
Luís Coelho
Há um ano, Roselyn Silva tinha um pequeno atelier no Areeiro, em Lisboa, onde criava peças exclusivas para mulheres “elegantes, sofisticadas, arrojadas e confiantes”. Na altura, tinha muitas ambições que se concretizaram mais rápido do que alguma vez imaginou – participou no programa ‘Shark Tank’ e atualmente é dona de um negócio bem-sucedido, e prepara-se para inaugurar duas novas lojas em Portugal e pôr em prática um plano de internacionalização, agora a partir de um ateliê na Rua Castilho.
Natural de São Tomé e Príncipe, Roselyn vive em Portugal desde os quatro anos e as suas criações são um reflexo da sua personalidade: uma fusão entre a cultura africana e europeia. Sempre foi apaixonada por moda. Na infância, gostava de desenhar e alterava as próprias roupas por diversão. “As minhas amigas não percebiam por que motivo fazia sempre as bonecas sem cabeça e eu dizia-lhes que só me interessava o corpo para desenhar a roupa”, recorda.
A estilista via a atividade como um passatempo, mas tudo mudou quando criou uma peça para uma amiga, que vivia em Londres, usar num evento. “Foi um sucesso! As pessoas gostaram muito e ela disse-me ‘aposta nisso!’, e eu decidi experimentar.”
Em 2013, aventurou-se e lançou a sua própria marca, homónima. Consciente da importância do marketing, criou também um site e um vídeo promocional, e recorreu às redes sociais para divulgar o seu trabalho. Como resultado, começou a receber várias encomendas e convites para desfiles. “Penso que criei a minha marca no momento certo porque o étnico estava muito na moda em 2013/2014. De repente, as atenções viraram-se para o que é africano”, diz a criadora.
A primeira coleção, a Rose Collection, valeu-lhe alguns convites para participar em vários programas de televisão e a oportunidade de se apresentar noutros territórios, nomeadamente Inglaterra e Macau.
Numa fase inicial, Roselyn conciliou o trabalho na área da sua formação, ligado à engenharia civil, com o design, mas em julho de 2014 acabou por abandonar o emprego para se dedicar inteiramente à marca Roselyn Silva. “Cheguei a um ponto em que não dava mais. Era impossível fazer bem as duas coisas a 100% e eu já estava a ficar afetada tanto numa área como na outra.”
Mergulho para o sucesso
No final do mesmo ano, com uma procura acima das expetativas e sem capacidade de lhes dar resposta, a designer decidiu participar no programa ‘Shark Tank’, que permite aos empreendedores buscarem financiamento junto de um grupo de investidores, mais conhecidos como ‘tubarões’. “Quando apareceu a oportunidade, pensei ‘tenho um negócio, não tenho é as bases para que ele cresça. Porque não?’ Foi esse o motivo que me levou a concorrer e a arriscar.”
Depois de dois “nãos”, Roselyn recebeu uma proposta do jurado Tim Vieira: 50 mil euros por 50 por cento da marca. Mário Ferreira, outro ‘tubarão’, propôs dividir a percentagem com o empresário sul-africano. Estava assim lançada uma parceria de sucesso, cujo balanço é bastante positivo. “A nível mediático foi um ‘boom’. Tive acesso imediato às figuras públicas. Vesti várias celebridades e algumas tiveram bastante destaque na imprensa.”
Outra consequência importante foi a abertura de um novo atelier na Rua Castilho, uma das zonas nobres de Lisboa. “Posicionarmo-nos a marcar no sítio certo foi uma parte fundamental do investimento. É exatamente aquilo que eu sempre sonhei.”
Roselyn Silva está apenas a começar. Criou uma coleção masculina e prepara-se para expandir a marca a nível global com uma linha de pronto-a-vestir. Em Portugal, podemos esperar novidades (brevemente) na Rua da Madalena, em Lisboa, e no Porto. Lá fora, vai começar pela Alemanha (Berlim), Angola e Moçambique.
8 perguntas a Roselyn
Aos 28 anos, é uma mulher realizada. Tão alegre quanto as roupas que cria, se tivesse que declarar uma lei, limitava a cor preta aos domingos e funerais.
Como definiria o seu estilo pessoal?
Elegante e clássico. Sou arrojada porque gosto de cores e peças diferentes. Gosto sempre de passar uma imagem de seriedade, confiança e, acima de tudo, fresca e simpática. A minha roupa tem de passar isso, mesmo antes de eu falar.
Se pudesse ter o guarda-roupa de qualquer personagem do cinema ou da televisão, qual seria?
O da Carrie, da série ‘O Sexo e a Cidade’. Adorava ter o guarda-roupa de todas as personagens da série. Mas se tivesse que escolher uma, seria ela.
Quem são os seus designers preferidos?
Stella Jean e Carolina Herrera. A Stella Jean porque tem a mesma linha, inspira-se muito em tecidos africanos, mas, a nível de estilo, sou fã de Carolina Herrera. Quem observar o meu trabalho, percebe que eu me inspiro muito nas duas. Daí faço a fusão e nasce a Roselyn Silva.
Como definiria o estilo da mulher portuguesa?
A mulher portuguesa é vaidosa, mas não arrisca muito… ainda é conservadora. Mas é elegante e tem bom gosto.
Que peças é que todas as mulheres deviam ter no guarda-roupa?
Sou apologista de que uma mulher deve ter um blazer, sempre! É uma peça intemporal e fica sempre bem em qualquer ocasião. Também acho que se deve apostar em vestidos cintados e com um corte clássico. São peças que facilmente conseguimos por preços mais acessíveis.
O que torna uma peça intemporal?
O corte, sem dúvida. Se uma peça tiver um corte que assente bem no corpo, podemos vesti-la sempre, independentemente da cor e do padrão.
O que aprende com as gerações mais novas?
A classe mais jovem consome a moda como se fosse ‘fast food’. É graças a ela que os estilistas têm que estar sempre a desenvolver novas tendências porque ela consome muito, é mais arrojada e ousada. Isso permite-nos ser mais criativos e tira-nos da nossa zona de
conforto.
Que melhor conselho alguma vez recebeu?
Foi de uma pessoa de quem gosto muito e por quem tenho um carinho especial, a Leonor Poeiras. O conselho que ela me deu foi ‘mantém sempre a tua identidade nas roupas’ – que é o estilo étnico. Os designers, por vezes, cometem o erro de fazer algo completamente diferente daquilo a que habituaram o público; esquecem-se de manter a identidade e matam coleções por causa disso. Esse conselho marcou-me bastante e acho que vai ajudar-me muito para o resto da minha carreira.