Amanhã é segunda-feira e então? Não está feliz?!
‘A felicidade é lucrativa’ é o novo livro de Ricardo Costa, chairman do Grupo Bernardo da Costa e criador do primeiro Departamento da Felicidade do país, que revela a fórmula de sucesso testada nas próprias empresas. Nesta equação não há incógnitas, só a certeza de que a soma de pessoas felizes, ambientes saudáveis e lideranças humanizadas resultam em empresas mais produtivas e lucrativas. Falámos com o autor desta nova ‘bíblia’ de felicidade no trabalho, cujos direitos de autor revertem na totalidade para o fundo Fernando Costa, criado para apoiar o acesso de jovens ao ensino superior, especialmente aqueles que enfrentam dificuldades financeiras. “O objetivo é proporcionar oportunidades educacionais que possam transformar vidas e contribuir para um futuro melhor para estes jovens e para a sociedade em geral.”
O que faz um diretor de Felicidade?
Isto é um tema sensível. A perceção que as pessoas têm desse cargo é que é novo. Por vezes, existe a ideia de que são responsáveis por fazer as pessoas felizes. Parte do trabalho consiste em reforçar os mecanismos para conseguirmos um ambiente de trabalho saudável, mas os colaboradores também têm de procurar a sua própria felicidade e tomar a decisão de trabalhá-la. É um trabalho conjunto, mas que, em última instância, está sempre nas mãos do colaborador. No fundo, a felicidade é uma decisão individual, cada pessoa decide como vai encarar as diversas situações com que se depara no dia-a-dia.
Quem não gostaria de ter um dia agradável, com colegas simpáticos, num bom ambiente e até com diversão? Todos gostaríamos e cada membro tem a responsabilidade de criar esse ambiente leve e alegre. Por isso, há um departamento da felicidade, há um diretor da felicidade, mas considero que há MUITOS agentes da felicidade dentro das organizações.
O que é uma empresa feliz?
Uma empresa feliz é aquela que coloca o bem-estar das suas pessoas no centro da mesma. Uma empresa feliz tem a capacidade de ajudar os colaboradores a conhecer os seus pontos fortes, fracos, paixões, medos, desejos e sonhos, pensamentos e sentimentos, gostos e desgostos, tolerâncias e limitações. Se não dedicarmos o tempo necessário para perceber esses pontos, será mais difícil desenvolver um plano de carreira que gere a felicidade, expectativas e satisfação dos colaboradores.
A empresa deve criar um ambiente de trabalho onde as pessoas se sintam livres para partilhar as suas opiniões, sugestões e sentimentos, sem medo de recriminação ou crítica destrutiva. Por outro lado, deve cultivar valores e transmitir claramente a missão e o propósito, para que todos o sintam como seu.
Isso, para mim, é uma empresa feliz. Encarrega-se de assegurar que o caminho e a experiência do colaborador se cruzem com cada um destes pontos, sempre com o objetivo de que as pessoas se sintam felizes por trabalhar e pertencer ao Grupo Bernardo da Costa.
Porém, também considero que a contribuição para a felicidade das empresas está em cada um dos colaboradores e não apenas na responsabilidade das lideranças. Cada um pode contribuir significativamente para a sua felicidade e de todos os elementos da equipa.
Em relação à idade? Existem diferenças de geração para geração?
Sim, existem diferenças geracionais significativas. As novas gerações, especialmente os Millennials e a Geração Z, valorizam muito a conciliação entre vida profissional e pessoal e procuram ambientes de trabalho flexíveis que permitam este equilíbrio, bem como ter qualidade de vida. Ao contrário das gerações anteriores, que muitas vezes priorizavam a estabilidade e a progressão na carreira a longo prazo, os jovens de hoje preferem um trabalho que lhes ofereça satisfação pessoal e que esteja alinhado com seus valores e propósito de vida.
Querem sentir que o seu trabalho tem impacto, que estão a trabalhar em algo que faz realmente a diferença na sua vida e na sociedade.
Criou o primeiro departamento de felicidade em Portugal? Muitas empresas portuguesas seguiram o seu exemplo?
Sim, criámos o primeiro Departamento de Felicidade em Portugal no Grupo Bernardo da Costa. Foi o ‘começo’ de uma revolução que cada vez mais tem tendência a ser o ‘normal’, teve um impacto muito significativo e, felizmente, muitas empresas portuguesas seguiram o nosso exemplo. No entanto, é importante referir que o grande objetivo do departamento da felicidade não é ‘pressionar’ as pessoas a serem felizes, mas sim criar um ambiente onde quem está menos bem encontre um espaço e pessoas que vão ajudar a melhorar essa situação.
Como gestor, como vê o fator idade e o facto de um colaborador acima dos 50 ser considerado dispensável pelo mercado, desperdiçando toda a sua experiência?
