Foto Pexels/Polina Sirotina

Florence, 95 anos, sentia-se muito sozinha depois de enviuvar. Alexandra, 27, estava isolada em Londres, e precisava de um quarto com renda acessível para estudar. As duas passaram a partilhar a casa de Florence. Hoje, afirmam, não se veem como senhoria e inquilina, mas como amigas. A história aconteceu no Reino Unido e é uma sugestão para combater o isolamento, quer dos mais novos quer dos mais velhos.
O assunto foi levantado depois da criação do revolucionário Ministério da Solidão: considerada uma ‘epidemia escondida’, a solidão atinge no Reino Unido uns imensos 9 milhões de pessoas, segundo indicou um relatório encomendado pela deputada trabalhista Jo Cox. Assassinada em 2016, já não conseguiu ver o resultado do seu esforço, mas Theresa May estabeleceu como prioridade diminuir os efeitos da ‘praga’. Sem sucesso. Hoje, mais pessoas estão sozinhas do que antes do Covid – 3,3 milhõesc ontra 26 em 2020. Não estão sozinhos. Por todo o mundo se identificou um sentimento de solidão persistente, e as pessoas que eram mais solitárias antes da pandemia tornaram-se ainda mais sozinhas.
Portugal não tem recursos para um ministério da solidão, mas a ‘praga’ também se verifica por cá. Mais de um milhão (1.027 mil) de portugueses vivem sozinhos, sendo as mulheres — e, sobretudo, mulheres mais velhas — a maioria. Ou seja, um quarto das famílias em Portugal são unipessoais, um número que quase duplica os 13% de 1991.
Além disto, por cada 100 casamentos há em Portugal 60 divórcios (somos mesmo o país europeu com a mais alta taxa de divórcios) e as mulheres são as que mais dificilmente conseguem reconstituir família.

Mas sejamos claros: uma coisa é estar sozinho, outra muito diferente é sentir-se sozinho.

Avoz que pergunta ‘onde é que falhaste’

“Uma coisa é aquilo que uma pessoa imagina, outra é quando se vive isto na realidade e não temos alma para lidar com a situação”, desabafa Maria Paula. Há sete anos, viu-se divorciada aos 30, com dois filhos pequenos, e o sentimento de solidão foi inesperado.

“O divórcio foi uma libertação e eu achei que ia ser felicíssima a ouvir as minhas músicas e a viver a minha vida. De repente vi-me num isolamento brutal. Então quando os meus filhos estavam com o pai, custava-me imenso. Ainda hoje me custa.”

Tentou lutar contra a solidão da melhor maneira que conseguiu: “Ao princípio nem parava em casa. saía do trabalho e ia ao cinema ou ao teatro ou a qualquer sítio, só para não ir para casa. Participava em jantares temáticos onde se reuniam pessoas com os mesmos interesses, fazia workshops de culinária, ia a tudo. O meu objetivo não era arranjar namorado mas alargar o leque de amigos, porque o que acontece quando se torna a ficar sozinha é que as amigas já estão todas casadas e nenhuma vai largar o marido e os filhos para sair com a Maria.”

O grande problema é que tudo isto dá trabalho. “Dá trabalho sair, dá trabalho fazer amigos novos, dá trabalho ficar em silêncio a ouvir aquela voz que te pergunta onde é que falhaste. Isso foi muito duro. Durante muito tempo achei que estava equilibrada, e não estava nada. E a maioria das pessoas não tem de fazer este trabalho de auro-reconstituição, que é muito duro.”
Portanto, para resistir temos de nos permitir fazer o luto, em vez de varrermos tudo para debaixo do tapete e sair de casa. Temos de ser benevolentes connosco, curtir a tristeza quando ela vem, e depois seguir em frente.

As ‘soltas’ e as ‘desesperadas’

Uma coisa que Maria Paula descobriu rapidamente: que os homens são muito cruéis com as mulheres.
“Tenho um MBA em conversas masculinas. A expressão deles para uma divorciada feliz é ‘aquela anda solta’. somos as soltas ou as desesperadas. dizem que andamos à caça, e muitas palavras que não posso reproduzir aqui. são muito cruéis e muito preconceituosos. Algumas mulheres também pensam assim, mas claro que não te dizem isso na cara, por isso muitas vezes não te apercebes.”

A sensação de isolamento acentuava-se quando pensava que não havia ninguém interessante: “De cada vez que encontrava alguém, pensava: ‘Mas onde é que eu estacionei a nave?’ Ia a jantares e pensava: ‘Que seca de gente!’ Às vezes é preciso alento para continuar, mas temos de seguir, com companhia ou sem ela. E temos de sair dos mesmos círculos, porque senão nunca vamos encontrar ninguém novo.”

