Filipa Jardim da Silva, 37 anos, psicóloga clínica e coach, criou a www.transformar.pt, uma academia online que tem o propósito – ambicioso – de promover transformações individuais e coletivas bem-sucedidas, sustentáveis e duradouras. Ideia-chave: dotar as pessoas de ferramentas eficazes para enfrentar os desafios e realizar as mudanças que adiam há tanto tempo, sempre na ótica do desenvolvimento pessoal e de uma vida mais plena. O plano surgiu na sua cabeça em dezembro de 2017: “foi nessa altura que senti um grande apelo para começar a criar algum tipo de conteúdo que pudesse chegar a mais pessoas em maior escala. Nesse momento, surgiu a ideia de transformar.” E se em janeiro de 2018 foram dados os primeiros passos, nesse ano uma gravidez e um livro adiaram o projeto em 2019. Até que chegou a pandemia e o mundo se virou de cabeça para baixo. “Pensei: não posso mais virar as costas a esta missão, não vou procurar mais as circunstâncias perfeitas, eu tenho de cumprir com este projeto”. Em 2020, nascia a Transformar.
A psicóloga clinica reuniu uma equipa multidisciplinar de profissionais, de diferentes áreas, da psicologia à nutrição, do desporto à parentalidade, da medicina funcional ao coaching, e criou uma plataforma onde é possível aceder a várias ferramentas de desenvolvimento pessoal, como ebooks, cursos e webinares especializados e programas online de longa duração. A distância deixa de ser uma questão que impede a procura de uma mudança positiva nas nossas vidas e a tecnologia é tornada uma arma para ultrapassar as condicionantes impostas pela Covid-19.
Para conhecer melhor este projeto, conversámos com Filipa Jardim da Silva, que não passou em branco os desafios lançados pela pandemia a nível da nossa saúde mental.
– Tendo já o seu projeto em nome próprio, porquê ‘complicar’ a sua vida com a academia Transformar?
A Academia Transformar surge da vontade de chegar a mais pessoas, de criar outros formatos de contributo e intervenção, atenuando barreiras físicas e temporais. Sinto que a minha missão de contribuir para mudanças sustentáveis e para maiores níveis de saúde, física e psicológica, gera-me uma certa irrequietude que se traduz numa grande curiosidade, aprendizagem permanente e busca por continuadamente contribuir para maiores níveis de autoconhecimento e bem-estar.
– O que a diferencia de outros projetos da mesma natureza que já existem?
Este projeto é construído por mim, enquanto profissional de saúde já com uma vasta experiência no offline. O pilar base desta iniciativa é a missão de promover saúde, autoconhecimento e mudanças reais, partindo de saberes atualizados da ciência, em várias áreas e tendo em consideração a forma como se criam novos hábitos. No fundo este projeto assume-se como uma extensão e prolongamento do meu trabalho presencial, para conseguir chegar a mais pessoas e permitir que variados profissionais de saúde criem conteúdos digitais diferenciadores e fidedignos, agregando saber numa única plataforma. Assim, o ponto de partida não é uma boa estratégia de marketing digital nem é adquirir notoriedade. É efetivamente criar conteúdos promotores de saúde física e psicológica de mais fácil acesso, primeiramente em língua portuguesa.
– Qual é o target deste projeto?
O público-alvo do projeto são todos aqueles que se queiram atualizar, conhecer melhor, criar hábitos mais saudáveis e, assim, potenciar uma forma de pensar, de sentir e de agir mais alinhada com os valores e objetivos de cada pessoa. Poderá interessar a um jovem adulto de 18 anos, como a um adulto de 30 ou de 60 anos. Poderá apoiar alguém que está a começar a pensar em mudar algo como poderá ser um recurso valioso para quem já soma muitas tentativas falhadas e frustração. A Transformar irá criar conteúdos em quatro áreas que considero transversais à nossa vida: saúde, produtividade e carreira, relações e parentalidade. Isso mostra também o quão abrangente é a Academia.
– Quais as ofertas que estão disponíveis nesta fase?
A primeira oferta foi o Programa Mais Saúde Menos Dietas e um ebook nesta área de comportamento alimentar, essencialmente porque é uma área a que me tenho dedicado bastante e porque constitui um problema para muitas pessoas. Este programa receberá novos alunos de três em três meses sensivelmente. Neste momento temos já duas turmas pelo que em abril deveremos abrir novas vagas para uma terceira turma.