Considero essa visão extremamente míope e retrógrada. Colaboradores acima dos 50 anos trazem uma riqueza de experiência e conhecimento que é inestimável para qualquer organização. Oferecem perspetivas valiosas, ajudam os mais jovens e contribuem para a estabilidade e continuidade dos projetos da empresa. Como gestor, acredito que é crucial valorizar e integrar esses profissionais, aproveitando ao máximo a sua experiência. A experiência não se adquire na Faculdade.
Ao início, o seu Departamento de Felicidade foi encarado com desconfiança pelos colaboradores?
No início, houve alguma desconfiança e ceticismo por parte de alguns colaboradores. Era uma iniciativa nova e diferente do convencional. No entanto, à medida que os benefícios começaram a ser sentidos e os colaboradores perceberam o verdadeiro compromisso da empresa com o bem-estar individual e a promoção de um ambiente onde impere a saúde, a segurança e o equilíbrio entre a vida profissional, pessoal e familiar, a aceitação e o entusiasmo cresceram significativamente.
Há o chamado ‘greenwashing’ no que toca à sustentabilidade. Também há um ‘happinesswashing’ nas empresas. Ou seja, o fator felicidade pode ser usado como uma ferramenta meramente de marketing?
Sim, infelizmente, assim como existe o greenwashing, também pode haver o happinesswashing nas empresas. O conceito de felicidade pode ser usado como uma ferramenta de marketing, sem que haja um compromisso real com o bem-estar dos colaboradores. Há, sem dúvida, empresas que adotam a linguagem e as iniciativas de felicidade no trabalho apenas para melhorar a sua imagem pública, mas não implementam mudanças significativas que melhorem o ambiente de trabalho ou a qualidade de vida das suas pessoas.
A essência e a verdade acabam sempre por vir ao de cima. Os colaboradores, que lidam diariamente com a cultura e os valores da empresa, são os verdadeiros porta-vozes dessa cultura. Por isso, é essencial ter muito cuidado com o que se promove.
No Grupo Bernardo da Costa, estamos comprometidos com esta abordagem genuína. Acreditamos que a felicidade dos colaboradores é essencial para o sucesso a longo prazo da empresa. E o melhor marketing não é anunciado, nem promovido, é simplesmente vivido. Não somos uma empresa perfeita, nem deixamos de ter desafios nesta área da gestão de pessoas, mas temos uma cultura organizacional forte e procuramos melhorar todos os dias.
Em poucas palavras, o que ainda falta para que as empresas portuguesas entendam que a felicidade é essencial para o seu bottom line?
As empresas portuguesas precisam compreender que a felicidade dos colaboradores não é um luxo, mas uma aposta estratégica. É tão simples como, para nos sentirmos inspirados no trabalho, precisamos de sentir que estamos emocionalmente ligados às pessoas com quem trabalhamos, conectados com o trabalho que fazemos, com os valores e a missão da empresa. Está provado que a verdadeira amizade é a chave para o sucesso da nossa carreira a longo prazo e da nossa saúde e felicidade.
A cultura organizacional portuguesa é tendencialmente feliz, comparativamente com a de outros países?
É com grande felicidade que vivo numa era de mudança do paradigma organizacional, mudança essa estruturante para o desenvolvimento de empresas humanas e felizes. A humanização da gestão é para mim, um dos maiores passos na história da evolução das organizações. Estamos finalmente a trabalhar ao nível do bem-estar das pessoas e não só das pessoas que fazem parte de cada organização, mas também dos fornecedores, clientes, famílias e de toda a sociedade.
Comparativamente, Portugal ainda tem um caminho a percorrer para alcançar o nível de felicidade organizacional visto em alguns países nórdicos, por exemplo. No entanto, estamos a fazer progressos significativos e muitas empresas estão a adotar práticas que promovem um ambiente de trabalho mais positivo e saudável, sem dúvida.
A paridade é importante para o quociente de felicidade?
A paridade é fundamental para o quociente de felicidade. Tenho o lema de que, quando contratamos pessoas iguais, ninguém consegue resolver um problema diferente. É nas diferenças e diversidade que encontramos soluções. Quando há equidade de género e oportunidades iguais para todos, independentemente do sexo, cria-se um ambiente mais justo e inclusivo. Isso, por sua vez, aumenta a satisfação e o bem-estar dos colaboradores, promovendo uma cultura de respeito e valorização das diferenças.
De acordo com a sua experiência, existem diferenças de género no que respeita ao contributo para a felicidade das empresas?
Sim, existem algumas diferenças. As mulheres, muitas vezes, trazem uma abordagem mais empática e colaborativa para o ambiente de trabalho, o que pode enriquecer a cultura organizacional. No entanto, é importante não generalizar, pois tanto homens quanto mulheres têm a capacidade de contribuir significativamente para a felicidade no trabalho, cada um com suas características e competências únicas.