
Agora que se fala tanto em bullying – como prevenir, como impedir que aconteça, o que fazer quando acontece – nada melhor do que um livro que ‘explica’ o assunto aos mais novos de forma clara. ‘Explicar’ não é bem o termo aqui – e ainda bem que não é. A autora, a psicóloga belga Amélie Javaux, encontra uma metáfora bastante adequada: a dos lobos.
“Há um lobo na minha escola. O meu lobo chama-se Andreia. Ela anda sempre com a sua alcateia.”
O mais original neste livro é que ‘encena’ uma transformação: da Carlota em Andreia, do cordeirinho em lobo. Este é uma das mais dramáticas consequências do bullying – agressão gera agressão, um agressor cultiva uma cultura de agressividade e promove o aparecimento de mais agressores – que não se vê muito em livros destinados a um público infantil.
Claro que o livro acaba em bem, se calhar de forma demasiado rápida e simples, mas as soluções estão lá: contar a um adulto em quem se confie e não deixar que o ódio nos transforme em pessoas que odeiam.
Há quem diga que não se deve falar de assuntos tristes com as crianças, há quem defenda que um livro destes é inútil antes de alguma coisa de facto acontecer, mas a ideia é abordar o assunto antes mesmo que alguma coisa aconteça. Se calhar, ‘abordar o assunto’ é uma forma demasiado alarmista de falar disto. Mesmo que a sua criança não esteja, felizmente, a passar por uma situação ‘de alcateia’, esta é uma história que pode ser lida, como tantas outras. Afinal, não lemos só sobre o que nos está a acontecer.
E mesmo que não seja vítima de bullying, é sempre educativo falar um bocadinho sobre o assunto. Muitas vezes os pais não sabem como falar de temas maiscomplicados ou sofridos, e livros como este podem ser um bom ponto de partida. Ele já viu algum colega chamar nomes ou tratar mal outro menino? Que se pode fazer para ajudar? Que podemos fazer para nunca sermos lobos e não deixarmos que os lobos nos devorem?
E como o bullying não desaparece na infância, se calhar podemos aproveitar para pensar se temos algum lobo a infernizar-nos a existência e o que podemos fazer para nos libertarmos dele.
‘O dia em que me tornei pior do que um lobo’ – Amélie Javaux e Annick Masson, Fábula, E13,95