Ainda dentro da área da Saúde, temos agora disponível o Curso Alimentação à Prova de Ansiedade construído pela nossa formadora Vanessa Andrade, Chef e Consultora Macrobiótica que pretende fomentar uma alimentação mais consciente e ajudar todos a regular a ansiedade de uma forma mais eficaz, fazendo da nossa despensa uma verdadeira farmácia natural. Este Curso estará disponível em permanência, mas até dia 3 de março está com um valor promocional de aquisição para os alunos pioneiros. No final de março está previsto ser lançado o Programa Ganhar Horas ao Dia, que se insere na área de Produtividade e Carreira e visa apoiar todos a construir um sistema de organização pessoal mais eficaz. Será nessa altura também publicado um segundo Ebook gratuito STOP Procrastinação. O objetivo é lançar um novo produto mensalmente. Para os meses seguintes já estão a ser produzidos novos conteúdos.
– Tudo se passa online… Mas a presença humana num processo terapêutico pode ser substituída por um mundo virtual?
Para já tudo se passa online, mas criamos alguma interação direta seja com os grupos privados no telegram exclusivos para os participantes de cada curso/programa seja com alguns diretos que estão incluídos, assegurados pelos formadores. No fundo a ideia é poder existir uma componente também ao vivo e a cores da Academia Transformar, em eventos e formações para o público em geral e para empresas.
Diria que a presença física real não pode ser substituída por uma presença num ecrã, mas uma presença de qualidade através de um ecrã pode ser terapêutica e fomentar mudanças reais. A nível de intervenção individual, desde que 2012 que asseguro consultas em formato online no sentido de ultrapassar barreiras geográficas. Por isso o meu contacto com este formato e a experiência da minha equipa em intervenções à distância, constituíram uma mais valia nesta era Covid. O feedback tem sido muitíssimo positivo e não substituindo o contacto ao vivo e a cores, colmata muito bem essa impossibilidade. Existem pessoas cujas dinâmicas de vida não lhes permite agendar sessões ou frequentar formações em horas ditos standard. Por isso a vantagem de facilitarmos um conteúdo digital de qualidade é que é possível explorá-lo e integrá-lo em qualquer dia e hora da semana, em qualquer espaço, seja durante 10 minutos seja durante mais tempo.
– De que forma, no seu trabalho, se tem deparado com problemas associados ao contexto de pandemia e de confinamento? Quais são as queixas mais comuns?
Têm surgido muitos problemas neste contexto, sejam reativos a estas circunstâncias sejam já pré-existentes e agravados agora neste enquadramento Problemas como distúrbios do comportamento alimentar, dependências, perturbação obsessivo compulsiva, humor deprimido, perturbação de ansiedade e burnout. As queixas físicas mais frequentes passam por fadiga, diminuição de energia e vitalidade, alterações de sono, apetite e peso, e enxaquecas. As queixas emocionais e psicológicas mais comuns passam pela sensação de isolamento, de exaustão, de preocupação permanente, de obsessão com a limpeza e desinfeção.
– Como coach e psicóloga, que conselhos nos pode deixar sobre a melhor forma de lidarmos com uma situação tão dura como esta?
Em primeiro lugar esta situação dura constitui também uma oportunidade de olharmos mais para dentro. E isso é um convite a melhorarmos a nossa capacidade de auto-observação. Quando passamos os dias em modo fazer, sentimos pouco. Há que por isso dedicar alguns momentos a reconhecer o que estamos a pensar, a sentir e a experienciar fisicamente. Há que desenvolver o nosso vocabulário emocional e a nossa atenção plena para irmos respondendo de forma eficaz e adaptativa às várias necessidades do nosso corpo e do nosso cérebro, físicas e emocionais. Quando se troca a culpa, o piloto automático e a distração por compaixão, curiosidade e atenção focada construímos bases importantes para a nossa saúde e bem-estar.
Esta crise oferece-nos também a oportunidade de nos focarmos mais no que controlamos e menos no que está fora do nosso campo de ação. A vulnerabilidade acrescida que sentimos e a percepção mais próxima de finitude também constituem um convite a cuidarmos melhor da nossa saúde, porque afinal só temos um corpo onde habitamos ao longo da nossa vida. Muitas pessoas estão a colapsar com esta pandemia, mas muitas também se estão a reerguer, estão a fazer mudanças, a escolher noutras direções.
– Quando, finalmente, regressarmos ao normal, prevê mudanças na Transformar? Se sim, quais.
Prevejo que algumas ações da Academia possam se concretizar no plano presencial, de forma complementar ao online. Prevejo que a comunidade continue a crescer e que os contributos se multipliquem.