Felizes dos fãs de “Bridgerton” que esta quinta-feira usufruíram do feriado de Santo António. Os últimos episódios da terceira temporada da famosa série da Netflix ficaram disponíveis exatamente no feriado de Lisboa, o que levou muitas pessoas a aproveitarem o tempo livre para devorarem tudo de uma vez – eu incluída, como já devem ter reparado.
Tenho de admitir: estava muito entusiasmada com esta temporada de “Bridgerton” pois acreditava que finalmente ia ver a minha personagem preferida a brilhar e a ter o seu final feliz. Se acham que vou dizer que foi tudo lindo e maravilhoso, lamento desapontar. Alguns pontos do enredo não me convenceram, além de que achei que houve alguma pressa em despachar alguns assuntos, mas também não vou dizer que fiquei totalmente desagradada. E antes que me perguntem, aviso já que não li os livros que inspiraram a série, por isso escrevo sem termos de comparação.
O romance de Penelope Featherington com Colin Bridgerton deveria ser o foco, mas acabou por ficar um pouco para o lado. Vamos lá, já todos estávamos à espera que o final fosse aquele, por isso os momentos de conflito não deixaram propriamente os nervos à flor da pele. Além disso, temos de concordar com os irmãos de Colin quando estranharam o quão depressa tudo se desenrolou. Sim, meus bens, eram melhores amigos e tal e tal, mas passar de uma fase de Don Juan para pedir em casamento a amiga que desprezou foi um tanto ou quanto drástico.
O romance não foi memorável, mas a nossa Penelope está feliz e isso é que importa (e que linda está a Nicola Coughlan!) Além disso, houve duas situações nestes últimos quatro episódios que me pareceram bem mais relevantes do que o romance.
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Uma mulher que não se anula
Apesar de sempre ter acreditado ser impossível, Penelope foi pedida em casamento pelo amor da sua vida e acredita que vai finalmente libertar-se da prisão da sua família e ser valorizada como nunca antes foi. Mas há um problema: sente pressão para abandonar uma atividade que representa parte do que é: nada mais nada menos do que a escrita do folhetim de Lady Whistledown.
A mãe diz-lhe que uma mulher não pode ter sonhos e a certa altura o próprio noivo diz que o casamento deles nunca será feliz se ela mantiver a atividade. Muitas pessoas podem ter pensado: “Sim Penelope, já tens o homem por isso esquece lá as tuas coscuvilhices”, mas ela resiste. E ainda bem! Como explica a protagonista, escrever é uma libertação, é a atividade que a fez encontrar forma de se expressar, de demonstrar a sua inteligência, de se sentir valorizada, de ter poder numa sociedade que despreza as mulheres e de garantir uma forma de se sustentar (todos criticam, mas também pagam para ler e ela fez um belo mealheiro).
Penelope desespera por encontrar uma solução que a faça ter o melhor dos dois mundos, e nós desesperamos por ela. No final, fica a admiração por nunca ter desistido de lutar por tudo aquilo que é e por não se ter anulado por outra pessoa. É que o amor romântico é muito bonito, mas o amor-próprio vem sempre em primeiro lugar.
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A redenção de uma família
Lembram-se das primeiras temporadas de “Bridgerton” e do quão intragável era a família Featherington? Então, mas não é que aquela mãe e irmãs que pareciam saídas da “Cinderela” conseguiram ter o nosso perdão?
Um dos aspectos que mais tenho admirado nesta série é que tem personagens muito humanas. Todos cometem erros, uns com justificações mais plausíveis do que outros, mas se formos analisar as motivações e a história de cada um deles conseguimos entender o porquê de agirem assim, o que nos faz interrogar sobre o que seríamos e como agiríamos se estivéssemos na mesma situação – exceção para o pai da Cressida, que que homem detestável!
Durante as primeiras duas temporadas detestei a mãe e as irmãs de Penelope, mas desta vez tive pena delas e até fiquei feliz pelo desfecho que tiveram. Lady Featherington é o resultado de uma sociedade machista que abandona por completo as mulheres. Viúva e mãe de três filhas, fez de tudo para manter o estatuto da família e para garantir que encontrava os melhores futuros para cada uma. Pecou pelos meios que usou, pela negação do lado mais sentimental, por nunca ter visto o potencial de cada filha ou por não as ter estimulado a desejarem algo mais do que serem esposas e mães. Mas se tornou-se nesta pessoa foi porque foi levada a acreditar que precisava de ser assim para se proteger a si e à prole.
Prudence e Philippa só têm ouvidos para a mãe e por isso tornam-se pequenas cópias dela. Penelope foi uma exceção, muito graças à personalidade, espírito crítico e estímulos que recebeu do exterior. Curiosamente, reparamos nesta temporada que a falta de afetos é geral, que Lady Featherington apenas consegue focar na filha que lhe poderá trazer mais estabilidade e que isso cria desequilíbrios entre as irmãs.
Perdoei as Featherington por todos os erros que cometeram? Claro que não! Até porque ainda têm muito para trabalhar e melhorar. Mas agora entendo-as, interesso-me mais por elas e espero mesmo que continuem a evoluir e a divertir-nos na próxima temporada – e por falar na quarta temporada… já sabem que vai sair apenas em 2026? A paciência é realmente uma virtude, mas eu preferia não ter de esperar dois anos.