
Outro caso dá-se em profissões como a advocacia, em que “é suposto” vestir de forma “elegante” e “clássica” – o que pode ser interpretado de muitas maneiras – sendo que em vários casos, a fatiota traduz tudo menos a discrição e seriedade que o ofício exige que se aparente. Muitas vezes existe um código de vestuário, mas (salvo no caso dos uniformes) longe vão os tempos em que a forma de o utilizar era alvo de inspecção por parte das próprias organizações. Assim, um (a) colaboradora (a) poderá ser avisado (a) se vestir roupa demasiado casual em certas empresas ou instituições, mas dificilmente lhe será apontada a melhor maneira de se apresentar correctamente nesse estilo. A tarefa fica ao critério de cada um e quem não foi habituado, não se interessa por moda ou prefere um estilo muito descontraído pode sentir algumas dificuldades em apresentar “o ar certo” e sentir-se mesmo desconfortável. E estar desconfortável é a pior coisa que se pode fazer em termos de visual, porque não só incomoda o próprio, como se nota à distância. Há ainda quem não esteja acostumado a usar tailleur, fato ou mesmo traje sóbrio e caia no erro de o fazer, à pressa, quando começa a ir às primeiras entrevistas de emprego. O look maçarico “esta é a minha 1ª entrevista e nunca vesti um fato na vida” é das coisas mais fáceis de detectar: por exemplo, maquilhagem pesada,tailleur demasiado rígido ou largo e/ou de má qualidade acompanhado de cabelo esticado, mas não como deveria (para elas) fato estilo vendedor de banha da cobra e demasiado gel no cabelo (para eles).
Pior, pessoas assim costumam desleixar-se quando conseguem o emprego desejado e logo que o stress do mesmo as assalta; o visual “esforcei-me demasiado” passa facilmente a roupa amarrotada, sapatos escolhidos ao acaso, camisolas de malha estampada sobre tailleurs e outros faux pas que dão um aspecto pouco cuidado.
Desastres comuns…e dicas para os evitar:
– “Fazer o enxoval” de roupa-adequada-para-trabalhar todo de uma vez, às três pancadas e à pressa, vulgo “começo para a semana!”. É má receita porque fica caro, dificilmente encontrará o que procura (principalmente se não souber exactamente o quê, nem onde procurar) está sujeito (a) à oferta que houver nas lojas nesse preciso momento (o que é dispensável quando se trata de roupa clássica, que não passa de moda tão facilmente) não tem tempo para mandar adaptar certas peças na costureira… e muito menos, de as usar um par de vezes para se adaptar a elas.
– Sempre ouvi dizer que uma pessoa deve vestir-se não para o lugar que ocupa mas (dentro do razoável) para o lugar que ambiciona. Considere o seu guarda roupa como um investimento a longo prazo. Vá estando atento (a) à oferta das diferentes marcas, a dicas de pessoas cujo estilo aprecia, observe revistas ou consulte mesmo um personal shopper com provas dadas. Depois, de acordo com o seu tipo de corpo e estilo, vá comprando uma camisa agora, um fato mais tarde, um sapato aqui, um vestido ali, e habitue-se a usá-los (pode ir treinando quando tiver um evento que exija traje social, já que certas toilettes, com as devidas adaptações, se prestam a ambas as circunstâncias). Os saldos e promoções são óptimos para se abastecer de peças assim.
– Salto demasiado altos: para quem trabalha numa revista de moda poderão ser aceitáveis consoante as tendências, mas em geral há que evitar sapatos que usasse para uma recepção, gala ou para sair à noite. Stilettos ou pumps assassinos no local de trabalho não só são desconfortáveis, provocando um andar estranho (principalmente se não estiver habituada) como transmitem um ar de pouca seriedade, estilo secretária totó de filme para adultos que se transforma em vamp mais minuto, menos minuto. Se forem muito bonitos e relativamente simples, pode usá-los nas festas da empresa. Pumps ou scarpins razoáveis são uma escolha mais sensata para dias normais. Os kitten heels, desde que ligeiramente compensados, também ficam amorosos com calças cigarrette e certas saias, para quem tem pernas elegantes.
– Igualmente comum, e muito mau, é ver senhoras usar um fato com mocassins rasos de camurça ou com botas grosseiras. (Não é impossível incorporar botas numa toilette clássica, mas é uma escolha arriscada). Se optar por flats ou outro calçado confortável, escolha umas bailarinas, uma plataforma elegante quase invisível (semelhante à do peep toe abaixo) ou outro modelo delicado. Formas ligeiramente bicudas alongam sempre a figura, mesmo que o salto seja baixo.
– Tailleurs ou fatos de má qualidade: se há peças em que um material menos bom pode passar despercebido, esta não é uma delas. Nunca me hei-de esquecer de uma certa Relações Públicas algo rechonchuda que usou um tailleur verde-musgo de tecido elástico e calças curtas, ligeiramente brilhante ao sol, que enrugava e marcava todas as curvas e gordurinhas. Isso nunca pode funcionar: prefira as cores básicas (preto, cinza, azul escuro) e modelagens simples, sem fantasias (calça cigarrete, calça solta e saia lápis) e materiais de confiança, sem brilho nem elasticidade. Poderá ter um blazer mais curto e outro mais longo, um fato claro e um escuro. A quantidade dependerá do seu orçamento e do valor-por uso, mas se possível, escolha alguns que possa coordenar entre si e que condigam com as suas blusas, tops e camisas. O mesmo vale para os cavalheiros: evite materiais estranhos e jamais compre fatos sem os mandar ajustar na loja ou num bom alfaiate. Estes são uma ciência em si mesmos – e a abordar noutro post, – mas em geral há que evitar tons demasiado escuros (que exigem qualidade, prática e experiência para resultar como devem no uso quotidiano) ombros demasiado largos ou justos e bainhas mal calculadas, como é óbvio.
– Cingir-se ao fato de duas peças, no caso das senhoras: é sempre limitado e para quem o usa diariamente, é necessária uma quantidade razoável. Vestidos elegantes (óptimos porque não precisa de coordenar tantas peças) com uma écharpe, se tiverem mangas compridas, ou sob um blazer, saias lápis ou linha A com um bom casaco (o estilo Chanel ou belle époque é óptimo) e blusas femininas são exemplos de roupas que pode combinar para fazer toilettes clássicas e aceitáveis.
– O efeito “hospedeira de classe económica” ou seja, blazer escolhido ao acaso, que fica largo nas costas, e um lencinho amarrado ao pescoço em laçarote. Lenços e écharpes são dos melhores e mais versáteis acessórios, mas têm de ser de boa qualidade. Se forem e parecerem sintéticos, o efeito é atroz. Também há muitas maneiras graciosas de os usar, com naturalidade – fuja do visual “caricatura de senhora bem”, especialmente se esse não é o seu estilo habitual.
Autoria: Imperatriz Sissi