Pode-se ser ao mesmo tempo fiel às nossas raízes e muito original? Nuno Gama sempre provou que sim. Já se disse sobre ele que tornou a Portugalidade qualquer coisa que se veste. A sua cruz de Cristo é facilmente reconhecível e desde sempre que traduz na sua arte o orgulho de ser português, incorporando símbolos nacionais nas suas criações. E isso tornou a ser verdade na sua mais recente apresentação, que aconteceu no recém re-aberto Mude – Museu do Design, na Baixa lisboeta.
“Fronteira” foi o tema escolhido para a coleção outono/inverno 2024/25, apresentada a 30 de Outubro, e foi uma homenagem às tradições de Miranda do Douro, como a Capa de Honras e os famosos pauliteiros.
A ideia de fronteira está presente no território mirandês, que preserva uma língua própria e fortes tradições onde a ideia de masculino continua muito presente. Mas a palavra fronteira, para Nuno Gama, não significa separação mas união: entre povos, culturas, pessoas e tempos.
Não houve o habitual desfile: o estilista escolheu juntar-se ao espírito do museu e mostrar as suas criações como se fossem peças, pedindo aos convidados para circularem pela sala e observarem por si próprios.
E o que viram foi mais uma vez uma homenagem a Portugal e um compromisso com a sustentabilidade, através da beleza única de peças feitas com matérias-primas nacionais como a lã ecológica das cabras Shetland portuguesas. Também os bordados, totalmente artesanais, refletem o espírito e as tradições ancestrais da região, sendo criados por artesãs de Sendim (Miranda do Douro). As cores privilegiadas foram o verde-menta e os tons decastanho, reforçando assim a ideia de ligação à terra e ao ambiente. À sustentabilidade junta-se o conforto e a originalidade de pormenores como franjas ou bordados de aventais minhotos aplicados em casacos, que transformam cada peça numa criação única.