Foto Pexels/JJ Jordan

Ao longo de mais de 800 anos de História há muitos acontecimentos-chave e pontos de viragem. No Dia de Portugal pegámos apenas em alguns e demos-lhes ‘fins alternativos’. Imagine os seguintes cenários.

Então, e se…

Viriato tivesse resistido aos Romanos?
Está bem, não seria muito provável, mas vamos imaginar que Viriato e todos os seus sucessores tinham tomado a poção mágica do Asterix. Hoje éramos a Lusitânia, tínhamos quatro milhões de habitantes e falávamos lusitano moderno. O berço da civilização portuguesa era Viseu e não Guimarães. Portugal ia de Viseu à Corunha. Iríamos passar férias ao estrangeiro (tudo abaixo de Viseu), especialmente ao Algarve, que seria um sultanato moderno tipo Dubai.
Haveria uma muralha para nos proteger dos árabes. Tinha sido construída no século IX, apenas restando pitorescas ruínas cheias de restaurantes e bares da moda. Ia-se à ‘Muralha’ como se vai às docas. Para lá da muralha ficavam os Sultanatos. A capital era Évora. Lisboa era uma pequena cidade árabe, pintada de branco, com uma mesquita no lugar do Castelo de S. Jorge. Estávamos agora a discutir a extensão da linha de camelos até ao Terreiro do Paço.
Hoje ninguém visitaria a Lusitânia por causa do calor mas devido aos monumentos, à atmosfera romântica e às casas assombradas. Não estaríamos na União Europeia, porque seríamos um país desenvolvido como a Noruega e não nos quereríamos misturar com os problemas dos Europeus. Seríamos uma espécie de Liechtenstein ocidental. O tema da EXPO não teria sido os oceanos mas as florestas. Passaríamos a vida a queixar-nos do tempo chuvoso que fazia na Lusitânia e a dizer que a parte de baixo do território também devia ser nossa.

... Inês de Castro fosse muito feia?
D. Pedro teria pensado: “Pobrezinha, tem ainda menos graça que a rainha.” E ter-se-ia entretido com uns casitos sem importância com aias menores. Sem segunda família com que se preocupar, teria sido um pai presente para D. Fernando, que nunca se apaixonaria por Leonor Teles. Teria casado com outra Leonor, uma princesa castelhana, teria tido seis filhos rapazes e não haveria nenhuma Batalha de Aljubarrota. Não haveria Ínclita Geração nem Escola de Sagres e o Brasil teria sido descoberto no século XVIII, quando um navio sueco se transviou da pesca do bacalhau.

… nunca tivéssemos chegado ao Brasil?
O navio de Pedro Álvares Cabral apanhou mau vento, naufragou e ficou-se ali pela Cruz Quebrada. D. Manuel não quis financiar outra viagem porque estava mais preocupado com a Índia. Os Espanhóis também não chegaram lá porque estavam mais preocupados com o Oriente. O Brasil teria sido descoberto no século XVII por holandeses. Hoje falar-se-ia lá holandês, mas com as vogais abertas. O brasileiro típico seria ruivo, de olhos azuis. Nunca teríamos sido colonizados pelas telenovelas. O Brasil ter-se-ia tornado o maior produtor de túlipas. Pelé nunca teria tocado numa bola: seria ruivo, como todos os outros brasileiros, e dedicar-se-ia ao ciclismo.

… D. João II tivesse aceite a proposta de Colombo?
Toda a América seria um gigantesco Portugal. Em vez de índios e cowboys, teríamos índios e campinos. Em vez do McDonald’s, teríamos o McLopes, onde se venderiam pastéis de bacalhau e caldo verde. A música country teria sotaque alentejano e Willie Nelson seria de Nova Serpa (que iria basicamente do Texas ao Kentucky). Escusado será dizer que não haveria Nova Iorque mas Nova Lisboa. Em vez da Estátua da Liberdade teríamos um monumento ao Cristiano Ronaldo erguendo uma bola de ouro. Haveria o famoso queijo da serra de Dallas e chouriços do Maine. A língua-base da Internet seria o português. Em vez da arroba, teríamos um galinho de Barcelos. Os Óscares seriam disputados entre a Alexandra Lencastre e o Diogo Infante, que já iriam cada um com 23 (fora as nomeações).
Nos anos 60 mandámos um foguetão à Lua, mas teve de voltar para trás porque nos esquecemos da bandeira em casa e quando chegámos à Lua estava a Lua já fechada porque os russos já lá tinham posto a bandeira primeiro. Não desanimámos: colonizámos aquele novo planeta, Sedna, mas mudámos-lhe o nome para Sandra, porque Sedna ninguém consegue dizer. Hoje, Sandra seria o lar de mais dois milhões de portugueses, mas não seria popular como destino de férias porque era escuro e frio e levava-se 40 anos a chegar lá (45 caso não se apanhasse o foguetão-TGV). Às crianças que não queriam comer a sopa e insistiam que queriam ir ao McLopes, as mães diriam: “Ou comes tudo imediatamente ou mando-te para Sandra.” Acabariam por construir umas praias artificiais em Sandra, mas estavam sempre avariadas, a máquina das ondas passaria o tempo a emperrar e quando chegava o técnico, 40 anos depois, os Sandrinos já se tinham habituado a uma praia sem ondas e os chineses já lá tinham construído 45 hotéis. Acabaria por se transformar num paraíso de fugitivos ao fisco: quando o fisco lá chegasse (40 anos depois), já as multas teriam prescrito.

