Sabemos que são dois temas (comida e casa de banho) que não se devem colocar ao mesmo tempo em cima da mesa, mas a primeira coisa que nos perguntaram quando fomos ao Rocco foi “então e foram lá baixo ao WC?” Mas só estranha a pergunta quem nunca lá foi, e pior do que não visitar os lavabos é não levar o telemóvel, mesmo para quem não é muito dado a selfies. As luz e os espelhos não facilitam a vida a fotógrafos amadores e as fotos foram efetivamente vítimas de autocensura mas a casa de banho do Rocco ficará certamente gravada no disco rígido do nosso cérebro como umas das mais bonitas de sempre. A sua decoração, assim como a de todo o espaço, inspira-se na costa Amalfitana e resulta de uma eficaz parceria entre a Plateform – grupo de restauração com ADN 100% português – e o consagrado designer de interiores Lázaro Rosa-Violán. A luz, os padrões e as cores fortes conferem uma personalidade algo excêntrica e apostamos que a cada visita haverá sempre uma nova descoberta.
Esclarecido este ponto, passemos então ao que realmente nos levou ao número 14 da Rua Ivens, em Lisboa: experimentar os novos pratos da carta de verão do Ristorante – que, a par do Gastrobar e do Crudo Bar, é uma das três áreas distintas deste espaço de restauração que fica no piso térreo do The Ivens Hotel.
O Ristorante, como o próprio nome indica, é de inspiração italiana e, se dúvidas houvesse, o Negroni – cocktail à base de gin, vermute rosso e Campari -, servido como aperitivo, rapidamente as dissipou, assim como a maravilhosa focaccia, que só não repetimos até à exaustão pela necessidade de enfrentar estoicamente o que nos esperava daí em diante. Mas não foi preciso coragem – só fome – para o que aconteceu a seguir. E alguma gula, porque pecado seria não comer tudo até ao fim. Primeiro, o aromático carpaccio de robalo selvagem – que na carta passou a competir com o já instalado carpaccio de novilho – servido com uma Panzanella, uma espécie de salada (como explicou o responsável pela cozinha, Ricado Bolas), de pepino, pimento, alcaparras e azeitonas.
Seguiu-se o que chegou para destronar temporariamente a invernosa versão de rabo de boi: o Ravioli verde de ricotta e espinafres com noz pecan com um molho de queijo à base de pecorino romano e queijo parmesão, irresistível para qualquer amante de queijo e cozinha italiana.
Foi difícil seguir em frente mas não voltámos a olhar para trás quando mergulhámos no Spaghetti Alle Vongole, uma massa fresca feita in loco com ameijoas da Ria Formosa, que tanto faz lembrar as férias que aí estão ao virar da esquina.
Por fim, Tagliata de Manzo, um lombo de novilho grelhado com manteiga de estragão e uma salada de rúcula, tomate e lascas de parmesão, que teve a tarefa ingrata de conquistar um coração já arrebatado – houve empatia mas, em prol da honestidade, declaramos que num duelo final jamais venceria os que a eles se anteciparam neste jogo de sedução.
O brinde ao acima descrito não é só figurativo e seria quase criminoso acompanhar com água um banquete digno dos Deuses. O Rocco tem 430 referências de vinho. Setenta por cento é vinho português, muito bem representado por um Duas Margens Reserva 2020 branco, numa refeição poliglota do ponto de vista vínico.
Para tornar ainda mais apetecível esta nova carta de verão, está para muito breve a abertura da esplanada, o lugar idílico para enfrentar os dias e noites quentes da nossa capital.