Pronto, admito: nem toda a gente terá uma panca com buracos negros como eu. Mas nesta altura em que a Terra nos parece um lugar tão complicado para viver, que tal afastarmos um bocadinho – vá – o nosso foco e concentrarmo-nos no vastíssimo universo à nossa volta?
O meu problema até agora é que conhecia outros humanos obcecados com buracos negros, mas esses humanos geralmente percebiam bem mais do assunto do que eu. A perguntas como ‘então mas diz-me lá, o que é que havia antes do Big Bang?’ respondiam-me coisas como ‘para perceberes isso, tinhas de saber imensas coisas que não sabes e que não se aprendem em cinco minutos’ (obrigadinha) ou ‘Isso é a pergunta para que todos os cientistas gostavam de ter a resposta’ (obrigadinha 2).
Bem, isto para vos dizer que não é que este livro me tenha respondido a todas as minhas dúvidas. Embora os autores se esforcem, a certa altura percebi claramente que de facto, por mais que uma leiga tenha boa vontade, de facto há coisas que nos vão escapar sempre. Dito isto, este é um livro interessantíssimo para percebermos porque é que tudo neste mundo – até o Putin – é, para o universo, basicamente inexistente.
Aqui se fala de conceitos básicos mas misteriosos como espaço, massa, matéria e tempo. Aqui se fala de coisas como gluões (aposto que vocês não sabem o que isto é), quarks, o campo de Higgs, antiversão, explosões gigantes, viagens no tempo. Ou seja: posso dizer que poucos livros ensinam tanto. Claro que, precisamente por este motivo, é um daqueles livros que não tem de ser lido todo de uma vez: podemos voltar a ele vezes sem conta, reler o que não percebemos bem, aceitar que algumas coisas nunca vamos perceber.
Os autores, um doutorado em robótica e um professor de física, têm a tarefa ingratíssima de explicar a pessoas como eu conceitos como ‘o dilema quântico’, e digo-vos uma coisa, não só lhes tiro o meu chapéu como se saem muito bem (imagino eu). Apesar de tentarem aligeirar o tema com umas piadas que às vezes eram dispensáveis porque, ok, já toda a gente percebeu que se está a falar de coisas difíceis de perceber, e não é por comparar o universo a uma telemovela mexicana que vai ficar mais fácil, até lhes perdoamos porque ao menos, ao contrário dos meus amigos físicos, estes ainda tentam.
Em resumo: um bom investimento para mentes inquietas e uma boa leitura para pôr os neurónios a mexer. Uma coisa os autores garantem: “Os buracos negros são dos piores destinos para férias.”
Relaxem que para a próxima semana vos falarei do livro da Duquesa de Iorque.
‘Não fazemos ideia: um guia para o universo desconhecido’ – Jorge Cham e Daniel Whiteson, Ed. Desassossego, E18,80