Licenciada em Arquitetura e Mestre em Gestão, Inês Carrilho de Almeida tem na Moda a sua verdadeira paixão e a força que a levou a criar uma das marcas portuguesas de beachwear mais icónicas do mercado. Hoje, dez anos depois do surgimento da Type, continua a fazer crescer este sonho que tem identidade própria e que se guia por valores bem definidos, onde a beleza está em todos os corpos e a preocupação ambiental é uma realidade. De mãos dadas com o empoderamento feminino, Inês Carrilho de Almeida há muito que faz a diferença numa indústria onde os padrões do que é belo eram – e ainda são – muito limitados. Mas sem medo de derrubar barreiras e de criar novos caminhos, a empresária continua a erguer este sonho que a realiza e que tem feito a diferença na vida de tantas mulheres e na forma como olham para si.
A Type é o produto de um sonho e quem conhece a marca reconhece-lhe, inevitavelmente, o sucesso. Mas, para lá do que se vê, de que se fizeram estes dez anos de lutas e conquistas?
Estes últimos dez anos fizeram-se em busca do sonho de tornar a Type uma marca de referência no mercado de swimwear, não só em Portugal, mas no mundo. A luta fez-se com muito mais derrotas do que conquistas e, pelo caminho, aprende-se muito. Desde a busca dos melhores fornecedores ao atendimento ao cliente, os desafios são diários.
O êxito vem sempre acompanhado de muitos sacrifícios?
Muitos. Aprendi muito sobre espírito de sacrifício no meu curso de Arquitetura. Foi essa etapa que me preparou para a montanha russa que é gerir uma empresa. Mas, ao mesmo tempo, adoro desafios, e aquilo que me faz pular da cama todos os dias é saber que a margem de crescimento é gigante e que o céu é o limite.
Nesse equilíbrio nem sempre linear, a família desempenha um papel fundamental de apoio, força e porto de abrigo?
Desempenha claro. Não me lembro da minha vida antes de ser mãe. Sempre geri muito bem a vida familiar e profissional, até porque não conheço a realidade de uma vida profissional sem família. Fui mãe com 18 anos, no ano em que entrei na universidade. Quando criei a Type, tinha um filho de um ano. A minha família sabe que o meu trabalho implica estar 24/7 ligada e vive muito bem com isso. O meu marido tem um papel fundamental quando eu tenho bloqueios e é, muitas vezes, em conversa com ele, que encontro soluções. E o meu pai é o meu orientador, é a ele que ligo quando preciso de tomar decisões.
Como se gerem as alturas em que sente que dá mais à marca e em que, se calhar, não está tão presente no seu seio familiar?
Gerem-se com conversa, explicando que o trabalho da mãe exige muita dedicação e tempo e que estou a trabalhar para um objetivo muito grande. Encaro sempre o trabalho como uma coisa positiva e desta forma eles sabem que eu estou feliz a trabalhar. O meu filho mais velho, com 13 anos, já vibra muito com as minhas conquistas e a minha filha mais nova, com sete, é modelo da coleção kids.
Estando agora a marca numa fase de maturidade, como define o ADN da Type?
A Type é uma marca com um propósito, sendo esse o nosso ADN – fazer as mulheres sentirem-se bem na sua pele através das nossas peças. Acreditamos que através da representatividade de todos os tipos de corpos, com uma estética cuidada e apelativa, no diálogo que temos com as nossas clientes, podemos contribuir para a mudança dos padrões de beleza que nos foram impostos durante anos.
No que diz respeito ao ADN estético da marca, temos alguns modelos que marcam a nossa identidade, como o modelo Greta feito a partir de desperdício de tecido do corte de coleções anteriores com a técnica macramê e o modelo Marmols, com corte triângulo básico com uns lacinhos amovíveis nas alças e com umas cuecas que criam uma silhueta perfeita.
Esta é, de facto, uma marca muito focada nas mulheres e em desmistificar as inseguranças associadas ao corpo feminino. Era fundamental para si criar algo que representasse todas as mulheres?
Foi exatamente isto que me fez criar uma marca de biquínis. Por ser um produto que traz tanta insegurança às mulheres, há muito trabalho a fazer no sentido de quebrar inseguranças que surgem fabricadas por uma sociedade de estereótipos.
De que forma é que as marcas podem ajudar a mudar a narrativa em relação ao que é belo?
Fazendo belo aquilo que as pessoas não sabiam que era, porque nunca viram. Queremos inspirar as mulheres a sentirem-se confiantes, independentemente do seu tipo de corpo. A beleza está aí, em perceber que a mudança de atitude é determinante no reconhecimento daquilo que é belo.
Na Type também existe uma preocupação ambiental latente. Ser uma marca sustentável e com valores ambientais não é uma moda, mas sim uma urgência?
Certo. Na indústria da moda, a utilização de plástico nos vários processos e o desperdício gerado são fatores que precisam de atenção urgente.
Foi fácil encontrar o vosso caminho neste âmbito?
Não é fácil tornar todos os processos sustentáveis e encontrar matérias-primas de qualidade com uma pegada ambiental menor. A qualidade é um fator que priorizamos porque a durabilidade é o melhor amigo da sustentabilidade. E nos processos do dia-a-dia, abolimos totalmente a utilização de plástico e reutilizamos 80% do desperdício gerado. É um ponto de partida, não a meta.
Em que sonhos trabalha diariamente para tornar a Type em tudo o que deseja?
Trabalhamos diariamente para dar o salto para o mercado internacional. Portugal é o país que nos viu crescer, mas é muito pequeno para suportar a sazonalidade deste negócio. O maior sonho de todos vai-se realizando no dia-a-dia com o feedback das nossas clientes, quando percebemos que estamos a conseguir inspirar várias mulheres a ir para a praia e desfilar com confiança pelos areais fora.