As livrarias estão cheias de livros sobre a Segunda Guerra. Ainda na semana passada vos trouxe aqui um. Mas a primeira, em comparação, ainda está pouco explorada literariamente. Eu disse em comparação. Em comparação com Auschwitz e outros horrores do Holocausto, parece pouco apelativa. E no entanto, foi um dos conflitos mais sangrentos de toda a História da Humanidade.
A autora deste ‘In memoriam’, a americana Alice Winn, estava aparentemente descansada da sua vida quando deu de caras com um ‘tesouro digital’: uma lista de estudantes da sua própria escola, Marlborough College, que tinham sido mortos na Primeira Guerra. Os estudantes largaram os livros, as aulas e a poesia para se alistarem e escreviam à família cartas literárias e heróicas – em resumo, era tudo muito glamouroso até que aconteceu o que costuma acontecer em todas as guerras, e todos aqueles alunos inocentes e cheios de sonhos começaram a morrer que nem tordos.
Alice Winn pegou nesse cenário como ponto de partida para um romance entre dois rapazes: no ano de 1914, Henry Gaunt e Sidney Ellwood, ambos alunos na mesma escola, assistem ao rebentar da primeira guerra mundial e esperam até terem idade para se alistarem. A certa altura, a mãe de Gaunt pede-lhe que se aliste para proteger a família, e ele vê nesta ‘aventura’ uma fuga da paixão por Ellwood. Mas este depressa se lhe junta, e assim ambos abandonam a idílica vida no colégio inglês para se alistarem na frente.
Em breve são seguidos pelos amigos – e pela morte. Todos partem inspirados pela literatura heróica, mas encontram uma realidade de sangue e de sofrimento que é muito diferente daquela que tinham lido em Tucídides e na Ilíada.
Claro que o que se segue é um vale de lágrimas, compreensivelmente, muitas vezes a lembrar os velhos filmes de Hollywood. Mas o livro está tão bem escrito que não é nem um livro sobre a guerra nem um livro ‘gay’, mas uma história universal sobre o amor e a morte (já repararam como vêm tantas vezes juntos?) que vai agradar a muitos leitores diferentes. Aliás, ganhou o prémio Waterstones para primeiro romance em 2023.
Agora que estamos, como é moda dizer-se, a aproximar-nos da semana mais romântica do ano, se quiserem uma boa sugestão de presente, aqui está. Fiquem com um livro que nos recorda a velha máxima: make love, not war. Todos os livros sobre guerra e romance serão poucos para convencer-nos deste conselho universal. Mas podemos em todo o caso tentar.
‘In memoriam‘ – Alice Winn, Ed.Casa das Letras, E17,37