmo nos sítios mais terríveis do mundo, a esperança permanece nas trevas, esperando por uma oportunidade para levantar voo. Quando a guerra foi declarada, Horace Greasley tinha apenas 20 anos. Depois de sete semanas de treino no Regimento Real de Leicestershire, Horace viu-se frente ao poderio do Exército Alemão num campo lamacento a sul de Cherbourg, no Norte de França, com apenas trinta balas no seu alforge de munições. A guerra de Horace não durou muito… A 25 de maio de 1940, foi capturado, começando assim a viagem terrível para um campo de prisioneiros de guerra na Polónia. Os que sobreviveram à dura marcha de dez semanas para o campo chegaram fracos e exaustos, e todas as hipóteses de fuga pareciam ter desaparecido. No entanto, quando Horace conheceu Rosa, a filha de um dos seus captores, a sua história mudou – parecia que o destino lhe lançara uma boia de salvação. Horace arriscou tudo fugindo do campo para ir ver a sua amada, trazendo de volta comida para os seus camaradas prisioneiros. Deste modo, deu esperança aos seus companheiros e desafiou um dos regimes mais brutais da história.