
Quem entra no Kabuki, nas Galerias Ritz, em Lisboa, achará que as obras de arte que se imiscuem nas paredes estiveram lá toda uma vida, tal é a sua perfeita integração no espaço. Afinal há várias coisas em comum entre o restaurante e as 13 obras ali expostas até ao final de maio, que vão além da estética japonesa, como a capacidade extraordinária de criar impacto com elementos simples, numa estética minimalista óbvia.
O primeiro artista convidado pelo restaurante japonês de fusão mediterrânica é Tomek Sadurski, polaco, ou melhor, do mundo, já que viveu, expôs e lecionou nalgumas das cidades mais importantes do mundo, como Paris e Berlim. São 13 as obras de arte que vestem os vários andares do Kabuki, umas da série de obras intitulada ‘According to Phsysics’, outras da exposição ‘Entropia’.

Fazemos uma visita guiada pelo restaurante, agora também uma galeria de arte, com o artista que está a viver em Portugal (mudou-se recentemente do Porto para Lisboa) desde o início da pandemia – estava a viver em Los Angeles quando, mesmo antes do fecho de fronteiras, decidiu que era preferível regressar à Europa para ficar mais próximo da família. Ficamos a saber que durante muitos anos praticou Danças de Salão e que essa sua paixão pela dança reflete-se na sua arte. Aliás, foi o fascínio pelo movimento e energia que o levou à Física e à primeira lei da termodinâmica, regra também aplicada à sua pintura: não se pode criar nem destruir energia, apenas transformá-la.
Aliás, Tomek costuma brincar, muito a sério, quando diz que tudo se alinhou naquele dia de março de 2020 em que chegou ao aeroporto de Lisboa vindo dos Estados Unidos (com alguma sorte, já que depois do seu voo não chegaria mais nenhum) e comprou um livro sobre física, que, juntamente com o vinho do Douro, seria sua companhia durante o confinamento e viria a ter um impacto brutal no seu trabalho, como se torna agora evidente.

A música faz parte do seu ritual de pintura, entre as escolhas a clássica, ou melhor, o que chama de “urderdogs da música clássica”, por não estarem propriamente nos tops mundiais. É também uma playlist da sua autoria que nos acompanha e que que contribui, também aqui, para o perfeito alinhamento entre os vários elementos que compõem esta experiência multissensorial, a que não é alheia a comida que sai da cozinha do Kabuki, com uma estrela Michelin atribuída em 2022 e revalidada em 2024.
Usuzukuri Bulhão Pato Mochi Pastel de Nata
Qualidade das matérias-primas, simplicidade e elegância das preparações, pureza e autenticidade do sabores. Estas as linhas mestras que guiam a cozinha do Kabuki, que junta a comida tradicional japonesa à portuguesa (e espanhola, se tivermos em conta o Sake Estrelado, uma espécie deliciosa de ovos rotos com salmão). Entre os ícones, o Usuzukuri Bulhão pato (uma versão oriental de carpaccio, com peixe branco, ameijoas e molho à bulhão pato) e o Nigiri Ovo Trufa, com ovo estrelado. Para sobremesa, o Mochi Pastel de Nata remata de forma exemplar a experiência imersiva, no futuro reproduzida com outros artistas convidados.
Quanto a Tomek Sadurski, mantenhamo-nos atentos, já que está para breve uma nova exposição em Lisboa.
Fotos: divulgação