... Camões tivesse perdido os dois olhos?
Nunca teria escrito nada. Poderia ter ditado, é verdade, mas imaginemos que não ditou. Imaginemos que deu em vaguear pelas ruas de Lisboa a fazer serenatas às meninas que não via e a vender saquinhos de amendoins. Nunca teria ido a Goa e nunca leria coisa nenhuma a D. Sebastião, que teria pensado vagamente em ir fazer a guerra contra o infiel mas acabaria por desistir porque não tinha pachorra e em vez disso teria tirado umas férias em Alcabideche e organizado uns torneios onde Camões estaria a vender amendoins.
D. Sebastião acabaria por casar com uma princesa francesa e teria um filho (haveria rumores de que não era filho dele mas do ceguinho que vendia amendoins), que acabaria por organizar um golpe de Estado contra o próprio pai. D. Sebastião acabaria os dias como monge num convento na Arrábida. O filho governaria com cabeça. Nunca haveria D. João V nem o Convento de Mafra, e José Saramago nunca escreveria ‘Memorial do Convento’. O ouro do Brasil seria bem aproveitado para desenvolver o País e inclusive comprar Espanha, e o Corte Inglés era nosso e chamava-se Corte Português. Escusado será dizer que não estaríamos a escrever este artigo neste mês. Ninguém se lembraria do dia em que o ceguinho dos amendoins tinha morrido.

… não tivesse havido terramoto?
Quem se queixa do trânsito não conseguiria sobreviver na Lisboa sem terramoto. No Terreiro do Paço existiriam os edifícios da antiga Casa da Índia (hoje o Centro Comercial D. José) e o antigo Paço da Ribeira (hoje um museu com várias obras de arte que não se teriam perdido no terramoto). A Baixa seria um labirinto de ruas escuras e sinuosas e seria preciso uma appa de GPS especial para singrar até ao Rossio. Aí estaria o Hospital de Todos-os-Santos, que ocuparia a Praça da Figueira (portanto inexistente). Já não seria o original, que fora demolido para dar lugar a um condomínio de luxo todo comprado por chineses. Haveria ainda o antigo edifício da Inquisição (agora um hotel). Sem o ‘castigo de Deus’, os Portugueses seriam uma raça otimista e colorida, conhecida pela sua alegria. Claro que o Marquês de Pombal não existiria: era uma via rápida sem rotunda e obviamente sem Marquês. Sebastião José nunca teria sido marquês de nada, mas apenas um sólido ministro de D. José que fez algumas obras na cidade e teria o nome de uma pequena rua nas Avenidas Novas, que escusado será dizer eram tão tortuosas como as velhas.

… o Marquês de Pombal tivesse ficado soterrado?
Ainda estaríamos a discutir que tipo de cidade é que se iria fazer sobre as ruínas. Haveria 30 projectos para ser entregues na Câmara, mas, como ainda não havia Câmara, continuariam sem ser aprovados. Os Lisboetas tinham-se habituado a viver em recintos alternativos e Lisboa seria a maior e mais exótica aglomeração de roulotes do mundo inteiro. Uma vez por ano faz-se-ia o Concurso da Melhor Roulote.

… Napoleão tivesse ficado cá?
Não haveria o Bloqueio Continental, não teriam invadido a Rússia, não teriam sido derrotados, os Portugueses falariam francês, os Espanhóis falariam francês, até os Ingleses falariam francês. Tolstoi nunca teria escrito ‘Guerra e Paz’. Os Americanos nunca teriam feito o filme e Audrey Hepburn nunca se teria apaixonado por Henry Fonda. Continuávamos a comer croissants ao pequeno-almoço, é verdade mas em vez de, digamos,”bolas!”quando um carro se atravessasse à nossa frente, exclamaríamos: “Sacré Bleu!” Haveria condomínios fechados de roulotes privadas, em círculo.

… D. Pedro V e D. Estefânia não tivessem morrido com tifo?
Teríamos finalmente um rei e uma rainha a sério. Todos os portugueses saberiam resolver equações do 5.º grau e discutir Descartes desde os três anos. A rainha Vitória viria cá passar férias todos os Verões e D. Carlos nunca teria chegado a reinar. Os republicanos não teriam passado de uma pequena seita de insurretos. Os Ingleses ter-nos-iam deixado em paz porque éramos amigos da rainha. Hoje teríamos um rei mais ou menos como Felipe (em ainda mais beto). A rainha seria a Clara de Sousa, porque a tradição de os reis casarem com jornalistas teria sido inaugurada pelos Portugueses.


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