Durante muito tempo, demasiado tempo, imperou uma romantização das primeiras semanas (meses?) de um bebé. As dificuldades, as dores, as lágrimas – de felicidade e de dúvidas ao mesmo tempo – não eram partilhadas, deixando a maioria das mulheres a acreditar que aquilo que estavam a viver, no momento mais transformador das suas vidas, era um exclusivo seu. O que, neste caso, só representa um peso acrescido a um período já de si muito específico. Porque a viagem que se inicia quando um bebé dá o primeiro choro, acabado de nascer, encerra em si a grandiosidade de tudo o que arrebata o coração. E estando ele num lugar de maior fragilidade, por ter a vida a acontecer diante de si, é natural que escale a matemática das emoções.
Numa tentativa de demonstrar o pós-parto tal como ele é – com a ressalva de que cada experiência é única e diferente entre si, mesmo quando a mãe é a mesma – pedimos a Mia Relógio que partilhasse com a ACTIVA os sentimentos destas primeiras duas semanas. Num testemunho repleto de verdade e de amor, Mia, que foi mãe de Emília no dia 28 de outubro, mostra porque este é o período mais intenso e maravilhoso de todos:
“É importante dizer que partilho este desabafo ainda só com duas semanas de uma realidade pós-parto. Tenho a certeza que ainda irei viver e ultrapassar muita coisa durante este primeiro mês.
É igualmente importante referir que cheguei ao momento do parto num estado de exaustão muito grande. Os últimos tempos de gravidez foram muito duros para mim, tanto física como psicologicamente. Queria ter chegado cheia de força àquele que era o momento pelo qual esperei tantos anos, com mais calma, mais tranquilidade, porque sabia que o início de tudo isto era muito exigente.
Sonhei muitos anos por este momento. Na verdade, houve uma altura em que tentei preparar-me para que ele nunca chegasse. Sabia que ia ser feliz mesmo que nunca o vivesse mas, agora que é real, que sei o que significa ser Mãe, agora penso: ainda bem que consegui. Ainda bem que o sonho virou realidade. Sonhei tantos, mas tantos anos com esta filha, mas nunca a imaginei tão perfeita. Nunca imaginei sentir tanta coisa tão forte e tão bonita ao mesmo tempo. Mesmo com todas as novas rotinas e adaptações a uma vida que, até agora, eu desconhecia, tem sido uma viagem incrível. Com a Emília nasceu também uma nova Mia. É uma fase muito exigente a vários níveis mas muito gratificante. Levo ainda apenas duas semanas de maternidade mas já não trocava esta minha nova vida por nada.
O maior desafio… O primeiro de todos foi quando olhei o meu corpo pela primeira vez. Não me reconheci e confesso que não estava preparada. Nunca pensei sair da maternidade de barriga lisa, mas também não achava que fosse parecer ainda trazer uma criança comigo, aqui dentro… Chorei muito nesse dia, enquanto o Diogo me dava banho… Já em casa e de noite, deu-se a descida do leite… Mais uma vez não estava preparada para que me custasse tanto, tudo isto com as dores de quem ainda estava a recuperar do parto, foi duro, muito mesmo. Tinha a minha filha no meu peito e eu só conseguia chorar… Senti-me perdida, só queria fechar os olhos e que tudo passasse o mais rápido possível. E reconheço a sorte que tenho já que pude contar com a ajuda da Enfermeira Carmen, com quem já tínhamos feito o curso de preparação para o parto. Mas é tudo novo, são muitas coisas novas que só quando as vivemos conseguimos entender.
O pós-parto é um período muito delicado, no qual necessitamos do maior apoio familiar para que seja possível vivenciar da forma mais tranquila a maternidade. É importante que o casal funcione como equipa, que cuide também um do outro, para que juntos possam cuidar da bebé. Não me canso de repetir que o papel do Diogo, desde o dia em que soube que estava grávida, além de muito importante, tem sido incrível.
Percebo agora o quão fácil é cair numa depressão, estamos fragilizadas, sensíveis, cansadas, sentimos dores… E tantas vezes oprimimos tudo isto, achamos que temos de ser super mulheres e que somos capazes de tudo. Mas não somos. É importante pedir ajuda, é importante verbalizar o que sentimos. É importante não esquecermos a mulher que éramos antes de sermos mães.
Levo duas semanas do melhor do mundo. O melhor da vida começou agora, com o nascimento da Emília. Sim, as noites sem dormir são duras, o dia a mudar fraldas e a dar leitinho pode ser cansativo, de tão repetitivo que é, mas é a viagem mais bonita e mais maravilhosa que alguma vez vivi. O amor que tenho pelo Diogo, que já sentia como impossível de crescer, transbordou. E é nesta imensa bolha de Amor que quero e irei viver nos próximos tempos.”