Chegou a usar o Tinder, e apesar de se ter deixado disso continua a achar que é uma boa ferramenta.
“O Facebook é só para a comunidade sénior, na faixa dos 70 anos passa-se muuuuuita coisa (risos)! Mas a mim não me dava nada, era uma seca. No Tinder, conheci duas ou três pessoas que ficaram meus amigos, mas não tinha muito a ver com eles. Achei que alguns só estavam ali para casos de uma noite, mas outros estavam para conhecer pessoas, como eu.”

Um bónus: fartou-se de viajar sozinha. “Fui para as Maurícias sozinha para festejar os 35! Era para ir com duas amigas que à última hora ‘se cortaram’. Posso dizer que fiquei aterrorizada. Mas fui mesmo, fez–me muito bem, amei aquela liberdade total.” E esta história tem um final feliz: quando Maria estava reconciliada com a sua vida, conheceu a pessoa com quem está agora, que encontrou num jantar de amigos.

Mas não esquece os anos em que teve de fazer a aprendizagem da solidão, nem o que lhe ensinaram: “= que diria a outras mulheres? Que aproveitem para se divertir o mais que possam em vez de ficarem a pensar que vão ficar sozinhas para sempre. E enquanto não chega essa pessoa especial, vá namorando, piscando o olho, conversando, saia com amigos, saia sozinha, viaje, que isso é que dá sabor à vida.”

Conviver com os dias difíceis
“Não vivo sozinha, vivo comigo”, é assim que começa Mariana F., 42 anos, que tem uma longa experiência de solidão: vive sozinha há 12 anos, desde que saiu de casa dos pais, e se hoje vive bem consigo própria, há uns tempos a solidão pesou de tal maneira que resolveu procurar ajuda.
“Decidi fazer terapia porque estava muito deprimida e resolvi parar de sofrer. Aprendi a apreciar genuinamente o que tinha, não ter a expectativa de que só vou ser feliz quando tiver alguém, um filho, um marido. Se vierem todas as coisas que eu quero, vou ser ainda mais feliz. Mas se não tiver isso, sou feliz na mesma.”

Claro que esta é uma aprendizagem dolorosa, porque são sonhos demasiado importantes para serem tomados de ânimo leve. Mas Mariana aprendeu acima de tudo a gratidão: “O sentimento de perda é muito duro. Mas há coisas que continuam lá. Só olhamos para o que não temos, o que é natural, porque, por muito que nos digam que mais vale só que mal acompanhada, há alturas em que isso não nos consola. Mas a verdade é que somos privilegiadas em muitas coisas: quantas pessoas estão numa relação e afinal são muito mais solitárias do que eu?”

Claro que há dias em que estar sozinha continua a custar: “Sabia bem chegar a casa e ter alguém para me dar um carinho. Mas aprendi a aceitar os dias difíceis como fazendo parte. Não deixar que isso nos deite demasiado abaixo, porque estar triste é normal. Não penso ‘estou triste hoje, vou estar triste para sempre’. Estar sozinha ensinou-me a aceitar as minhas emoções.”

Mais exigentes com a idade
“Pensamos que mais ninguém se sente assim, mas é mentira”, diz Mariana. Uma coisa que a ajudou muito foi fazer voluntariado numa ONG. “A pessoa sai de si, dos seus problemas, e contribui para o bem-estar de alguém. E criam-se laços com as pessoas com quem se trabalha, porque partilham os mesmos valores que nós.” O voluntariado ajudou-a a relativizar os seus problemas.
“Não quer dizer que deixemos de os ter. Mas muito depende do peso que lhes damos na nossa vida.” E conhecer alguém, é fácil? Desata a rir. “Claro que não. Hoje sou mais exigente do que aos 20 anos. E aos 40 conhecemos menos pessoas do que aos 20. Há dias em que a pessoa desespera.
Mas acredito que, se eu estou aqui, alguém há-de estar noutro lado. Temos é de estar disponíveis.”

E outra coisa importante: não usar o trabalho como refúgio: “Tenho um bom emprego, uma carreira, mas nunca tive a tentação de dedicar a minha vida toda só ao trabalho. O meu trabalho não é a minha vida. Vejo muitas mulheres, inclusive mulheres casadas, que o fazem. É sempre um erro.” Coisas boas de estar sozinha? Continua a haver imensas não ter horários, fazer as coisas ao seu ritmo e como lhe apetece, estar apenas com as outras pessoas quando quer, não fazer fretes, não ter de levar com amigos e família chatos. Tudo isso é muuuito precioso.

