
Eu sei, podia ter escolhido um livro mais nacional, patriota ou ligado ao 25 de Abril, mas achei que não havia nada que melhor celebrasse a liberdade do que este ‘Colditz’, ou como é anunciado ‘a incrível história verídica da mais infame das prisões nazis’.
Sempre gostei de histórias de fugas, eu e presumo que a grande maioria das pessoas. No meu caso, é por achar que nunca teria coragem de tentar nada tão arriscado. Por acaso, a propósito, não sei como é que ainda ninguém escreveu ou fez uma série sobre fugas famosas de prisões portuguesas, que dava pano para mangas. Mas adiante.
Para quem não sabe, o Castelo de Colditz foi muita coisa durante a sua existência: começou como hospital psiquiátrico, depois foi um campo de prisioneiros de guerra que tinham tentado escapar de outros campos, uma prisão de alta segurança, que tinha alegadamente mais guardas que prisioneiros e acerca da qual o próprio Göring afirmou que era ‘à prova de fugas’, devido à situação do castelo em cima de rochedos. Estava enganado (como se enganou acerca de tantas outras coisas) porque houve várias, o que se explicava facilmente pela natureza dos prisioneiros ali encerrados: a maior parte deles era… perita em fugir. Enfim, mas que era difícil, era.
Estas fugas inspiraram séries e filmes, mas esta é a primeira história daquilo que realmente se passava dentro das paredes do castelo.
O que era Colditz? Como o autor, o historiador Ben Macintyre, nota: “Colditz era uma réplica em miniatura da sociedade pré-Segunda Guerra, mas mais estranha. Era uma comunidade muito unida, intensamente dividia em torno de questões de classe, política, sexualidade e raça.”
O drama de Colditz incluía, além de combatentes, comunistas, cientistas, homossexuais, mulheres, espiões, operários, poetas e traidores. Como o próprio autor afirma, muitas destas personagens estiveram até agora desconhecidas porque não se incluíam no “molde tradicional do oficial aliado branco do sexo masculino que estava empenhado em fugir.”
O livro é emocionante acima de tudo porque descreve a angústia latente num dia a dia sofrido em que a esperança teimava em persistir. “Normalmente, as histórias de guerra são sobre acontecimentos. A história de Colditz, em contraste, é em grande medida uma história sobre inatividade, uma longa sucessão de dias duplicados em que ocorriam poucas coisas dignas de nota, pontuados por momentos de intensa excitação.”
Quem eram os seus ocupantes, quais eram as suas histórias, como se relacionavam, como se passava o tempo, como eram os guardas alemães, o que aconteceu verdadeiramente? Vale muito a pena, neste dia em que celebramos a liberdade em Portugal, ficar a saber mais sobre a vida e a morte na mais famosa prisão nazi. Para que, a partir de agora, nada disto venha a repetir-se.
‘Colditz – Os prisioneiros do castelo’ – Ben Macintyre, D. Quixote, E24,90