A própria assume que talvez seja ‘um bocado fora da caixa’: Margarida Alberty fundou duas escolas em Portugal, dez no Cambodja e uma loja, organiza musicais, cursos de verão e ateliers de arte, faz exposições, sabe pintar, coser e dançar, tem uma imaginação delirante, um mini jardim-zoológio em casa, e aprende qualquer coisa nova todos os dias. Sepuderem, experimentem os ateliers dela. Qualquer um.
“Sempre tive uma paixão pelo espetáculo e adoraria ter sido bailarina, mas a minha mãe quis que fosse professora. Resolvi então criar a minha própria escola e desenvolvi um método divertido para ensinar português a estrangeiros. Foi assim que começou a ‘Margarida’s School’, no Estoril.
Aos 38 anos tivea cancro do cólon e disseram-me que teria seis meses de vida. Então decidi realizar o meu sonho de ser atriz e encenadora, e inscrevi-me no Beco das Artes. Pouco depois fundei o ‘Pátio dos Artistas’, uma escola de teatro musical: já fiz 25 musicais. Sou a mulher dos 7 ofícios: faço o guião, os cenários, as roupas, as encenações, tudo! Também abri uma loja, a ‘Retrosaria Fantasia’, que parecia a gruta do Ali Babá, mas fechou no Covid. Trouxe então tudo para casa e fiz um Atelier de Costura.
Adoro criar, experimentar, viajar. Criei no meu jardim uma tenda árabe onde tenho patos galinhas e um pavão. Pinto, coso, faço artes com as crianças, faço teatro, danço, e tenho um prazer imenso nisto tudo. Adoro aprender. Aprendo com amigos, aprendo no YouTube, estou sempre a aprender – e a ensinar – alguma coisa nova: a tocar algum instumento, a fazer colagens, a fazer pulseiras e brincos, a fazer esponjas, a fazer cabeças de esferovite, bonecas esquisitas, caras estranhas.
A minha grande tristeza é que não consigo ter clientes portugueses. Os portugueses desconfiam muito disto tudo. Vivem sufocados pelo trabalho, não têm tempo para nada, mas também quando têm não aprendem, não se interessam pela arte, são passivos. Como vivo no Estoril, estou rodeada de estrangeiros, e se puser um anúncio de uma aula de costura ou de pintura ou de que seja, nenhum português aparece. Fiz cursos de ‘scrap booking’, de ‘Diários artisticos’ e não pegam cá, as pessoas não exploram a sua imaginação.
Sou portuguesa mas não me sinto muito portuguesa. Viajei pelo mundo inteiro e aqui sinto-me olhada de lado. Acho que pensam “Como é que ela é capaz de fazer aquilo tudo?” Os portugueses entram no atelier de costura e ficam com falta de ar, de ver tantas coisas: fitas, máquinas de costura, botões, materiais. Aquilo transtorna-os, perturba-os, não sabem o que hão-de fazer com a própria criatividade. Abrem os olhos à tenda árabe no jardim, estranham o pavão, não percebem que o pato se comporta como um cão… (risos) Os portugueses são muito certinhos, gostam de tudo alinhado, e eu sou um bocado louca. É muito difícil vingar quando se é fora da caixa, quando seu é ‘too much’. Tenho noção de que sou ‘too much’. Gosto de coisas únicas. Gosto de ser única. Mas as pessoas não são porque não querem. Querem saber fazer brincos? É fácil aprender…a ideia é essa: tudo é isto é fácil de aprender. Toda a gente pode aprender a fazer esculturas em esferovite. O problema é que ninguém quer aprender…
Em 2012 fui ao Cambodja e fundei lá dez escolas, que continuam ativas, no projeto ‘Help Children Cambodja’, e são mantidas com a ajuda de donativos de estrangeiros. Porque aqui, nem a família me ajuda. Desde então fui 16 vezes sozinha para o Cambodja.
Tenho um programa de férias de verão para miúdos, tudo em inglês. Cada semana há um tema. Já fizemos ‘A viagem à volta do mundo’, onde em cada dia visitamos um país: num dia vamos ao Cairo, fazemos múmias e sarcófagos e fazemos um teatro em que vão ao museu, e fazemos um vídeo, no dia seguinte vamos ao México, depois ao Japão, e numa semana aprendemos muito e divertimo-nos muito, e no fim fazemos um vídeo. Gosto de passar isto às crianças: divirtam-se sem medo, aprendam sem medo, explorem a vossa imaginação. Sejam livres.”