Vivemos tempos controversos em que a liberdade de género, a igualdade e a diversidade de pensamento — de todas, a mais importante — lutam lado a lado contra o regresso de ideais extremistas, radicalismos e políticas conservadoras fechadas.
Esta forma de estar na vida, cada vez mais desigual, reflete-se diretamente no mundo do trabalho, cada vez mais feroz e cheio de incertezas, onde a aclamada escassez de talento coabita com o tratamento diferenciado entre géneros.
Alguns mitos acompanham as mulheres na gestão das suas carreiras, e precisam de ser desmitificados e questionados, para podermos fazer diferente, fazer melhor.
Mito: as mulheres não negociam
A negociação no âmbito da gestão de carreira tende a ser um tema delicado e no qual existem sempre resistências. Existe um estereótipo ancestral que leva muitas entidades patronais a acreditar que as mulheres não necessitam de salários tão elevados como os homens, uma vez que, tradicionalmente, não eram a principal fonte de rendimento nas suas famílias. Estes empregadores esquecem-se de que o modelo familiar mudou drasticamente nos dias de hoje.
Para promover a igualdade de género, é extremamente importante que as mulheres tenham tanto potencial para negociar o seu salário quanto os homens e que o acesso à negociação lhes seja dado. Igualmente, deve terminar-se com a crença coletiva de que não é de bom-tom que as mulheres possam discutir as suas condições laborais, de forma a alcançar um maior equilíbrio entre responsabilidade-função- salário.
Muitas mulheres profissionais abordam as negociações de carreira com apreensão e até medo, temendo reações sociais e familiares, e tendo receio de ser alienadas pelos colegas de trabalho ou serem desconsideradas nas equipas de trabalho. Em geral, devemos resistir ativamente a condicionar o nosso comportamento com base nas expectativas dos outros.
Ideias ancestrais como, por exemplo, “As mulheres devem ser modestas nas suas ambições”, devem ser combatidas. As mulheres devem ter claro na sua mente os seus objetivos de carreira, quais são as oportunidade de progressão, bem como as atribuições, responsabilidades e pagamento justo face à carreira onde se inserem.
Embora as empresas tenham a responsabilidade de tornar as suas práticas de negociação mais equitativas, também existem estratégias que as mulheres podem usar para reduzir o risco de reação negativa e aumentar as suas hipóteses de sucesso nas negociações.
As melhores práticas de negociação sugerem fazer duas coisas para ser mais persuasiva e construir bons relacionamentos:
- Explicar os motivos para o seu pedido ser apropriado e justificado;
- Enquadrar os motivos para a sua proposta servir os interesses de ambas as partes, sendo uma mais-valia para todos.
Estamos num momento sem precedentes para as negociações e ascensão de carreira das mulheres na sociedade. Se as mulheres ficarem confinadas às expectativas de género serão ultrapassadas. Não podemos deixar que mitos sobre género condicionem a negociação e atrapalhem a co-criação de um futuro de trabalho mais igualitário e repleto de inovação.
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