“Eu queria garantir que ninguém passava pelo que passei. E queria que o Lyon soubesse que não é OK. Isto não é só negócio. Isto é sobre os meus direitos como trabalhadora, como mulher e ser humano. Merecemos melhor.” é assim que Sara Gunnarsdóttir termina a carta publicadada no “The Players Tribune”, cujo título é “O que aconteceu quando engravidei” e que conta a sua luta contra o clube francês Lyon, que deixou de lhe pagar os salários quando ficou a par da sua gravidez,
Quando descobriu que estava grávida, em março de 2021, Sara Gunnarsdóttir nunca pensou que aquele que deveria ser um dos momentos mais bonitos da sua vida se tornaria num pesadelo, única e exclusivamente por causa da sua entidade patronal.
Se no ínício, depois de confrontados com a sua gravidez, os dirigentes e equipa técnica da equipa francesa pareceram ter reagido com naturalidade e aceitado que Sara interrompesse a época e viajasse para a Islândia, onde, junto da família, iria viver a sua gravidez – o clube chegou mesmo a dar-lhe os parabéns publicamente através das redes sociais -, a verdade é que o aconteceu foi exatamente o contrário. O clube abandonou-a e o salário não entrou na sua conta. Primeiro achou tratar-se de um engano, até perceber, no mês seguinte, que ele não voltaria a ser depositado, vendo-se obrigada a recorrer às suas poupanças pessoais.
Contactado pelo agente da futebolista, de inicio o clube não deu qualquer resposta. Só mais tarde, através do seu diretor-desportivo é que anunciou que não lhe pagariam mais nada e que estavam a agir de acordo com a lei francesa. Mas Sara Gunnarsdóttir também sabia que tinha do lado dela as recentes leis da Fifa em prol da maternidade, que tinham entrado em vigor precisamente em janeiro desse mesmo ano. E, de acordo com as mesmas, está garantida uma licença de maternidade mínima de 14 semanais, sendo que pelo menos oito devem ser gozadas logo depois do nascimento do bebé, e estão também assegurados no mínimo dois terços do salário.
Começa então uma guerra sem precedentes, com os sindicatos, entre eles o FIFPro – Federação Internacional dos Jogadores Profissionais de Futebol – e os dirigentes do Lyon metidos ao barulho. Quando estes últimos são avisados pelos representantes de Sara que, caso pagassem os devidos saláros, eria feita uma queixa à Fifa, os responsáveis do Lyon ameaçam com o fim da sua carreira no clube francês: “Se a Sara for para a FIFA com isto, não terá futuro no Lyon, de todo”, avisaram.
Truste, mas sem medo e orgulhosa da sua gravidez e do menino que ia nascer, Sara avançou com a queixa. “Só queria desfrutar da minha gravidez, (…) mas em vez disso sentia-me confusa, stressada e traída”, admite na carta agora publicada. Seis meses depois do nascimento de Ragnar, Sara regressou a Lyon mas já nada foi igual e, segundo a futebolista, fizeram sempre de tudo para a fazer sentir que aquela criança era um estorvo e um impedimento. Naquela altura o diretor desportivo disse-lhe mesmo que não era uma questão pessoal mas que [o futebol] se tratava de um negócio.
Em maio último, a FIFA reconheceu como válidas as razões de Sara e obrigou a equipa francesa a pagar o que devia. Sara deixu o clube e hoje defende as cores dos italianos da Juventus, onde voltou a sentir alegria por fazer o que mais ama. Hoje, Sara, que contou sempre com o apoio do seu companheiro, Árni , também decidiu partilhar a sua história e com ela inspirar outras mulheres, outras atletas: “A vitória foi maior do que eu. Serve como uma garantia de segurança financeira para todas as jogadoras que queiram ter um filho durante a carreira”, rematou.
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