Para quem não conhece, Ana Cláudia Quintana Arantes é autora de um dos livros mais interessantes publicados nos últimos anos. Em ‘A morte é um dia que vale a pena viver’, partilha a sua experiência como médica geriatra e especialista em cuidados paliativos e fala do maior tabu do nosso mundo – a morte – e da forma como a nossa própria morte nos pode ensinar a viver melhor.
Aqui, neste ´Para a vida toda vale a pena viver’ (Pergaminho) volta àquilo em que é estrondosa – falar de temas que nos são difíceis e nos quais não gostamos de pensar – e propõe nove pilares para começar hoje a construir uma boa velhice. Ela própria afirma: “Nos meus livros anteriores debrucei-me sobre a morte relatando a minha vivência como médica. Neste sou tão caminhante como quem lê estas linhas. Já sabemos que nos espera um fim comum.”
Pois sabemos, mas a maioria de nós não gosta nada de pensar nisso. Desafio: acreditar que é capaz de aprender a lidar com a realidade.
“Se sabemos desde sempre que vamos envelhecer, como explicar o facto de não nos prepararmos para isso?” E temos mesmo de nos preparar porque teremos de enfrentar duras provas, não apenas o nosso próprio envelhecimento como o envelhecimento das pessoas à nossa volta e, um elemento original, a falta de conhecimento dos profissionais de saúde, incluindo médicos, sobre esse assunto.
Primeiro conselho: viver cada dia o melhor que pode. Claro que isto não é nada simples, e passa (por esta não estava à espera) por abraçar a tristeza. “Repudiar a tristeza seria abrir mão da parte mais corajosa da nossa humanidade. A tristeza tem um papel vital na estruturação do nosso mundo interno.”
Outro mandamento original: aprender a dar trabalho. Agradeça, seja boa doente, seja grata a quem a trata. “O facto de termos cabelos brancos não nos torna santos. Temos uma história construída com os nossos filhos e com os nossos pais, e as raízes da solidão noslares podem estar nas relações de décadas atrás.”
Pronto, ia lançada a fazer-vos a leitura acompanhada mas façam o favor de ir ler o resto, porque há muito que não pode – na verdade não deve – ser resumido. Fica aqui a reflexão final, que dá o mote ao livro: “”Gostaria que, a cada dia que voltasse para casa, o leitor se olhasse ao espelho e dissesse à sua imagem: ‘Gosto mais desta pessoa do que daquela que saiu hoje cedo.”
Temos de olhar para o nosso tempo como algo que nos pertence, afirma Ana Cláudia. Vamos lá cumprir o principal mandamento da nossa vida: descobrir o que fazemos aqui.
Enfim, ou não.
Mas depois lá mais para a frente não se queixe.
Para a vida toda vale a pena viver’ – Ana Claudia Quintana Arantes, Pergaminho, E14,94