Um ‘olá’ salva tantos dias

“A sociedade caminha cada vez mais para a solidão, porque não temos tempo para socializar”, confirma a psicóloga Catarina Lucas. Autora de livros como ‘Depressão: muito para além da tristeza’, afirma que estar só não é apenas uma situação, é a percepção que temos de vazio, de infelicidade, de falta de apoio. “Viver só não é a mesma coisa que ser só”.

Mas explica que a sociedade se está a tornar cada vez mais tóxica ao criar situações de isolamento em todas as idades: dos adolescentes aos idosos. “Eu própria chego a sábado, trabalhei a semana toda, e só quero é que me deixem em paz sozinha no meu sofá. Temos uma vida horrivelmente desumana: não temos tempo para os filhos, para os amigos, para os maridos ou namorados, não admira que caminhemos para a solidão. A nossa sociedade está condenada à infelicidade.” Precisávamos de trabalhar menos? “Claro que sim, mas isso não é viável. Culpabilizamo-nos muito, mas a culpa não é nossa, nós somos obrigadas a este esquema de vida.
E nas grandes cidades como Lisboa ou Porto ainda é mais complicado porque as pessoas vivem todas longíssimo umas das outras.” O que é que podemos fazer: perceber realmente o que é que podemos mudar. Porque às vezes as coisas minúsculas fazem toda a diferença.

Ou seja: eu sei que estou mal aqui no sofá, deprimida, mas é aquilo que eu conheço. Se durante a semana estou estoirada, porque não combinar com um amigo um café no fim de semana?” E também fazer pelos outros, porque aquilo que fazemos pelos outros é por nós que o fazemos: é uma lei universal. “Se eu ligar a uma amiga que eu sei que está mais só, isto para mim também é gratificante. Mandar uma mensagem a dizer ‘olha estava a pensar em ti’, mandar uma fotografia gira do nosso dia, dizer um olá! Um olá salva tantos dias.”

E as redes sociais, não ajudam? Ajudam: mas também podem desajudar. “São úteis para reencontrar ou fazer amigos, para comunicar, para uma altura em que estamos mais em baixo”, afirma a psicóloga Catarina Lucas. “Mas devem ser um complemento e não um exclusivo, essa amizade tem de ser posta em prática para ser efetiva, ou seja, a pessoa tem mesmo de sair e ver as pessoas em carne e osso. O problema é quando vivemos exclusivamente nessa realidade.”

A festa da família… quando não se tem família

É inevitável que, se estar sozinho às vezes custa, em dezembro custa ainda mais: por todo o lado nos atiram à cara imagens de família felizes: e enormes. Mas muita gente, ou não tem com quem passar o Natal, ou tem mas sente-se sempre um bocado de lado. “Os presentes grandes nunca são para mim”, desabafa Maria Teresa, 67 anos. Viúva há três anos, sem filhos, vai sempre passar o natal com a irmã e os sobrinhos, mas nunca se sente como em sua casa.

“Sei que esta história dos presentes é infantil”, afirma. “Mas desde que o meu marido morreu, custa-me nunca mais ser ‘especial’ para ninguém.”

Ana, 48, está na mesma situação, ou seja, sozinha. Vivia com a mãe e uma sobrinha, mas quando a mãe morreu e a sobrinha casou decidiu passar o natal a sós. “Eu até podia passar o natal com a Rita (sobrinha)”, conta. “Sei que seria sempre bem vinda. Por isso vou lá almoçar a casa no dia 25.”

A véspera passa em casa, consigo própria. “Não sou de grandes dramas na vida. Não vou dizer que é uma noite como outra qualquer, mas sei que tenho gente que me ama. Estou sozinha no Natal porque quero, e porque sou muito comodista e gosto de me deitar cedo. Por isso fico em minha casa, quentinha, com os meus gatos. Só é infeliz quem quer. Quem não quer, dá a volta à vida.”

Dar a volta à vida foi o que fez a Luísa M. A família não se dá muito bem, o namorado acabou tudo há seis meses, as amigas têm as suas vidas. Ainda pensou fazer uma viagem, mas achou que este esforço para ‘chutar a bola para frente’ ia tornar esta época ainda mais sofrida. “Então decidi abrir o jogo: fui ao Facebook perguntar se alguém estava na mesma situação que eu, para festejarmos sozinhas. E não é que encontrei? Às vezes esquecemo-nos de que nunca somos as únicas, em nenhuma situação.”

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