Entrar no “Coal” já é uma experiência por si só. O espaço é todo pensado para aguçar os 5 sentidos. A decoração com os revestimentos dos candeeiros negros e a iluminação quente. Os tampos das mesas e pilares centrais, que foram queimados até ficarem verdadeiramente carbonizados. O estalar do sal grosso quando toca o fogo, que se ouve direto da cozinha. O cheiro do carvão, que está presente de forma suave e abre o apetite para o que vem a seguir.
Quem prefere jogar conversa fora por mais tempo a esplanada oferece um espaço convidativo ao ar livre no divertido ambiente da Rua Amarela de Cascais. Ao subir a rua já se sentem os aromas das diferentes propostas dos restaurantes e ouvem-se as mais variadas línguas a serem faladas, numa atmosfera colorida, descontraída e alegre. Vasco Simões de Almeida, o dono do “Coal”, fez parte da criação do projeto da Rua Amarela, em 2013, e tem outro restaurante ali especializado em mexilhões. “Meus colegas dizem em tom de brincadeira que eu sou o presidente da rua“, brinca Vasco, que já trabalha em restauração desde os 14 anos.
Comida para ver, sentir, ouvir, cheirar e saborear
A companhia perfeita para estes momentos divertidos na esplanada da Rua Amarela é o couvert, uma combinação de pão, manteiga de ervas, azeite, azeitonas temperadas e torresmo. Eu não gosto de torresmo, mas não consegui parar de comer estes – sequinhos, salgados e crocantes, daqueles aperitivos ideais para comer com um copo de vinho ou uma cerveja gelada.
A carta do “Coal” é composta por pratos em que os protagonistas brilham com a ajuda do carvão. “Fomos para um mercado que acho que faz falta aqui em Cascais, que é o de carnes e produtos premium”, explica Vasco. “Andámos um mês a ensaiar, falar com fornecedores, e a escolher os produtos que achámos que valia a pena apostar”, conta o dono do restaurante, que dá preferência a ingredientes nacionais: “A proveniência é portuguesa e a aposta sempre dentro do possível é no produto nacional. Ajudar a economia portuguesa e dar a conhecer a oferta que nós temos. Não tem que ser americana, nem espanhola, nós temos uma oferta boa”.
Os pratos são feitos na grelha que fica visível através de uma grande janela de vidro. Entre as carnes premium da carta a preferida de Vasco é o Chuleton Maturado, que serve duas pessoas. Há ainda outras opções como o Entrecôte Maturado ou o famoso Skirt Wagyu. Comi o T-Bone, que chegou à mesa numa tábua de madeira já fatiado. Quem gosta de carne sabe que acertar no ponto é essencial e este estava perfeito. Vermelha por dentro, macia e suculenta. Pedi o molho demi-glass caseiro que deu mesmo um toque de comida de casa, porque me lembra o delicioso molho que a minha avó faz com todos os sabores que ficam no fundo do tabuleiro da carne assada. Para aqueles que não gostam de carne há ainda a opção de cogumelos portobello ou o bife de atum, sempre feitos na grelha. Os valores variam entre 17 euros para um prato individual e 55 euros para duas pessoas.
Para completar a refeição há ainda uma lista de acompanhamentos que variam entre 3 e 5 euros. E que é irresistível. Para os mais tradicionais, tem salada, legumes grelhados e batatas fritas, por exemplo. Os espinafres salteados tinham um toque de alho e também um fundo que lembra o carvão. Mas quem vem ao “Coal” para provar os pratos que aguçam os 5 sentidos, precisa experimentar o risotto de trufa. Chegou à mesa quente, aromático, cremoso e delicioso. E mesmo que tivesse acabado toda a carne do restaurante, voltaria aqui só para comer este risotto. Claro que pedi o segredo do prato ao Vasco. E claro que ele não revelou.
Para finalizar a refeição, as sobremesas também podem agradar todos os paladares. Quem gosta de doçura e cremosidade vai gostar do Shot triplo, por exemplo. São três copinhos de dose cada um com um tipo de doce: brigadeiro, ovos moles e mousse de chocolate. Mas a minha sobremesa preferida, e que é literalmente de chorar por mais, é mais uma daquelas que estimula os sentidos. Gelado de natas, nozes e caramelo salgado. As texturas, temperaturas, aromas e a mistura do doce com o salgado, fazem desta uma sobremesa inexlicável. Tem que provar.
Sou brasileira do sul e casada com um gaúcho. Dizem que o Rio Grande do Sul é a terra do churrasco, e de facto a carne feita no carvão faz parte das nossas vivências mais queridas. E por isso, para mim, jantar no “Coal” trouxe um pouco do sabor de casa para aquela experiência divertida que é comer fora. Comida de qualidade e bem feita, com poucos e bons ingredientes, combinações interessantes e que surpreendem pelas texturas, cheiros, e sabores.
Coal
nº 54 da Rua Afonso Sanches em Cascais
Aberto das 12h30 e as 00h00
https://coalcascais.pt/