
Crianças e animais são as suas grandes causas e chegou a conciliar as duas no mesmo projeto. Há nove anos deixou a creche infantil para se dedicar à Pet Sitting Bicharada, que além de ter uma creche canina dá apoio a todo o reino animal.
Tem formação como educadora de infância, mas, mais do que as crianças, os animais sempre foram uma constante na sua vida. “Desde que me lembro, resgatava todo o tipo de animais e levava-os para casa. Durante a minha formação, tive também experiência em Educação Especial, o que acabou por influenciar o resto do meu percurso.” Foi o Linguini que mudou a sua vida. “Era um cão de rua, sem raça definida, já adulto, que me levou a procurar formação em Intervenções Assistidas com Animais. Comecei a trabalhar com crianças e animais através do programa R.E.A.D. Portugal, no qual realizava intervenções assistidas com o Linguini junto de crianças sinalizadas em escolas do concelho de São Domingos de Rana/Cascais.”
Há nove anos, Andreia decidiu deixar a creche de crianças para se dedicar à creche canina que fundou, a Pet Sitting Bicharada, em São Domingos de Rana, concelho de Cascais.
Como surgiu a ideia de criar a Bicharada?
A formação em Intervenções Assistidas era bastante completa, com uma grande componente de etiologia canina e treino, o que despertou ainda mais o meu interesse nesta área. Comecei a passear e treinar cães, e o meu trabalho começou a ser recomendado boca a boca, pelos bons resultados que obtinha. Quando dei por mim, já passeava sete ou oito cães ao mesmo tempo. Aí, percebi que precisava de um espaço para dar continuidade a esta procura crescente.
Foi difícil de implementar a ideia de creche animal?
Na altura, este conceito de creche canina ainda era pouco conhecido em Portugal, o que tornou tudo mais desafiante. Contudo, já era uma prática consolidada noutros países, por isso investi em pesquisa intensiva.
Depois, tratei de encontrar o espaço ideal, obter as licenças e resolver toda a burocracia – um processo que demorou cerca de um ano. Assim nasceu o Pet Sitting Bicharada. O nome reflete o desejo de ajudar todos os tipos de animais, e não apenas cães ou gatos.
Entretanto, o Linguini adoeceu. Despedi-me da creche de crianças onde trabalhava e dediquei-me a 100% a ele e à creche canina.
Que serviços presta?
Oferecemos apoio a animais de estimação de diferentes espécies: cães, gatos, tartarugas, aves, roedores, entre outros. Além disso, temos serviços mais específicos, como os passeios de cães, petsitting noturno, a creche canina e o alojamento familiar.
Quais são os principais desafios que enfrenta?
Principalmente, a concorrência desleal de espaços que operam sem licenças. Como têm encargos menores, os preços também são mais baixos. Há também pessoas que oferecem serviços sem qualquer formação, nas suas próprias casas.
Outro desafio foi constituir uma equipa adequada. Sem ela, seria muito difícil garantir tantos serviços e manter a qualidade que nos distingue.

Quantos ‘alunos’ tem neste momento?
Atualmente temos 90 ‘alunos’ com mensalidades – uma média de 30 cães em cada dia da semana.
A creche fica numa zona residencial, como foi recebida pelos restantes moradores?
Antes de abrir oficialmente a creche, conversei com os moradores da área. A maioria mostrou-se bastante receptiva e apoiou-nos desde o início com pequenas coisas, como emprestar uma tomada ou uma mangueira durante as obras.
Há ‘alunos’ difíceis?
Temos alguns ‘alunos’ mais desafiantes, com muitos medos ou reatividade causada por inseguranças. Nunca recusamos ajudar até tentar tudo o que está ao nosso alcance. Caso não consigamos, procuramos direcionar os tutores para outros profissionais.
Quais os critérios para aceitar um animal?
Para os serviços ao domicílio, o único requisito é uma visita prévia para conhecer o animal e as suas necessidades. Já na creche, os requisitos incluem uma avaliação comportamental, vacinas e desparasitações em dia, e a castração dos machos com mais de 12 meses.
Como são os ‘encarregados de educação’?
Os tutores dos animais são tão preocupados como os pais de crianças numa creche. Durante a recepção ou entrega, também damos recados: se passaram bem o dia, se houve alterações, se comeram bem, entre outros detalhes.
Qual a mais-valia de ter um cão numa creche?
A grande mais-valia é a socialização controlada e saudável. Além disso, trabalhamos o gasto de energia, o que ajuda a reduzir a ansiedade. Também abordamos outras questões comportamentais que possam surgir.
É um serviço que ainda é considerado um luxo?
Não considero este serviço um luxo, principalmente nos dias de hoje. Acho que é uma necessidade. É verdade que nem todas as pessoas têm possibilidades financeiras para usufruir de uma creche para animais. No entanto, quem adota um cão deve ponderar várias responsabilidades: os custos do veterinário, a alimentação de qualidade, onde deixá-lo durante as férias e o que fazer em caso de problemas comportamentais.
Temos parcerias com instituições e oferecemos descontos a quem adota nesses locais, precisamente porque consideramos que é um serviço essencial.
Relativamente à causa animal, quais são, para si, as prioridades em termos de legislação ou apoios?
Deveriam existir mais apoios, como a redução do IVA na alimentação e medicamentos para animais, mais ajuda para as instituições que resgatam e apoiam animais e benefícios para quem adota.